Cultura & Lazer Titulo Literatura
Contrastes do povo
da Guatemala é
tema de romance

Rodrigo Rey Rosa lança Os Surdos, no qual investiga as várias esferas sociais de seu país

Por Thiago Mariano
03/06/2013 | 07:00
Compartilhar notícia
Divulgação


Em uma terra cravejada de belezas naturais, o céu azul, o mar cristalino e o gigante lago Atitlán emolduram uma paisagem de contrastes humanos. Três onipresentes vulcões costuram a cena. Estamos na Guatemala, pelos olhos de Rodrigo Rey Rosa em seu novo romance, 'Os Surdos' (Benvirá, 264 págs., preço médio R$ 30).

A obra, praticamente um thriller policial, nos coloca em contato com o país por trás das belezas naturais, passeia fundo pela história de sua gente em uma narrativa ágil, que dispensa muletas e artifícios. A ancestral cultura maia, séculos depois da dominação espanhola, ainda em confronto com o modo de vida imposto pelos novos moradores da terra. A crescente onda de violência local criando sistemas próprios de segurança, incitando um paralelo e arbitrário mercado de guarda-costas, o que só faz aumentar a brutalidade.

Paisagem e violência viram pano de fundo na trama que está prestes a modificar a vida de dom Claudio, um rico banqueiro com horror do país onde vive, que pretende, ao morrer, legar todo seu tesouro à filha Clara e vê-la longe da Guatemala.

Acuado após receber algumas ligações anônimas em seu telefone mais secreto, o que nunca toca, dom Claudio decide contratar um segurança particular para Clara. A missão fica a cargo do jovem Cayetano, um exímio atirador sobrinho de um esperto guarda-costas que trabalha para o banqueiro.

Obrigado a acompanhar Clara para onde quer que ela vá, Cayetano é um elo entre o interior guatemalteco e o contemporâneo  – e perigoso – modo de vida da capital. Clara é uma mulher de 40 anos, solteira, que estuda, frequenta a alta sociedade e pretende fazer trabalhos beneficentes, um tipo que, ao longo da história, vai se mostrar mais amorfa do que parece ser.

Durante uma folga do segurança, Clara desaparece. Enquanto tenta resgatar a patroa, Cayetano desbrava o mundo que o circunda, passa a entender melhor a essência que forjou os ricos e os pobres do seu país, os honestos e os corruptos. Convive com diferentes meios de justiça, o ocidental e o maia.

A escrita de Rosa flui rapidamente. Um acontecimento sucede o outro diretamente e o fio da meada nunca é perdido. O universo é visto pelos olhos de cada um dos personagens. Os índios e sua trajetória e pensamento são debatidos pelos ocidentais que conhecem sua cultura. O escritor poderia, no ensejo de recriar a verdade do seu país, ir um pouco mais fundo nesta questão. Ele, que já traçou um ótimo panorama dos tempos de guerra civil na Guatemala em 'O Material Humano', talvez falte com muitos aspectos de um dos lados da história. Mas o fundamental, a tarefa de discutir a Babel de interesses onde cada um está surdo para o que o outro tem a dizer, está cumprido. E com louvor. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;