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Jovens distribuem cobertores para moradores de rua

Estudantes do Colégio Anchieta, em São Bernardo, criaram projeto que busca ajudar população carente com doação ou simples conversas

Nelson Donato
Especial para o Diário
07/11/2016 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Quem anda pelas ruas e praças do Grande ABC já se acostumou com a visão de vários cobertores empilhados sobre bancos e calçadas da região. A visão é tão comum a ponto de nos fazer esquecer que debaixo dessas pilhas muitas vezes estão moradores de rua que por opção, ou por descaso das autoridades, vivem às margens da sociedade.

Foi pensando neste grupo de pessoas que vivem nas ruas que estudantes do Colégio Anchieta, em São Bernardo, criaram o projeto ABC Invisível, iniciativa que busca em pequenos gestos, como doação ou simples conversas, melhorar a vida de indivíduos que, em muitas situações, são vítimas do descaso do poder público.

Na quinta-feira, os alunos Isabelle de Almeida Teles, 16 anos, Matheus Fleming Fisher, 17, e João Pedro Surcalo Healt, 15, aguardaram ansiosos o término das aulas. Isso porque, no início da tarde, eles se reuniram no pátio da escola para preparar os 40 cobertores arrecadados junto aos colegas e professores que seriam doados a um grupo de moradores de rua concentrado no Centro de São Bernardo.

Durante o trajeto – cerca de um quilômetro e meio –, os jovens carregaram além dos cobertores, a esperança de futuro melhor para o País.

A conversa entre eles girou em torno das experiências vividas durante outras duas ações do projeto já realizadas, na qual Isabelle e Matheus participaram, e das expectativas de João ao ingressar no grupo pela primeira vez. Além dos três, outra participante da ação é a assistente social Sofia Carvalho, 27.

Ao chegar nos pontos em que os moradores de rua ficam concentrados, o grupo os aborda para oferecer os cobertores. No início, alguns ficam desconfiados, já que as tratativas respeitosas são raras para quem vive nas vias de São Bernardo. Porém, mesmo em meio às condições adversas, sorriem ao receber as doações e abençoam os estudantes pela gentileza.

Isabelle, uma das idealizadoras do projeto, conta que a iniciativa surgiu durante ação promovida no Colégio Anchieta. “Nós tínhamos que fazer um programa de ativismo social. Pensamos no que mais nos incomodava e logo veio à cabeça a tristeza e os maus-tratos que os mendigos sofrem. No início, pensamos em promover um jantar, para que eles conversassem e contassem suas histórias, mas era inviável e por isso decidimos iniciar as doações.”

Apesar da beleza do trabalho humanitário praticado pelo grupo, em muitos momentos a dura realidade é exposta. A estudante conta que nas outras duas ações do ABC Invisível, uma moradora de rua chamada Maria Estela recebeu as doações e contou parte de sua vida. Estudante de Direito, ela abandonou o curso e a família por conta do vício em drogas.

Ao chegar na Praça Brasitália, na região central da cidade, local onde Maria geralmente ficava, Isabelle foi surpreendida pela notícia de que ela foi presa recentemente. “É difícil acreditar. Estou chocada. Ela fica na rua, tem vício, mas não é má pessoa. É só mais uma vítima do descaso das autoridades”, lamenta.

O empenho de Fisher durante a ação é visível. Ele não se importa em carregar os cobertores por longas distâncias e sempre que possível, busca ajudar aqueles que precisam. “É complicado. Vendo essas situações percebemos que temos muito e ainda assim reclamamos. Os sonhos que mais ouvimos aqui é sobre o desejo de sair das ruas. Mas, infelizmente, nem todos conseguem.”

Já Healt não escondia a satisfação de participar da iniciativa pela primeira vez. “É uma sensação muito boa. Faz bem para nós também. Presenciar a situação dessas pessoas é um verdadeiro choque, mas é igualmente compensador poder ajudar, mesmo que seja apenas com um cobertor ou um lanche.”

 




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