O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Grande ABC (Setrans) quer reunir seus associados para a construçao de um terminal intermodal, unindo os sistemas rodoviário e ferroviário. A cidade escolhida é Mauá, por dispor de linhas férreas e de áreas livres para essa construçao. O investimento estimado no projeto é de R$ 6 milhoes. "Esse terminal, no sistema de condomínio, é decisivo para manter a competitividade das transportadoras da regiao", disse o presidente da Setrans Grande ABC, Antonio de Oliveira Ferreira.

As dificuldades no sistema de distribuiçao de carga vem se acentuando na regiao com o aumento do tráfego e a saturaçao das principais vias de acesso e escoamento. Enquanto o Rodoanel e a duplicaçao da rodovia dos Imigrantes nao forem concluídos, o terminal é apontado como soluçao para as empresas. "De 1995 para cá, perdemos cerca de 15% de nossa produtividade em funçao dos problemas viários", afirmou Ferreira. A regiao conta hoje com cerca de 500 empresas transportadoras, com mais de 10 mil caminhoes.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico e Social de Mauá, Paulo Eugênio Pereira Filho, a idéia já vem sendo debatida há algum tempo. "O problema é que a área inicialmente escolhida para o projeto acabou sendo vendida para um grupo que fará um condomínio do setor de plásticos", afirmou. Entre as estratégias do projeto, o rateio das despesas entre as transportadoras de médio porte vai permitir que elas enfrentem a concorrência das grandes multinacionais que já estao em operaçao na regiao.

O projeto do terminal prevê a centralizaçao das cargas para embarque e desembarque em direçao ao Porto de Santos. Também seria o ponto de chegada das cargas provenientes das rodovias, que seriam distribuídas a partir de um único ponto.

As gigantes do ramo também estao operando no limite. "Se houver algum atraso no calendário de obras do Rodoanel, creio que todo o sistema chegará ao caos", disse Antonio Wroblesky, presidente da Ryder/Translor, empresa norte-americana que tem 1,1 mil caminhoes na regiao. O que está em xeque é a capacidade das transportadoras em atender às exigências dos clientes, em especial os grandes varejistas e as montadoras, dentro do atuais sistemas de logística, sem tolerância de atrasos.

"Há 15 anos fazíamos a rota Sao Paulo-Rosário, na Argentina, em 13 dias; agora temos de desembarcar a mercadoria em 72 horas", exemplificou Wroblesky. Ele avalia que a situaçao nao chegou a um ponto mais crítico pelo fato de a regiao, como Campinas, ser cortada por duas rodovias. "Se fosse apenas uma, o sistema de transporte ficaria muito comprometido."

A Transportadora Grande ABC, de Sao Bernardo, é outro exemplo de esforço na reduçao de custos por meio da logística. Seu sistema chamado de milk run (algo como corrida do leite em inglês) inverte a clássica noçao de "pegar a carga consolidada e distribuí-la fragmentada". O sistema é inspirado no modelo empregado pelos antigos leiteiros. "Instalamos esse sistema na Ford e na Toyota; na Ford, em três anos, diminuímos a entrada de caminhoes na fábrica de 350 para 60 por mês", afirmou Antonio Caetano Pinto, da Grande ABC.

Esse tipo de enxugamento atingiu em cheio as pequenas e médias transportadoras. "Com certeza, mais de 40 transportadoras fecharam as portas após a adoçao desse sistema", disse. Outras montadoras da regiao já estao implementando o milk run.

O Setrans também avalia que a variaçao de custos das transportadoras subiu cerca de 20% nos últimos 12 meses. Segundo pesquisa da Fundaçao Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de Sao Paulo (Fipe-USP), esse índice foi de 7,08% em média em todo o país. "Os aumentos sao no diesel, nos impostos, na correçao de salários pelo dissídio coletivo; nenhuma empresa tem condiçoes de absorver esses aumentos apenas com ganhos de produtividade", disse Mariwalton Bunder, da Transportadora Bunder, de Santo André. Os gastos com segurança e a concorrência de transportadoras de outros Estados também comprimem as margens das empresas da regiao.