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Crise internacional pode ser positiva para a construção civil

Para o vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, o setor terá crescimento 'menos acelerado'

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
04/11/2008 | 07:01
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A crise financeira internacional, "por incrível que pareça", poderá ser positiva para o setor da construção civil, na avaliação do vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, que falou na segunda-feira com exclusividade ao Diário.

"Nos últimos dois anos, houve muita empolgação, com empresas abrindo capital na Bolsa, estabelecendo planos de negócios muito ousados e adquirindo um banco de terras muito grande. Acredito que manteremos um crescimento menos acelerado, mas mais seguro, numa perspectiva mais sustentável", disse o executivo, que acredita que haverá, a partir de agora, planos mais "comedidos" e um cenário de ajustes.

No entanto, o vice-presidente da Caixa não vê motivos para os consumidores se alarmarem com riscos de uma nova Encol (companhia que faliu na década de 1990 e deixou milhares de mutuários com prejuízos), já que novas regras como a do patrimônio de afetação (que separa o empreendimento do patrimônio da construtora) e da SPE (Sociedade de Propósito Específico) tornaram a atividade muito mais segura.

"Vivemos uma situação muito mais confortável do que no passado e há um olhar atento do governo federal para o crescimento do setor", disse. Hereda aposta na continuidade da expansão desse mercado em 2009, apesar da crise. "Imaginava-se em crescer 8%, já se fala em crescer 5%, não se pode dizer que é um crescimento pequeno", disse.

Como demonstração da confiança no cenário, ele destaca que a Caixa não alterou suas condições de crédito imobiliário nem da linha do FGTS (que cobra Taxa Referencial mais 3% ao ano) nem da poupança (TR mais 6% ao ano).

CAPITAL DE GIRO
Instituição responsável por mais de 50% do crédito imobiliário do País, a Caixa deve iniciar, até sexta-feira, a operação de ajuda a construtoras, por meio de linhas de financiamento ao capital de giro.

Anunciada na última semana, como forma de dar fôlego às companhias do segmento, a ajuda inicialmente, envolve montante de R$ 3 bilhões, que pode subir para R$ 5 bilhões, após autorização do CMN (Conselho Monetário Nacional) para utilização de 5% de recursos da poupança.

As linhas serão para financiar 20% do custo de obras, o que costuma somar (sem incluir o terreno) 60% do VGV (valor geral de vendas) dos empreendimentos.

O número de construtoras atendidas vai depender dos lançamentos imobiliários mas o alvo prioritário, segundo Hereda, é atender empresas que já lançaram imóveis e venderam unidades. "Para quem já vendeu, é um compromisso nosso atender. Já tivemos empresas que nos procuraram e estamos conversando", disse.

O executivo destacou que, nesse momento de crise financeira internacional, há companhias brasileiras - não apenas do setor imobiliário - que enfrentam problemas de liquidez (ou seja, capacidade de transformar com rapidez e sem grandes perdas ativos como ações e outros títulos em dinheiro).

"Às vezes, a gente confunde solvência (capacidade para pagar as dívidas) com liquidez. Mesmo as que têm planos de negócios consistentes, com uma crise internacional que estamos vivendo, é natural que haja crise de liquidez", afirmou o executivo, que faz uma metáfora: "É como um soco que a gente leva. Deixa atordoado, mas depois, passa. Após algum tempo, a gente nem lembra mais", disse.

Financiamentos no Grande ABC foram os que mais cresceram

O vice-presidente da Caixa, Jorge Hereda, destacou que no Estado de São Paulo, o Grande ABC foi a região que mais cresceu neste ano em financiamentos imobiliários.

O Estado registra em 2008 até dia 15 de setembro um total de R$ 4,8 bilhões de contratos, que financiam 89 mil unidades. Em todo o ano passado, foram R$ 5,1 bilhões e um total de 204,7 mil unidades.

Nos sete municípios, o ritmo também se manteve forte e o montante já supera o de todo o ano passado. Até o dia 30 de outubro, foram cerca de R$ 392 milhões para cerca de 5.776 contratos. Em 2007, tinham sido aproximadamente R$ 288,5 milhões, que financiaram 5.977 moradias.

"O Grande ABC é um dos pilares do crescimento nacional. Já foi no passado e vai continuar", afirmou Hereda, que destaca que muitas construtoras têm buscado áreas livres no Grande ABC devido à dificuldade de encontrar terreno na Capital.

NO PAÍS - Em todo o País, a Caixa Econômica Federal já realizou neste ano financiamentos imobiliários que somam R$ 18 bilhões (até o último dia 30 de outubro), superando a meta inicial - que era de R$ 17 bilhões para o ano todo - e a expectativa é que supere os R$ 21 bilhões para o fechamento de 2008.

O montante será 50% mais que todo o valor investido pela instituição no ano passado (R$ 17,2 bilhões) e, apesar das turbulências internacionais, a idéia é repetir esse orçamento no ano que vem, segundo o vice-presidente da Caixa. "A Caixa tem 147 anos e já passou por várias crises e sempre se manteve acreditando no País e investindo na área imobiliária", afirmou.




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