Economia Titulo Compulsórios
Instituições financeiras dificultam crédito a empresas

Apesar dos R$ 56 bilhões oferecidos pelo governo, estímulo não chegou ao bolso dos empresários

Por Bárbara Ladeia
Do Diário do Grande ABC
19/11/2008 | 07:00
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Apesar dos R$ 56 bilhões oferecidos pelo governo federal somente com a liberação dos compulsórios, os empreendedores dizem que esse estímulo não chegou ao bolso do empresário. Nem as recomendações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm sido acatadas, porque as instituições financeiras não desaceleraram as taxas de juros nem estão facilitando a concessão de empréstimos.

A percepção não é puramente especulativa. Levantamento da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) junto a 35 grandes empresas apontou que 55% delas sentiram dificuldades na contração de créditos bancários assim que a crise financeira internacional se agravou.

Em levantamento informal feito por Décio Milani, da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), a alta se confirma. A média dos juros sobre empréstimo à pessoa jurídica, que já foi de cerca de 3,7% ao mês em agosto, bateu 4,43% em outubro.

"Vejo muito exagero nessa hora tão complicada", lamenta o economista do Corecon (Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo) Roberto Troster. Para ele, apesar de haver "motivo para pânico", o cenário não tem justificado tamanha aceleração nos juros e nas exigências bancárias. "Estão quase todos cobrando muito mais caro para menos crédito.Vejo um tremendo exagero nas taxas."

Walter Moura, diretor da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo) diz que empresários da região também enfrentam dificuldades em manter seus investimentos na produção. "A questão é a mesma de sempre. Os bancos emprestam dinheiro apenas para aqueles que não precisam", critica o dirigente.

O pior dos temores fica para o início do próximo ano, período em que a economia costuma estar desaquecida. "A partir de janeiro, tudo ficaria normal. Se os bancos não abrirem maiores possibilidades de empréstimo, vamos ver a recessão começar pela indústria, que pára de produzir e demite", acredita Moura.

Se os empresários do Grande ABC reclamam do peso dos juros na melhor época do ano, em que o 13º salário e as festas aquecem o mercado, o início de 2009 promete mais tensão. Carregado de tributações e desânimo, o primeiro trimestre é, historicamente, o pior para os negócios. "Se o governo não tiver planos para nós, vamos ver o caos. A crise só não chegou ainda porque estamos na melhor fase do ano", afirma Mauro Miaguti, diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo. "A maioria dos associados reclama que o crédito está cada vez mais caro e escasso."

A taxa Selic em 13,75% pode mostrar a trajetória dos valores dispensados pelo governo federal. Para Shotoku Yamamoto, diretor da regional do Ciesp de Santo André, é natural que as instituições financeiras se interessem mais pelo governo. "É claro que investir na compra de títulos públicos é melhor que arriscar na concessão de empréstimos a possíveis inadimplentes."

Para ele, os bancos não são os únicos a não querer repartir o bolo financeiro da República. Yamamoto cita também as montadoras que já receberam R$ 8 bilhões e ainda não "aliviaram a vida" de seus parceiros. "Elas não espalham o benefício, pagando, por exemplo,os fornecedores mais cedo."

A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) foi procurada, mas não quis comentar o assunto.

Restrições atrapalham planos das empresas

Depois de praticamente secar em meados de outubro, o crédito voltou a circular na economia brasileira nas últimas semanas. Engana-se, porém, quem pensa que a mudança é suficiente para contentar os clientes, principalmente as empresas. Quem precisa de empréstimos no dia-a-dia reclama do custo mais alto, do aumento das restrições e diz que o nível ofertado é inferior ao de setembro.

"O máximo que se vê é a renovação (das linhas que já existiam)", afirma o presidente da seguradora de crédito Coface, Fernando Blanco. "A melhora é insuficiente", emenda o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

A questão, portanto, tem um foco diferente. Não se trata mais de discutir se o crédito voltará, mas como está voltando, já que o custo de vida aumentou. Segundo o levantamento, 60% das companhias informaram que está mais caro tomar dinheiro emprestado. A entidade apurou que o custo médio dos financiamentos subiu 56% entre janeiro e novembro. "Isso sufoca as empresas", queixa-se Skaf.

Para alguns especialistas, não há justificativa para que as restrições e os juros cobrados pelos bancos tenham aumentado tanto. "Ser mais precavido é uma coisa, aumentar as taxas desproporcionalmente é outra", diz o sócio da Integral Trust e ex-economista-chefe da Febraban, Roberto Troster. "(O Banco Central) tem de ver se há justificativa para os juros em determinadas situações. Sou contra tabelamento, mas, com abusos, durante algum tempo, pode ser adotado." Troster e Skaf temem os efeitos das restrições na economia real. "Os dias estão passando e, se queremos evitar um impacto maior da crise no Brasil, precisamos de custos mais acessíveis", diz o presidente da Fiesp. (Da AE)




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