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Diário promove 'No Limite'
Alexandre Hisayasu
Da Redaçao
02/09/2000 | 17:06
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Atrás de ar puro e de uma paisagem fora do comum, os trilheiros saem em busca de aventuras sem medo de viver um dia de cao, no limite, sem temer a exaustao provocada por uma jornada de quilômetros dentro da mata. Atrás de emoçao, com disposiçao para pôr à prova o próprio equilíbrio físico e psicológico, a maioria, entretanto, ignora o risco de se perder no meio do caminho.

Os trilheiros Enaldo Cortina, 38 anos, Paula Romano, 42, Neusi Oliveira Rolim, 41, e James Cheng, 36, aceitaram o convite do Diário e se reuniram para enfrentar a trilha da Pedra Lisa, na Vila de Paranapiacaba, em Santo André. O percurso ficou famoso no início dos anos 90 por causa dos constantes acidentes fatais. Com exceçao de James, os demais nunca tinham entrado na trilha. Todos estavam com mochilas, onde levavam de primeiros-socorros a máquinas fotográficas.

Para Enaldo, que trabalha na Polícia Civil, uma das recompensas de encarar uma trilha é o número de amigos que se faz. "Conviver com pessoas dentro da mata - em situaçoes nas quais todos precisam ajudar uns aos outros - promove uma intimidade grande entre os participantes", disse. O início como trilheiro foi "meio sem querer", quando se perdeu do ônibus que o levaria a um casamento. "Eu coloquei a mochila nas costas e fui andando. Nunca mais consegui parar."

Segundo o sargento Robertson de Oliveira Sousa, do Corpo de Bombeiros, existem duas recomendaçoes essenciais em caso de alguém se perder na trilha. "Esaon (estacione, sente-se, alimente-se, oriente-se e navegue) e nunca coma CAL (frutas cabeludas, amargas e leitosas). Mas se um passarinho ou outro animal comer a fruta, nao há nenhum problema", explicou.

Embora o risco de acidentes seja mínimo, desde que respeitadas as normas básicas de segurança, o imprevisto pode acontecer a qualquer momento. "Já enfrentei situaçoes complicadas em trilhas. Certa vez, em Sao Tomé das Letras (MG), um rapaz que pesava mais de 90 kg quebrou o pé em uma cachoeira e tive de carregá-lo nos ombros. Em trilhas, você acaba vivendo no limite", disse Enaldo.

Mata adentro - Os quatro trilheiros entraram na mata da Vila de Paranapiacaba sob o sol do meio-dia acompanhados por quatro policiais do 8º Grupamento de Bombeiros. No total, o grupo percorreu 10 km em oito horas, num terreno extremamente irregular. "Numa escala de dificuldade que vai de 1 a 3, a trilha ofereceu trechos de nível 2. Isso significa que tivemos bastante dificuldade e que o desgaste físico foi grande", disse Cheng.

Logo no início da aventura, o sargento Robertson fez questao de ressaltar algumas técnicas importantes para enfrentar a mata. "É necessário marcar o caminho - com tótens de pedras, fitas coloridas ou riscos nas árvores -, ser um bom observador e andar sempre acompanhado por um mateiro (guia local que conheça bem a regiao a ser explorada)".

O maior teste para os trilheiros foi o percurso de volta da Pedra Lisa. "A subida forte obriga que cada um respeite o seu ritmo. Nao adianta ninguém dar uma de Rambo e querer disparar na frente. O grande segredo de uma boa trilha é ir com calma", disse Neusi, durante uma discussao entre os participantes da trilha. "Foi difícil pela parte psicológica. Saímos tarde e, depois de percorrer 5 km, vimos que teríamos pouco tempo para voltar, antes que a luz do sol sumisse por completo. Isso gerou um certo desconforto no grupo", explicou Cheng.

No retorno, os Bombeiros ainda simularam um resgate com a trilheira Neusi. Ela foi colocada na maca de salvamento pelo sargento Robertson e desceu um paredao de pedras de aproximadamente 25 m. "Se eu estivesse em uma situaçao real de perigo, me sentiria segura. Mas me senti mal ao descer toda amarrada. Vi minha vida nas maos de outras pessoas", disse Neusi. "É nessas horas que a gente vê como os Bombeiros sao heróis".

Colaborou Amanda Brum.




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