Setecidades Titulo Educação
Aluna fica sem aula
por falta de cuidadora

Ana Caroline César Pereira tem dificuldade de locomoção
e já está há uma semana longe da escola em Santo André

Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
08/08/2012 | 07:00
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Ana Caroline César Pereira, 14 anos, não pode mais levar as borboletas desenhadas em sua mochila para a escola. Desde que as aulas voltaram, na semana passada, a aluna da EE Oito de Abril, na Vila Helena, em Santo André, está impedida de frequentar as aulas. Isso porque a cuidadora que auxiliava a jovem, que tem dificuldades de locomoção e usa cadeira de rodas no ambiente escolar, deixou a instituição.

"Mãe, fala para ela que eu quero ir na escola." A via-sacra da doméstica Maria César Pereira, 42, começou quando a filha concluiu o 5º ano, equivalente à 4ª série, na Emeif Vila Junqueira, em dezembro. A jovem, que apresenta sequelas de cirurgia para retirada de tumor cerebral feita aos 2 anos, viu-se obrigada a mudar de escola porque a Emeif não oferece o Ensino Fundamental 2.

A família, então, buscou instituição que pudesse acolher a adolescente. O que encontrou, no entanto, foram apenas portas fechadas. "Mesmo as particulares diziam não ter como receber minha filha. Cheguei a comprar uniforme e pagar a matrícula em uma das escolas com muito esforço, mas quando as aulas iam começar, me disseram que não poderiam atendê-la", afirmou Maria.

A EE Oito de Abril parecia a solução, mas para conseguir cuidadora para a filha, a doméstica precisou entrar na Justiça. Com a ajuda da Defensoria Pública andreense, conseguiu liminar que obrigou a escola a contratar profissional para auxiliar Ana Caroline. A menina, então, passou a frequentar as aulas em maio.

Seus cadernos escolares têm alguns desenhos e atividades de caligrafia, mas, apesar de estar no 6º ano, a jovem não sabe ler, escrever ou reconhecer os números. Os livros entregues pela instituição no início do ano mal foram tocados. "Ela nunca teve um professor que soubesse como ensinar. Mas pelo menos ela tem o convívio social na escola. Só que até disso estão querendo privar minha filha."

Ana Caroline sente falta das amigas, que com letras arredondadas copiam os horários de aulas e algumas das matérias para a menina de tiara de borboleta. Sem asas para voar sozinha, a jovem espera que o Estado cumpra o que determina a Constituição: toda criança em idade escolar tem direito a frequentar a rede pública de ensino. "Não estou pedindo favor. O que quero é garantir a segurança da minha filha enquanto ela está na escola", afirmou a doméstica, que disse saber de casos de alunos da mesma idade que usam fraldas por falta de alguém que os acompanhe ao banheiro.

Enquanto isso, a menina de óculos e sorriso metálico pinta de laranja um coração desenhado no caderno. E espera poder voltar à escola.

Procurada, a Diretoria Regional de Ensino de Santo André informou que providencia, em caráter de urgência, a contratação de outra profissional para auxiliar Ana Caroline, uma vez que a funcionária que a apoiava deixou a função no início desta semana, segundo a nota. Conforme o órgão, a situação deve ser regularizada em dez dias. Neste período, para que não haja prejuízo pedagógico à estudante, a escola encaminhará à residência da adolescente atividades para que ela possa acompanhar o conteúdo das aulas.




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