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Morta na explosão em loja de fogos deveria estar de folga

Ana Maria trabalhava na casa dos fundos do bazar; doméstica havia sido dispensada do trabalho na quinta

Por André Vieira
Do Diário do Grande ABC
26/09/2009 | 07:18
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A doméstica Ana Maria de Oliveira Martins, 58 anos, deveria estar de folga do trabalho quando morreu, na tarde de anteontem, durante explosão da loja de fogos de artifício da Vila Pires, em Santo André. A empregada trabalhava na casa dos fundos do bazar, onde moravam Sônia Maria Castellani, 63, mãe do dono do estabelecimento, e Denian Castellani de Souza, 41, também morto no acidente.

Ana Maria trabalhava para a família havia cerca de quatro anos, primeiro como acompanhante da mãe de Sônia (que morreu no começo deste ano dias antes de completar 100 anos), depois como faxineira da casa. Na quinta-feira, segundo seu marido, José Carlos Martins, 64, ela havia sido dispensada. "Ela ia para o serviço quase todo o dia, mas na quinta-feira iria folgar. Mesmo assim resolveu ir trabalhar", afirmou o funileiro.

Segundo o filho de Ana Maria, Francisco Oliveira, 26, o padrasto quase teve uma parada cardíaca quando assistiu pela televisão às cenas da explosão. "Imaginei que tivesse acontecido alguma coisa. Eu sabia que ela estava lá", afirmou Martins, que deixou a mulher no trabalho às 8h.

O trajeto de dois quilômetros entre a residência do casal, na Vila Helena, e a loja de fogos de artifício, na Vila Pires, era feita à pé, todos dias. Eram 20 minutos de caminhada. "Eles eram muito unidos. Onde um estava, o outro estava também", afirmou a sobrinha Cláudia Rossi, 40, que descreveu Ana Maria como uma mulher tranquila, que pouco saia de casa quando não era para ir ao trabalho ou para a igreja evangélica.

ENTERRO
O corpo da doméstica foi velado na manhã de ontem no mesmo templo religioso que ela frequentava: Igreja de Cristo Petencostal do Brasil. Depois da cerimônia, o caixão foi levado para o cemitério do Curuça, também em Santo André, onde foi sepultado às 11h45. Cerca de 50 parentes e amigos acompanharam a cerimônia.

Para a vizinha Lourdes Malentache, 65, Ana Maria havia confessado que planeja mudar-se e talvez voltar para Belo Horizonte (MG), sua terra natal. "A gente se encontrava na feira e ela dizia que estava cansada, que queria se aposentar e sair daqui."

Morava na loja para ficar perto do serviço

André Vieira

A segunda vítima fatal do acidente na Vila Pires, Denian Castellani de Souza, 41 anos, morava na casa atrás da loja do primo Sandro Luis Castellani, da mesma idade, há 10 anos. Ele foi viver lá para ficar mais perto do trabalho, no Colégio São José. No momento da explosão que destruiu o quarteirão, o auxiliar de serviços gerais estava no horário de almoço.

O corpo de Denian foi reconhecido por outro primo, o bibliotecário Júnior Castellani, 28, ainda nos escombros. O familiar mora no Jardim Marek, e estava em casa, há cerca de seis quilômetros do local do acidente, quando ouvi o estrondo da explosão.

"Achei que fosse no Pólo Petroquímico, mas quando vi que não era, corri para a loja". Pelo braço e pelo detalhe da roupa, Júnior identificou a vítima como sendo seu primo.

"Ainda fiquei até por volta das 17h, pois não tinha informações sobre o Sandro e achei que ele também pudesse estar lá. Só depois descobri que havia fugido", afirmou.

Para os familiares, os negócios de Sandro, "aparentemente", pareciam legais, embora soubessem da existência de reclamações dos vizinhos. "Não costumava ir lá", afirmou a recepcionista Elaine Castellani, 33. "Não quero envolvimento nisso, mas ele que se responsabilize pelas suas ações", completou Júnior.

O corpo de Denian foi sepultado às 16h de ontem no cemitério Parque Grande ABC, em Mauá, cidade onde moram seus pais adotivos, Doris e Jodeci Augusto de Souza.

Caminhoneiro, Jodeci descobriu que o filho havia morrido somente na madrugada de ontem, quando estacionou seu veículo na garagem da empresa em que trabalha, em Santo André, depois de viagem para o Rio Grande do Sul.

O cunhado de Denian, Alis Santini, 40, contou que o auxiliar era muito calmo e quieto, não havia se casado, nem tinha filhos, passava as horas em casa e, os finais de semana, com os pais. "Acho que ele gostava muito de filmes, pois sempre estava com DVDs."

Madrugada movimentada nos destroços

Evandro De Marco

Alguns moradores que tiveram de sair de suas casas após a explosão na casa de fogos da Rua Américo Guazelli, na Vila Pires, em Santo André, foram de madrugada ao local para pegar parte de seus pertences. Outros para tentar limpar um pouco da bagunça. Também não faltaram curiosos.

Weslei Costa, 30 anos, e a mulher Flávia, 28, puderam entrar por alguns minutos nas suas casas. "Vamos para a casa do meu pai, em Mauá, já que a nossa foi interditada. Só deixaram a gente entrar para pegar algumas coisas", afirma Flávia, atendente de farmácia que estava no trabalho quando ocorreu a explosão. "Uma amiga telefonou para mim e mandou ligar a televisão. Vi a destruição. Não pensei em nada, apenas peguei meu carro e corri para cá. Só me acalmei quando vi a casa de pé."

Weslei, que trabalha como operador de estamparia, contou que saiu pouco antes da explosão. "Um amigo me disse o que havia ocorrido e que o quarteirão inteiro estava arrasado." Segundo ele, o muro da casa ficou trincado de fora a fora. Porta e janelas foram destruídas.

Enquanto alguns vizinhos da loja de fogos retiravam o que podiam das casas interditadas, outros tentavam arrumar o que podiam. A casa da dona de casa Vanda Noé, 64 anos, estava tomada por cacos de vidros e barro. "A gente tem que limpar tudo. Não adianta reclamar."

A idosa conta que havia acabado de sair do carro quando ouviu os primeiros estampidos vindos da loja de fogos. "Estava fechando o portão e escutei uns estalos. Olhei para lá, vi uma fumaça branca e começaram os estouros." Ela correu para dentro da residência para se esconder. "A sorte é que o portão estava aberto. Estou viva por milagre."

CURIOSOS
Mesmo de madrugada, o movimento de curiosos no local da explosão foi intenso. "Queria ter certeza que tinha acontecido. Não dava para acreditar", afirma o auxiliar administrativo Renan Hidalgo, 19 anos, que foi ao local com o irmão Ronnie, 24, e do pai Rubens, 43. "Vim logo depois das explosões. Voltei agora porque meus filhos também quiseram ver de perto a situação."

Durante toda a madrugada, policiais militares e guardas civis municipais permaneceram em todas as vias de acesso à Rua Américo Guazzeli para evitar possíveis saques nas 30 casas interditadas pela Defesa Civil.




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