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Censo já contou 17 mil com mais de 100 anos
Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
03/10/2010 | 07:21
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Aos 103 anos, Ruy Silva tornou-se figura ilustre e conhecida de Santo André. Em sua casa na Vila Lucinda, onde mora desde 1951, guarda álbum com recortes de jornais onde posa como personagem central de reportagens sobre longevidade.

Como ele, existem pelo menos outras 17.614 pessoas com mais de 100 anos no País. É o que revelou os números preliminares do Censo 2010, divulgados no início da semana pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com cerca de 80% da população recenseada, o instituto avalia que a pirâmide etária sofreu alterações significativas na última década. Em 2000, pessoas com até 24 anos representavam quase 50% dos brasileiros. Agora, constituem 41,95%.

Ruy nunca fumou, nem bebeu e sempre caminhou bastante. Aposentado há 46 anos, depois de trabalhar 36 na Estrada de Ferro São Paulo Railway, é um homem lúcido e ativo. Faz questão de fazer tudo sozinho. Seu passatempo preferido é o presépio que começou a construir, sobre uma mesa pequena, em 1944 para os filhos, seis no total - três homens e três mulheres.

Atualmente, o "brinquedinho do vovô", como sua tataraneta de 5 anos costuma chamar a engenhoca, tem cerca de três metros e meio de largura e dois de profundidade. Seus habitantes ganham movimento com ajuda de um motor que ele mesmo faz questão de manter diariamente, nos fundos do imóvel.

A pedido da filha, Maria de Lourdes, 65 anos, que mora com ele, tem ficado mais em casa. Depois que passou dos 100 anos, Lurdinha, como é chamada, teme que o pai caia e frature algum osso, o que poderia ser fatal na sua idade.

‘MALVADEZA'

Mas nem sempre foi assim. Bem humorado, ele revelou à equipe do Diário suas muitas memórias de Itanhaém, no Litoral, onde passou a infância e realizou diversas "malvadezas", como ele mesmo definiu. Foi justamente uma delas que o trouxe para o Grande ABC.

Ruy, Jaime (seu irmão), Malaquias e Antônio Sapateiro. Quatro amigos que por conta de um palavrão dito na frente de uma moça, Maria Bárbara, a Maricota, tiveram que deixar a pacata Itanhanhém. "Ela contou ao pai, que foi com um porrete atrás da gente. Éramos bons de briga. Malaquias acabou dando um soco nele e o filho do Gordo, dono da padaria, veio atrás da gente com arma de fogo. Eu fugi e me escondi. Os outros foram presos e ficaram mal falados", contou ele, lembrando que naquele tempo, 1928, ser preso era motivo de vergonha.

Passado alguns dias, os três foram soltos e caminharam pela praia até Mongaguá, onde encontraram Ruy e seguiram para São Vicente, sua terra natal, onde o pai os recebeu e os despachou direto para Santo André.

Logo ao chegar, conseguiu emprego na estação ferroviária como faxineiro. Um ano depois, foi promovido a mensageiro e transferido para a estação Barra Funda, na Capital. Quando voltou para a região, na década de 1950, veio com a esposa Lourdes e os quatro primeiros filhos. Logo vieram os outros dois herdeiros, que lhes deram dez netos, 17 bisnetos e Mariane, a tataraneta.

Quando perguntado qual o segredo da longevidade, o ferroviário aposentado respondeu com uma piada: "São Pedro esqueceu de me levar para o céu".

Em toda sua vida, Ruy só precisou realizar uma cirurgia de catarata, em 2002, quando acabou perdendo a visão do olho esquerdo. Remédios não fazem parte de sua rotina, composta de quatro refeições diárias e preferência por dormir e acordar tarde. "Acordo entre 11h30 e 12h, tomo café na cama e logo vou tomar banho para ficar disposto. Vou dormir à meia-noite, depois de ver umas coisas na televisão", declarou o centenário.TL


Palmira, de Santo André, não gosta de ir ao médico

Filha de imigrantes italianos, Palmira Mainente de Lucas nasceu em Serra Negra, no Interior, onde viveu com os pais e outros seis irmãos até os 19 anos. Há 54, mora no Parque das Nações, Santo André, com a filha mais nova, a dona de casa Gentila de Lucas, 76. Desde 2002, quando a saúde de Palmira ficou debilitada por causa da pressão alta e problemas cardíacos, é ela quem cuida da mãe, que completará 100 anos no próximo dia 21.

Palmira, que sempre manteve hábitos saudáveis, é a primeira centenária da família, que acompanha de perto sua rotina, preenchida com seis refeições diárias e caminhadas leves entre o quarto - improvisado próximo da sala, de um banheiro e da cozinha. "É um sobrado. Para evitar que suba e desça escadas o tempo todo, acomodamos ela na parte debaixo. Caminha sozinha, mas para tomar banho, vestir e comer, por exemplo, preciso ajudá-la", relatou Gentila, encarregada de preparar as refeições, todas trituradas para evitar que se engasgue.

Antes de chegar à região, morou em Marília com o marido, que morreu aos 94 anos em 1998. Lá, foram pioneiros no cultivo do café. Era bastante participativa na vida da fazenda e dos oito filhos, que ajudavam na roça. Era boa em costura e se preocupava com a saúde. Há alguns anos, porém, Palmira se recusa a ir ao médico, mesmo precisando tomar remédios para controlar problemas de pressão, labirintite e coração. "Estou bem de saúde. Quero ficar aqui (em casa)", disse Palmira, que não fala muito e tem dificuldade para ouvir.

Seu filho Ivo de Lucas, 74, é quem mede a pressão e vai às consultas médicas periódicas, onde descreve o estado de saúde dela. Ao falar dos cuidados com a mãe, Ivo lembra que ele e seus irmãos também precisam de atenção por conta da idade avançada. "Nos deparamos com a seguinte realidade: temos uma centenária na família que requer atenção e acabamos deixando nossa saúde em segundo plano. Afinal, para a família a pessoa mais velha é ela", relatou Ivo, que é escritor e poeta.




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