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Cresce desindustrialização na região do Grande ABC
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
25/10/2010 | 07:18
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"Se você não pode vencer seu inimigo, una-se a ele". O ditado expressa o processo de desindustrialização - ou seja, a substituição da fabricação nacional pela importação - que tem se verificado em diversos segmentos, por fatores como a taxa cambial desvantajosa, altos custos de matéria-prima e os fortes subsídios dados a empresas nos países asiáticos.

Para muitas indústrias brasileiras, essa tem sido a alternativa para a sobrevivência, já que a competição passou a ser desigual. A fabricante de máquinas TM Bevo, de São Bernardo, por exemplo, há dois anos, importava 10% do que comercializava, e dos 90% restantes, 20% eram destinados à exportação. "Paramos de exportar por causa do câmbio e passamos a importar 20% (dos itens)", afirmou o diretor comercial Evandro Luciano Orsi.

A empresa, que faz centros de usinagem para indústrias das áreas automotiva, de implementos agrícolas, linha branca e petróleo, entre outras, traz equipamentos montados de Taiwan, mas com tecnologia alemã. Fabricante nacional e com 25 anos de mercado, a TM Bevo prevê ampliar ainda mais o volume importado. "A tendência é essa, é impossível competir em termos de custos", avalia Orsi.

Para ele, não é só o real forte em relação ao dólar que atrapalha, mas também os altos tributos no País. "O que ainda nos mantém é o desenvolvimento de equipamentos especiais. Sem isso, já teríamos fechado as portas", cita. A TM Bevo já chegou a ter 150 funcionários. Hoje tem 60.

Com as desvantagens competitivas no setor, o déficit comercial no País na área de máquinas e equipamentos chegou, de janeiro a julho, a US$ 8,07 bilhões, como resultado da disparada das importações.

AUTOPEÇAS - Na área de autopeças, a tendência também se verifica. A fabricante MRS, de Mauá, por enquanto tem compras pequenas (2%) de componentes importados, mas tem projeto de parcerias com indústrias da Índia e da China para passar a ter linha de itens trazidos do Exterior. "Não temos como ir contra o mercado, têm peças chinesas que entram no Brasil por um quarto do preço de venda do meu produto. Sai abaixo do custo de fabricação", afirma o diretor Celso Cestari. A empresa deve colocar o plano em operação no ano que vem. Com isso, passará ter de 10% a 15% de componentes vindos dos países asiáticos.

O segmento, além de registrar grande déficit comercial, deve fechar 100 mil postos de trabalho no País nos próximos dois anos. É o que estima o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, junto com outras entidades do segmento.

A avaliação é de que poderá haver a redução das vagas, entre outros fatores, pela liberação da importação de ferramentas e moldes usados, especialmente da China.


Câmbio e custos elevados afetam indústria nacional

O câmbio favorável à importação e os custos elevados de matéria-prima dificultam a vida da indústria nacional. O diretor industrial da fabricante de máquinas DR Promaq, Domingos Zampieri, cita que desenvolveu um torno que saia ao preço de R$ 500 mil, quando o dólar estava R$ 3, para competir com o importado de R$ 1 milhão. Hoje com o dólar a R$ 1,68, o item trazido do Exterior entra a R$ 400 mil. "E nosso custo subiu. Pagamos R$ 7 o quilo do ferro fundido e a China leva por R$ 3 o quilo", afirma.

É possível manter os negócios, nesse cenário? Para Celso Cestari, é importante buscar modelos de gestão inovadores ou o fortalecimento da marca. "Se ficar só focado no produto, as pequenas empresas estão fadadas a não se sustentarem", avalia.

 




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