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Presos fazem rebelião por comida em Mauá
Ângela Martins e Luciano Cavenagui
Do Diário do Grande ABC
24/03/2006 | 07:51
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Presos do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Mauá realizaram quinta-feira a segunda rebelião em 48 horas. O motim de oito horas teria sido motivado por falta de comida, água, roupas e por reivindicação de transferências do presídio, que ficou destruído após o tumulto de terça-feira.

Detentos entrevistados pelo Diário por meio de celular (veja texto ao lado) e parentes dos presos disseram que funcionários do presídio e policiais jogaram fora o jumbo (comida entregue por familiares) e as roupas dos detentos, além de cortarem a água. A atitude seria uma represália por causa do motim da terça-feira.

A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) negou a acusação e afirmou que a rebelião foi somente por causa da reivindicação de transferências. O comando da PM no Grande ABC negou a participação de policiais na acusação dos presos.

Essa foi a sétima rebelião no sistema prisional do Estado nesta semana. Na terça-feira, foram realizados cinco motins por ordem do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa instalada dentro e fora dos presídios paulistas. O objetivo do grupo era protestar contra as más condições gerais dos presídios. A sexta rebelião terminou quinta-feira em Jundiaí.

O tumulto de quinta-feira em Mauá começou às 7h e terminou às 15h. O seu planejamento começou às 18h de quarta-feira, quando funcionários e policiais fizeram o chamado pente-fino, isto é, revista completa em todos os 654 presos por causa da rebelião de terça-feira. A capacidade do CDP é para 576 detentos.

“Para dar o troco, os funcionários e policiais jogaram fora nosso jumbo, várias roupas e cortaram nossa água. Disseram que era para a gente aprender a não fazer tumulto. Além disso, também não queremos mais ficar aqui porque tudo foi destruído”, afirmou um dos presos.

Pela manhã, diversos detentos se aproximaram das janelas completamente abertas após a destruição de terça. Alguns detentos faziam gestos e apontavam para a barriga. Indicativo de que estavam passando fome. Várias faixas brancas foram estendidas nas janelas. Muitas pendiam paz. Na verdade, o que mais os presos temiam era a presença da Tropa de Choque.

Entretanto, o grupo não foi acionado. A repressão ficou a cargo de parte dos 200 policiais da região que foram deslocados para o CDP, especialmente integrantes da Força Tática do 30º Batalhão. A avenida Papa João XXIII, no bairro Serrtãozinho, onde fica a cadeia, foi interditada nos dois sentidos. Aproximadamente 50 familiares de presos aguardavam notícias do lado de fora.

Os amotinados estavam espalhados pelos três andares. O diretor do presídio, Wellington Segura, que participou da negociação, exigia que todos fossem para o pátio para que uma empresa especializada pudesse consertar provisoriamente algumas das celas que foram destruídas. Como não houve acordo, às 13h, cerca de 80 policiais foram ao encontro dos rebeldes, munidos de escudos e espingardas calibre 12, entre outros armamentos.

Oração – Depois que cinco bombas de efeito moral foram detonadas, familiares dos presos se desesperaram. A dona-de-casa Eunice Santana, 67 anos, que tem um neto preso por roubo, desmaiou. Logo depois foi socorrida por uma ambulância. “É muito sofrimento. A polícia não precisa fazer isso”, balbuciou.

A aposentada Antonieta Pereira, 61 anos, e Edna Batista da Silva, 28, se ajoelharam e começaram a rezar. “Somente Deus para evitar uma tragédia nesse lugar. Já cortaram comida e água, agora vão bater nos presos”, contou Antonieta.

Às 15h, a Polícia Militar informou que o motim havia terminado e que todos os presos seriam revistados no pátio. “Praticamente tudo foi destruído. Não há condições de os presos ficarem aqui”, afirmou o comandante do 30º Batalhão, major Carlos Benedito de Carvalho Martins.

“Felizmente não houve feridos. As bombas de efeito moral foram necessárias para acalmar os ânimos dos rebelados”, disse o comandante da PM no Grande ABC, coronel Renato Aldarvis. Em revista parcial, os policiais encontraram estiletes e armas feitas com barras de ferro.

A SAP informou que deve haver transferências de presos, mas que deverá informar a quantidade e os prazos somente nesta sexta-feira. A secretaria também informou que o CDP irá passar por reformas, mas não confirmou o que foi destruído e quanto custará as obras. A secretaria não quis se pronunciar sobre a presença de celulares no CDP.



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