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Pandemia derruba pela metade produção de veículos no País

Até agosto saíram das fábricas 1,110 mi de unidades, 901 mil a menos que em 2019 e equivalente a quatro meses de atividades

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
05/09/2020 | 00:05
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Celso Luiz/DGABC


A produção de veículos no Brasil foi fortemente impactada pela crise causada pela pandemia do novo coronavírus. O volume fabricado de janeiro a agosto, de 1,110 milhão de unidades, despencou 44,8% na comparação com o mesmo período de 2019, quando foram confeccionados 2,011 milhões. Os 901 mil exemplares a menos correspondem a quatro meses de produção e levam o setor a retroceder ao patamar de 20 anos atrás, o que evidencia as dificuldades do segmento para manter o contingente de trabalhadores. No mesmo período, foram eliminados 4.100 empregos, totalizando 121,8 mil.

Os dados foram divulgados ontem pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e incluem automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. O resultado ruim para o setor automotivo se dá mesmo com a leve recuperação em agosto na comparação com julho – 210,9 mil unidades confeccionadas, crescimento de 23,6%.

“É como se perdêssemos três meses de vendas internas (os licenciamentos somaram 183,4 mil, queda de 35% no ano) e quase quatro meses de produção”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. “Não fosse a pandemia, na metade de maio já teríamos chegado aos patamares atingidos neste fechamento de agosto”, completou.

Com essa retração da produção, a preocupação é com o número de empregos, que em todo o País já foi enxugado em 4.100 postos, sendo 3.900 desde março, quando a pandemia chegou ao Brasil e iniciou-se a quarentena, e 663 só no mês passado.

Na região, a Volkswagen negocia há duas semanas com o SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC) soluções para lidar com o excedente de mão de obra na planta Anchieta, em São Bernardo, onde há 8.600 empregados. De acordo com o presidente da companhia na América do Sul, Pablo Di Si, que anunciou a necessidade de reduzir o efetivo em 35% nas suas quatro fábricas do País, desfecho deve sair nas próximas semanas.

“Estamos negociando para adequar a nossa capacidade à demanda do mercado, que não tem previsão de melhora nos próximos quatro a cinco anos”, afirmou Di Si, ontem, em conversa on-line com jornalistas. O executivo destacou que o diálogo, apesar de “difícil”, vem sendo feito de maneira de “transparente.”

A ociosidade somada nas quatro fábricas do País é de 43%. De janeiro a agosto foram produzidas 186 mil unidades, queda similar à do mercado nacional, de 44% na comparação com o mesmo período de 2019, quando 333 mil saíram de suas plantas. “Nós não temos problema em uma fábrica específica. Trata-se do problema de pandemia, que influenciou na capacidade instalada e gerou um tombo muito grande a nível mundial”, assinalou Di Si. Questionado sobre a chance de abrir PDV (Programa de Demissão Voluntária), ele disse que está sendo avaliada a possibilidade e que a empresa já lançou mão de outras ferramentas, como a redução de jornada.

Na região, apenas a GM (General Motors) já anunciou PDV. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, a adesão foi de 293 trabalhadores, de um efetivo de 8.000 na região. Além disso, houve a prorrogação do regime de lay-off (suspensão temporária de contrato) para aqueles que ainda não retornaram ao trabalho.

A Toyota afirmou que tem avaliado constantemente os diversos cenários para o mundo pós-pandemia, “o que exige um trabalho em conjunto de todas as áreas da empresa e de todos os agentes da sociedade”. “Isso é o mais importante para nós agora e, como sempre fazemos, faremos o possível para proteger o emprego”, informou, em nota. Em São Bernardo há 1.500 funcionários.

O setor de caminhões, apesar da retração de 14,9% nos emplacamentos de janeiro a agosto (com 55,5 mil unidades) tem quedas menores que a dos automóveis na produção, em 36,6%, para 48,9 mil. A Mercedes-Benz, montadora de pesados em São Bernardo, fechou acordo com o sindicato e irá garantir estabilidade de emprego para os 8.000 profissionais da unidade até 31 de dezembro de 2020. Nesta semana houve a dispensa de 189 trabalhadores temporários, o que, segundo a entidade, já era previsto.

“Se antes da pandemia nós já alertávamos para a falta de competitividade do nosso País, agora a situação é ainda mais urgente. O mercado global de veículos deve encolher de 91 milhões de unidades em 2019 para menos de 75 milhões em 2020, gerando uma ociosidade inédita na indústria global. Só atacando as causas do Custo Brasil é que teremos condições de evitar um encolhimento do setor automotivo”, alertou o presidente da Anfavea.
 




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