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Caminho da cor
06/09/2008 | 07:07
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A mostra de Beatriz Milhazes na Estação Pinacoteca é um panorama preciso da produção da artista carioca dos anos 90 para cá. Não uma retrospectiva. "Ao mesmo tempo, é uma reflexão sobre a história de minha pintura", diz a pintora, ela mesma impactada com a oportunidade de ver, depois de 25 anos de carreira, uma reunião enxuta (são 30 obras, entre pinturas e poucas colagens), mas que traça uma "idéia pontual" sobre os caminhos que foi tomando em suas composições.

As cores se tornaram cada vez mais o ponto vibrante de sua obra, atrativa para um público amplo e um sucesso de mercado - inevitável lembrar que neste ano uma tela da artista foi arrematada por US$ 1,049 milhão em leilão em Nova York.

Essa é a primeira exposição individual de Beatriz Milhazes em uma instituição em São Paulo. A artista já esteve por vezes em edições da Bienal e volta e outra suas obras participam de mostras coletivas na cidade, mas somente agora, nas amplas salas da exposição que ela inaugura hoje na Estação Pinacoteca, com curadoria de Ivo Mesquita (curador-chefe do museu), é que suas grandes telas ganham respiro para poderem ser contempladas de uma maneira até antes inusual (11 das obras nunca haviam sido expostas no Brasil).

"O argumento é a possibilidade contemporânea da pintura como colagem, que é o que ela faz. Seu processo é de acumulação, de camadas de sobreposições dentro de um raciocínio programático", afirma o curador.

Dentro desse argumento, não se abriu a porta de sua produção da década de 1980. "Se a abrisse, não daria para largar aqui", diz Beatriz, artista da chamada Geração 80. "Meu trabalho é muito técnico e a produção dos anos 80 tem uma certa carência da solução plástica, que era mais variada e menos identificada", argumenta a artista.

A pintura de colagem de Beatriz se refere ao fato de artista não pintar diretamente sobre a tela - "há sempre o distanciamento de minha mão", diz -, mas, na verdade, usar de uma técnica de aplicações e decalques de todos os elementos figurativos e compositivos.

No passar da mostra, não cronológica e que vai privilegiando "contrastes e conversas próximas" entre as telas, percebe-se a passagem lenta em que sua pintura foi deixando o caráter ornamental para chegar ao ponto de a artista usar de uma figuração que vai para os termos do abstrato - porque nas últimas obras, há uma presença de uma caráter gráfico, as linhas (e quadrados) sobressaem e a cor, que ficou tão vibrante, cria tanta tensão entre os elementos que "cada um deles luta para existir".

"Nos mais antigos, os elementos convivem mais", diz a artista - e é interessante ver uma certa pureza das cores e telas até que privilegiam uma composição cromática mais rebaixada (um quadro sem título de 1993 é branco).

Nessa mostra, também, Beatriz expandiu sua pintura para o espaço arquitetônico com a obra Bailinho, em que fez composições com vinil para os vidros das 10 grandes janelas de uma das salas do museu.

Beatriz Milhazes - Exposição individual. Na Estação Pinacoteca - Largo General Osório, 66, Luz, tel.: 3337-0185. De ter. a dom., das 10h às 18h. Ingr.: R$ 4 (sábados, grátis). Até 30 de novembro. Abertura hoje, 11h, para convidados.




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