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Mistérios e verdades
sobre o trem da morte
Luciane Mediato
Do Diário do Grande ABC
03/07/2011 | 07:04
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Uma viagem de trem poderia ser algo completamente normal e cotidiano, mas quando se trata do trajeto Quijarro a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, a história passa a ser repleta de lendas. O percurso, que começa já na linha férrea brasileira, em Corumbá, Mato Grosso do Sul, emprestou o ‘apelido' do meio de transporte que o percorre e ficou conhecido como 'Trem da Morte'.

Para desvendar os mistérios que rondam a viagem, a jornalista andreense Thaís Sabino, 23 anos, lança neste mês o livro 'As Vozes de Uma Lenda - Da Fronteira ao Oeste (Multifoco, R$ 40, 256 pág.).

A jornada de Thaís começou quando soube que uma amiga tinha ido para a Bolívia de avião, mas a jornalista queria saber mesmo era sobre a viagem de trem. "Cheguei em casa e fui pesquisar o porquê do nome e a história do local. Mas não encontrei nada, só conseguia relatos de mochileiros", explica.

Insatisfeita com a falta de informações, não parou. Resolveu buscar o que queria nas ruas. "Fui em uma feira de bolivianos perto do Metrô Santana e conversei com eles sobre o trem. Minhas entrevistas começaram já aqui em São Paulo. Conheci uma mulher que fazia esse percurso toda semana", lembra.

Depois de muitas pesquisas, a jornalista embarcou em 2009 para Corumbá, determinada a descobrir não apenas a história do 'Trem da Morte', mas o real motivo de sua má fama. Foram 22 horas de muitos causos de viagem até o destino.

"Nas entrevistas e relatos que li já haviam me preparado para o que iria passar. No começo fiquei surpresa com a sensação de estar no meio do nada. Existem apenas pequenas vilas no mato que são formadas por famílias dos herdeiros que ajudaram a construir o local. São casinhas na beira dos trilhos e, todas as vezes que o trem parava, crianças entravam nos vagões vendendo limonada e comida. É triste presenciar situação que parece tão comum, já que os adultos não entram no trem. Só as crianças. Acredito que se um dia deixar de existir a viagem, esses lugares podem desaparecer do mapa. É uma terra de ninguém", define.

No caminho, além de descobrir que o trajeto é menos perigoso do que imaginava, a jornalista viu que o risco de assaltos e acidentes se devia à falta de infraestrutura dos vilarejos em que se localizam as paradas. "Antes de embarcar, todos com quem conversei me orientaram a não descuidar da bagagem. Na viagem, o trem ficou parado por duas horas no meio da noite, sem iluminação. Perguntei ao maquinista o que ocorreu e ele explicou que o trem havia descarrilado. Fiquei com medo do que poderia acontecer. Mas não é nenhum filme de terror", diz.

A conclusão de Thaís sobre a viagem é que se trata de lenda construída pelos viajantes. "Não existe uma única razão e nem explicação para o nome, mas muitas histórias a contar."

Por trás da má fama

O trem começou a ser construído em 1912 e entrou em funcionamento na década de 1950. Vinte anos após sua inauguração, a linha ficou conhecida como o 'Trem da Morte'. O veículo percorre mais de 600 quilômetros.

Muitas teorias e suposições se criaram para justificar o nome que apelidou o trecho boliviano. Na época, o país passava por forte crise econômica. Por isso, o trem era palco de brigas e assaltos. Essa é uma das hipóteses que explicariam a péssima reputação do meio de transporte.

"Na viagem, ouvi várias histórias que justificavam o nome. Uma delas relata ataque de índios à locomotiva. Como as janelas não tinham vidros, as flechas feriam muitos passageiros", conta Thaís. Para ela, três histórias são plausíveis. A primeira é essa.

Existe ainda uma versão mais atual, ambientada na década de 1980. Muitos estudantes bolivianos viajavam pelo trem para ir e voltar do país, mas como nem todos conseguiam comprar a passagem, alguns viajavam no teto e sofriam acidentes.

"A terceira está relacionada com os assassinatos e tráfico de drogas. Durante um tempo, correu a lenda de que os traficantes usavam os trilhos e trem para transportar a mercadoria", explica.

Outra teoria exposta nos livros afirma que a origem do nome vem do tempo de demora da viagem no início das operações do trem, aproximadamente uma semana. No caso de uma criança adoecer, morreria, pois não chegaria a tempo a um hospital.

Uma explicação também popular é de que o trem fora utilizado para transportar infectados pela febre amarela, durante forte epidemia.




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