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Vovôs ensinam a parar 'Meninos da Vila'
Por Fernando Cappelli
Do Diário do Grande ABC
23/04/2010 | 07:00
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Eles estão longe dos gramados há décadas, mas são convictos em afirmar: se fosse na época deles, Neymar, Robinho e companhia certamente não teriam vida fácil na final de domingo.

Cite e Anísio, dupla de zaga que cravou o nome como primeiro paredão na história profissional do Santo André (1968), são lembrados até hoje pelos torcedores mais antigos pela boa regularidade e a raça peculiar mostrada em campo.

Ambos ainda residem na cidade e acompanham de perto a trajetória do clube.Como conselho para a nova geração, acreditam que a fórmula mais eficiente para tentar deter os Meninos da Vila na decisão do Paulista está guardada justamente em alguns detalhes dos fundamentos básicos. "Tem de ter um nível de preparo físico violento e não dar nenhum espaço para desenvolver aquela velocidade absurda na entrada da área", explicou Cite. "O grande segredo é confiar no poder de antecipação. Mas a grande dificuldade é tentar ser o mais perfeito possível neste aspecto", completou Anísio.

Defensores ‘clássicos', como gostam de se caracterizar, ambos tiveram de interromper a carreira profissional de forma precoce por causa de contusões.

"O pioneirismo sempre tem dois lados. Todos tinham muita vontade no começo do Santo André, mas faltavam investimentos e visão administrativa mais apurada. O clube sequer tinha departamento médico. Quando nos machucávamos, os recursos de recuperação eram escassos. Por isso muitos paravam com 25, 26 anos naquela época, como foi nosso caso", afirmou Anísio. "Mas passaria por tudo de novo de olhos fechados. Sempre serei apaixonado por tudo relacionado ao futebol", completou.

A vivência nos campos relativamente curta os levou a trocar de profissão na época em que o futebol ainda não movimentava cifras tão gordas quanto as atuais. Anísio, hoje com 65 anos, trabalhou como representante e vendedor. Agora está aposentado. Cite, 67, ainda se mantêm na ativa e atua no escritório de uma empresa da cidade.

Das arquibancadas do Brunão ou de casa, os ex-jogadores aprovam com veemência o trabalho feito pelo técnico Sérgio Soares com o grupo que alcançou a final estadual inédita. "Sinceramente está bem complicado parar aqueles moleques (do Santos). O Santo André tem de ser impecável nos dois jogos. E tem muita chance de ser", afirmou. "Esse time do Peixe lembra bastante o que enfrentávamos nos anos 1960. E se na época paramos Pepe e Coutinho, porque seria absurdo parar Robinho e Neymar", enfatizou Cite.

Rodriguinho: o lateral que virou artilheiro

Dizer que existe um artilheiro por acidente seria algo que beira o inacreditável, certo? Não! E o atacante Rodriguinho, do Santo André, é a prova disso. Segundo colocado no ranking de goleadores do Campeonato Paulista, com 14 gols (atrás apenas de Ricardo Bueno, do Oeste, que tem 16), o jogador começou a carreira como lateral-direito, nas categorias de base da Portuguesa Santista. E, por engano, anos depois foi parar no ataque, para o próprio bem e, hoje, para o bem do Ramalhão.

"No infantil da Santista eu era lateral-direito. Depois, quando fui para os juniores, virei meia e aí fui para o São Vicente, clube pelo qual me profissionalizei. Passados uns anos, quando estava para ir ao Serra Negra, meu empresário disse que eu era um meia-atacante, e o técnico entendeu que eu só atuava no ataque. Para jogar a gente faz tudo e eu não falei nada. Como tinha espaço na frente para um jogador rápido, ele me colocou. Ainda bem", contou.

Aos 27 anos, Rodriguinho explicou que se Sérgio Soares precisar imporvisa-lo na direita, será problema. "Faz muito tempo que jogo como atacante. São seis anos na frente, e perdi a noção", explicou o jogador.

Nascido em Santos, justamente a terra do adversário andreense na decisão do Paulistão, o atacante revelou que na infância, quando começou a jogar futebol, tinha como objetivo defender o Peixe. "A gente sempre quer jogar no time da nossa cidade, né? Era meu sonho atuar no Santos. Mas hoje sou Santo André e não tenho receio de ajudar a equipe a conquistar esse título em cima deles", disse. "E não é porque sou de Santos que o coração vai bater mais forte. Quero é vencer", completou.

Apoio da família, aliás, não vai faltar. Até porque, apesar de serem da Baixada Santista, não torcem pela equipe Alvinegra. "Meu irmão e minha irmã são palmeirenses, e meus pais são Rodriguinho Futebol Clube", brincou o jogador, que ainda mora na cidade e tem diversos amigos santistas. "A partir de sexta-feira (hoje) vou desligar o telefone, porque vão começar a me encher. Por outro lado, os palmeirenses, são-paulinos e corintianos vão ligar para apoiar", finalizou. (Por Dérek Bittencourt)




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