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Álcool: exportação é a vilã da vez
Daniel Trielli
Do Diário do Grande ABC
06/08/2006 | 08:56
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A safra de cana-de-açúcar está em plena atividade. O Brasil produz índices recordes de álcool, mas por causa da competição com outros combustíveis, a demanda interna cai. Apesar da oferta maior que a procura, os preços do produto estão em rota de alta nos últimos três meses.

Desta vez, de acordo com a Unica (União Nacional da Agroindústria Canavieira de São Paulo), a vilã é a exportação. O diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues, explica que as vendas externas mais do que compensaram as perdas do mercado interno. “A demanda interna está menor por causa do patamar menos competitivo com a gasolina. Mas ao mesmo tempo, as exportações aumentaram. Não houve um desequilíbrio de oferta e procura, mas sim um movimento natural de acomodação de preços”, afirma Padua.

Os que mais compraram o combustível nos últimos meses foram os norte-americanos. De acordo com a Unica, foram exportados 170 milhões de litros de álcool em maio – 69,5% disso (118,3 milhões) para os Estados Unidos. Em junho, o embarque total – e recorde – foi de 450 milhões de litros. Desses, 336 milhões de litros (74,6%) foram para os EUA.

Padua explica a corrida norte-americana em busca do etanol brasileiro. “Eles criaram um mercado para o álcool, mas sem um fornecedor. Assim, o preço do galão do produto chegou a US$ 4, US$ 5. Mesmo com todos os custos de logística, transporte e tributos alfandegários, ainda compensa para eles comprarem a um preço superior ao do mercado interno”, conta. “Os importadores americanos oferecem R$ 1,20 pelo litro do álcool e o mercado interno R$ 0,90, esse preço vai subir para pelo menos R$ 1.”

Essa foi a lógica que levou o preço do álcool junto ao produtor subir dos R$ 0,848 em maio para R$ 0,854 em junho. A alta foi de apenas 0,7%, mas sendo no meio da safra de cana-de-açúcar, pegou muitos de surpresa. Tanto é que no mesmo mês os preços nas distribuidoras e nos postos ainda caíam, como reflexo do começo da colheita: -9,98% e -9,75%, respectivamente. A ligeira e inesperada alta continuou na média de julho, mas desta vez com mais intensidade: 5,15%. Desta vez, distribuidoras e postos seguiram com aumentos de 2,76% e 3,63%, respectivamente.

Padua garante, porém, que essa rota vai mudar. Isso porque as exportações já acabaram. “Ainda existe exportação, mas diminuiu bastante nas últimas semanas. E é por isso que o preço do produtor se estabilizou e, agora, caiu”, diz, apontando os dados da última semana de julho. “Agora fica o questionamento: se nem a distribuidora nem os postos trabalham com estoques que duram mais uma semana, por que eles ainda não repassaram os preços?”, indica. “Há três semanas o preço do produtor não aumenta. Nessa última, até caiu. O movimento de preço nas bombas não é só reflexo do produto”, diz Pádua.

Histórico – Desde o início de 2006 o preço do álcool passa por uma montanha-russa. O ano começou com a entressafra, que sempre apresenta um pico de preços do combustível. Mas desta vez foi demais. Até o presidente da Unica classificou os valores – que em março tinham média de R$ 1,777 nos postos, mas podiam chegar à R$ 1,99 em alguns casos – de “irreais”.

Em abril, o alívio veio com o começo antecipado da colheita. Entre aquele mês e maio, o preço despencou 20,2% ao produtor, 18,7% no distribuidor e 16,3% no posto. Voltava, assim à “realidade”. Pelo menos até a época que os norte-americanos começaram a comprar nosso álcool.




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