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Paulo Renato quer que educação de SP seja modelo
Sergio Vieira
Do Diário do Grande ABC
24/01/2006 | 08:17
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Fazer da Educação de São Paulo um modelo nacional. Esse é o objetivo do ex-ministro da Educação no governo FHC (1995 a 2002) Paulo Renato Souza (PSDB) caso o partido o escolha para disputar as eleições ao governo do Estado este ano. Mesmo sem ter enfrentado nenhuma eleição, Paulo Renato se considera a melhor opção entre os outros três tucanos que também pleiteiam a vaga - o deputado federal Alberto Goldman, o vereador de São Paulo José Anibal e o secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira. "Tenho o currículo mais rico em matéria de realizações nos planos estadual, federal e internacional. Mas todos os outros nomes também têm boa experiência", analisa. Paulo Renato também foi secretário de Educação do Estado no governo Montoro (1984 a 1986), além de gerente de operações do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) de 1991 a 1994.

Ao destacar sua permanência no primeiro escalão do governo tucano durante os oito anos - Lula teve três ministros da Educação -, Paulo Renato considera o governo Lula como "uma grande decepção". "A crise trouxe à tona a incompetência do atual governo". Em relação ao Estado, admitiu que a região tem poucas Fatecs e que, se eleito, traria mais escolas profissionalizantes para o Grande ABC. "Meu sonho é ser o governador da Educação".

DIÁRIO - Que problemas o sr. enxerga hoje no Grande ABC?

PAULO RENATO SOUZA - Temos conversado com os companheiros do partido sobre os problemas da região. Mas uma visão geral sempre se tem. Nós temos de olhar o ABC como a região que foi o berço da moderna industrialização brasileira e perdeu posição neste sentido. Temos infra-estrutura, boa estrutura urbana. Temos aqui um grande potencial para uma transformação da vocação industrial. O ABC foi uma região de forte presença em uma indústria protegida. Agora nós temos uma indústria global. Quais os setores que podem ter vantagem de se estabelecer no ABC? Em função disso, temos de pensar em programas de pesquisas, de desenvolvimento tecnológico. Sob a liderança do governo do Estado, pode-se trabalhar com a comunidade, com os prefeitos e estabelecer quais são as áreas que vamos tratar de motivar e incentivar, para que haja um ressurgimento industrial e discutir um rumo.

DIÁRIO - Como o sr. vê o impasse jurídico que vive hoje a construção do trecho Sul do Rodoanel, com acusações entre os governos federal e estadual?

PAULO RENATO - Não sei como o governo federal tem coragem de argumentar contra o estadual. Se alguém pode ter queixas é o Estado, porque foram prometidos recursos, se falou em R$ 700 milhões, que nunca apareceram e no Orçamento deste ano colocaram R$ 14 milhões. De outro lado, existem questões ambientais, que são problemas em qualquer área. Pelas minhas informações, estão prestes a ser resolvidos. São trâmites que muitas vezes atrasam. Não podemos desrespeitar decisões judiciais, ações do Ministério Público. Temos de respeitar todas as instâncias, mas, muitas vezes, as exigências são um pouco exageradas em relação aos benefícios que podem trazer ao próprio meio ambiente. O Rodoanel vai desafogar outras vias da região, que estão mais inseridas em áreas de proteção ambiental.

DIÁRIO - Como seria sua relação com o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, onde cinco prefeitos apóiam o governador Alckmin e dois são petistas?

PAULO RENATO - Se você perguntar para qualquer prefeito petista durante minha gestão no ministério, ele vai dizer que eu não discriminei ninguém. Minha atuação foi a partir de políticas municipalistas. Eu introduzi no Brasil a idéia da municipalização da merenda escolar. Também criei o Fundef, que é uma parceria com os municípios. Cheguei a 97% de crianças na escola por causa da ação dos municípios. Se nós já temos um Consórcio de municípios, isso para mim é música. Terei um grande instrumento de trabalho em parceria com as cidades e tendo as demandas já organizadas. Tenho muito boa relação com o William Dib (São Bernardo), José Auricchio Júnior (São Caetano), Clóvis Volpi (Ribeirão Pires), Leonel Damo (Mauá) e Alder Kiko Teixeira (Rio Grande da Serra). Esses cinco eu tenho relação como companheiros. Com José de Filippi Júnior (Diadema) tenho uma relação distante, mas eu o conheço. E o João Avamileno (Santo André) conheço pouco, mas não é por isso que vamos deixar de trabalhar juntos.

