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Prefeitura de S.Bernardo demole casas sem aviso
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
17/09/2005 | 07:11
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A Prefeitura de São Bernardo demoliu sexta-feira, sem aviso prévio, cinco casas de alvenaria no bairro Tatetos, área de proteção de manancial. As equipes só não destruíram também outros 30 barracos porque as famílias se recusaram a deixar as moradias. Quem mora nas habitações de madeira recebeu uma ordem de despejo e terá de abandonar o local em sete dias úteis; no final do prazo, todas as construções serão derrubadas.

A ação, promovida pela Secretaria de Habitação e Meio Ambiente, em parceria com os órgãos estaduais de preservação ambiental, causou pânico entre os moradores. As cinco famílias que viviam nas casas demolidas estão desabrigadas. Contam agora com a ajuda dos vizinhos para conseguir um teto provisório.

A comunidade, carente, está há mais de 30 anos na área, conhecida como bairro Capivari, localizada na estrada de mesmo nome, na região do pós-balsa, às margens da represa Billings. A maioria dos moradores são crianças. Sexta-feira, elas circulavam descalças pelos escombros da alvenaria.

Desolada, a dona-de-casa Iolanda da Conceição Rodrigues, 47 anos, viu em minutos o sobrado que demorou três anos para erguer ser destruído. Não conseguiu salvar a cama, nem o guarda-roupas. "Só tirei a geladeira porque fui rápida. Minha casinha nem terminada estava ainda. A gente deixava de comer pra investir na obra. Às vezes, era fubá e mais nada", relata.

O aposentado Francisco Ferreira de Lima, 63 anos, teve de ser hospitalizado depois que viu o trator demolir metade de sua casa. Ele diz que implorou para que a residência não fosse totalmente derrubada. "Moro há mais de 25 anos aqui e nunca se deram conta da nossa existência. Agora esses homens querem acabar com tudo", desabafa ele, que se recupera de uma cirurgia cardíaca.

A jovem Audrey Aparecida Vitorino, 20 anos, é uma das que recebeu a ordem de despejo. Como todas as outras famílias, não sabe o que vai fazer se tiver de deixar o barraco onde vive sozinha com a filha de nove meses. "O trator chegou com tudo. Não perguntou nada, não deixou ninguém falar. Quando vi que iam derrubar, corri para o meu barraco e fiquei abraçando minha filha. Não ofereceram ajuda, opção."

Os moradores do bairro Capivari são todos parentes. Primos, irmãos, tios, filhos e netos, todos vivem na mesma comunidade e descendem das famílias que chegaram primeiro à região. Se perderem tudo, é difícil encontrar alguém num outro canto da cidade para pedir ajuda. Além da intimação, alguns receberam multas que passam dos R$ 3 mil, por "desrespeito ao meio ambiente" e "construção irregular em área de proteção de manancial".

A Prefeitura afirma que as casas demolidas estavam "desocupadas" e que sexta-feira entregou aviso prévio aos moradores, informando que devem deixar os barracos. A nota divulgada esclarece ainda que, além dos problemas ambientais, constatou-se que na área não existe água encanada nem rede de esgoto, o que compromete a saúde de quem vive no bairro. O município não explicou por que demoliu as casas sem aviso prévio – e com mobília dentro, em muitos casos –, nem que tipo de assistência será dada às famílias, que já tem data marcada para virar sem-teto.




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