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'Menina de Ouro' do Grande ABC pretende dominar o mundo
Por Fernando Cappelli
Do Diário do Grande ABC
27/04/2008 | 07:12
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Há sete anos, Silvana Lima da Silva, de 29, de Diadema, resolveu abandonar a carreira como zagueira de um time de futebol amador da cidade do Grande ABC para se dedicar a uma outra atividade ainda mais radical: o boxe.

O convite aconteceu por acaso e partiu de pugilistas que lutavam na academia ao lado do centro de treinamento de sua equipe. Na época, com mais de 100 kg, Silvana aceitou a oferta por curiosidade.

“Eles usavam as laterais do campo para correr. Um dia, eu e mais duas amigas fomos convidadas para dar uns socos no saco de pancadas. Estranhamos um pouco, mas acabamos aceitando. Com o tempo, minhas amigas logo desistiram. Continuei, e cada vez mais progredi nos treinos. Eu era a única mulher, e mesmo assim treinava de igual para igual com os homens”, disse.

A superação também foi parte fundamental na saga de Silvana no pugilismo. Muito acima do peso, ela se dedicou com afinco nos treinos, perdeu mais de 45 quilos e se estabilizou na categoria médio ligeiro (até 67 kg).

“Já fiz até uma luta oficial contra um homem (o lutador George Freitas). Foi em 2002. Saí vitoriosa. Mas era o começo do boxe feminino no País e as coisas ainda não funcionavam do jeito certo”, afirmou a lutadora, que após 20 lutas invictas como amadora, chegou a abandonar o esporte por falta de apoio.

Anos depois, porém, apostou em uma nova oportunidade, migrou para São Bernardo e até hoje está sob a tutela do professor José Belarmino de Oliveira, o Belocqua.

Na semana passada, a pugilista fez sua estréia profissional contra a lutadora Letícia Rojo, de São Bernardo, franca-favorita no combate devido a sua maior experiência. Porém, ao contrário do que a maioria esperava, Silvana venceu por nocaute no quarto rounde.

“Lutar profissionalmente é bem diferente. Temos de fazer uma preparação mais específica de acordo com a adversária. Consegui uma boa vitória. Agora é me dedicar cada vez mais aos treinos para chegar mais longe”, disse.

Lutadora espera se dedicar exclusivamente ao boxe

Silvana Lima da Silva tem um filho de cinco anos (Ruy) e ainda não tem condições de viver exclusivamente do boxe. A atleta tem de conciliar os treinos diários da nobre arte com alguns serviços de ambulante em sua cidade, para reforçar a renda mensal.

Além da parte técnica do boxe, que envolve muitos golpes no saco de pancada, aparadores, luvas de foco (usadas para aprimoramento dos golpes) e sparring (treino livre de luta), Silvana realiza treinos específicos com pesos, desenvolvidos especialmente para o pugilismo.

“Temos de valorizar sempre a força em seu estilo. Mas o boxe é um conjunto. Desenvolvemos também alguns detalhes para o (soco) direto de direita dela, que considero seu melhor golpe. Treinamos o mesmo golpe, mas com três variações diferentes no ângulo de impacto, o que multiplica as opções de ataque na hora da luta”, explicou o técnico Beloqca. “Embutir a coragem em um lutador é algo bem difícil, mas se bem realizado, reforça sua performance em todos os sentidos”, completou.

Categoria busca maior reconhecimento

O boxe feminino é um esporte que ainda busca maior reconhecimento. Muitos ainda encaram a modalidade de forma exótica e sem maiores pretensões. Mesmo nos Estados Unidos, as lutas ficam restritas, na maioria das vezes, às preliminares.

Mas a seriedade que as lutadoras demonstram chama a atenção. O nome mais conhecido da atualidade é o de Laila Ali, filha da maior lenda de todos os tempos na nobre arte: o peso pesado Muhammad Ali. Jackie Frazier e Freeda Foreman também seguiram os passos dos pais campeões, Joe e George, respectivamente.

E apesar dos nomes famosos, não têm bolsas parecidas com a dos principais lutadores masculinos.

Os combates são realizados com roundes de dois minutos por um de descanso. A disputa pelo título mundial tem dez roundes. As lutadoras usam luvas, protetores de boca e de seios.

Campeã - Mesmo ainda em um período de popularização e consolidação, o boxe brasileiro feminino já tem sua primeira campeã mundial: a lutadora sérvia naturalizada Duda Yankovich, que após vencer diversos combates em território nacional, foi confirmada para a disputa do título mundial da WIBA (Women´s Internacional Boxing Association), na categoria de super leves, contra a veterana colombiana Darys Pardo, em novembro de 2006.

Duda venceu a disputa por decisão unânime dos árbitros. Trouxe o título mundial para o Brasil e atestou, até agora, a única consagração nacional da categoria.




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