DIÁRIO - Por que o sr. acha que a criação da região metropolitana do Grande ABC não avança, já que o projeto está há nove meses parado na Assembléia?

PAULO RENATO - Estamos vivendo época na qual os grandes problemas estão concentrados em regiões metropolitanas. O grande desafio de qualquer administração é tratar os problemas das grandes cidades. Não sei o que está travando, mas precisaríamos chegar a um entendimento para ter isso aprovado o mais rápido possível.

DIÁRIO - O sr. não acha isso contraditório, já que o governo Alckmin tem maioria entre os deputados estaduais?

PAULO RENATO - Mas perdeu a eleição para presidente (Rodrigo Garcia, do PFL, venceu Edson Aparecido, do PSDB). Essas coisas de maioria no Legislativo não são tão simples. Veja a dificuldade do governador em negociar as emendas do Orçamento, que ainda não foi aprovado. Hoje não é simples. Dizer que o governador tem nominalmente a maioria não é tão verdade. A estrutura política brasileira não é tão organizada como deveria ser.

DIÁRIO - O governo federal está instalando duas universidades na região (UFABC, em Santo André, e Unifesp, em Diadema). O que faltou para que em seu governo a região fosse contemplada com uma universidade pública?

PAULO RENATO - Eu priorizei os ensinos Fundamental e Médio. Mesmo assim, em meu período, a matrícula em universidades federais cresceu 50% e nos cursos noturnos, 100%. Depois que o governo do PT tiver atingido números parecidos, aí nós conversamos. Eu não criei novas unidades, mas expandi brutalmente a graduação e pós-graduação nas federais. É muito fácil você criar uma universidade hoje e jogar a conta para o sucessor. Quero saber se houve estudo das projeções orçamentárias dessas 35 universidades que estão sendo anunciadas. Porque senão a gente pode achar que é uma demagogia, uma irresponsabilidade. A minha impressão inicial em relação à UFABC é de que os cursos não estão muito inseridos na economia local. Eu sempre sou a favor de Educação, mas diante dos escassos recursos, eu preferiria trazer para a região braços das universidades estaduais e mais escolas profissionalizantes.

DIÁRIO - Apesar do governador dizer que deixará o governo com 30 Fatecs instaladas no Estado, o Grande ABC ganhou apenas duas (Mauá e São Bernardo). O sr. não acha pouco?

PAULO RENATO - É muito pouco. Nós temos de ter muito mais. A coisa que mais tenho escutado aqui e em toda Grande São Paulo é a reivindicação de Fatecs, vinculada à vocação da região. Nós temos que multiplicar o ensino profissionalizante.

DIÁRIO - Como educador, o sr. vê saídas para o problema da Febem?

PAULO RENATO - A política seguida pelos governadores Mário Covas e Geraldo Alckmin é correta: descentralizar, criar unidades pequenas e introduzir alto conteúdo educacional na Febem. Mas isso não se consegue da 'noite para o dia'. É um processo e nós temos que insistir nessa linha da descentralização. E cada cidade tem que tratar de seus problemas. Na medida que você tem a presença do Estado, articulação com o município e unidades menores, você tem mais argumentos para convencer o prefeito e a população de permitir a criação de unidades em seu município.

DIÁRIO - O sr. não acha estranho o fato de o PSDB, apesar de estar há 12 anos no comando do Estado, não estar bem colocado nas pesquisas?

PAULO RENATO - Não sei. Lembro que o presidente Fernando Henrique Cardoso já havia sido ministro da Fazenda, em abril de 1994, e aparecia com 4% nas pesquisas. O governador Mário Covas, na reeleição (em 1998), tinha 4%. Então a gente não pode tomar a pesquisa antes da campanha como um valor de face. Antes da campanha reflete o grau de conhecimento.




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