Cultura & Lazer Titulo Regravações
Uma história de
música e amizade

Produtor musical João Santana lança disco que
descobre facetas de Wilson Simonal e Pery Ribeiro

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
12/08/2013 | 07:00
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Divulgação


Quando foi a uma loja de discos comprar um álbum de Roberto Carlos, o produtor musical potiguar João Santana recebeu, na falta de algo do Rei, um LP de Wilson Simonal (1938-2000) como sugestão. Acabou levando para casa o ‘Nova Dimensão do Samba'. Mal sabia que aquele acaso era o prenúncio de sua amizade com o cantor, que ele acabaria conhecendo dois anos depois, durante uma passagem dele pelo Nordeste.

A amizade de Santana com Pery Ribeiro (1937-2012) veio por intermédio de Simonal. Para celebrar os dois amigos, João traz às prateleiras o disco duplo ‘Pery Ribeiro Abraça Simonal - Dueto com Amigos' (Atração Fonográfica, preço médio R$ 42). O disco pode ser encontrado no site www.atracao.com.br.

A elaboração do projeto deu trabalho. Tudo foi feito em três anos, 300 horas de estúdio e 16 viagens entre Natal, Rio de Janeiro e São Paulo. O resultado explora novas facetas dos dois artistas, e traz, de quebra, participações de gente como Fagner, Alcione, Ângela Maria, Caetano Veloso, Elza Soares, Zélia Duncan e Chico César, entre outros.

Para Santana, além do resgate de temas da safra de Simonal que ficaram relegados com o tempo, no trabalho surge um Pery, que foi principalmente expoente da bossa nova, mais próximo do samba. "É só prestar atenção na interpretação de ‘Embrulheira', um samba-rock com muito suingue. E também em ‘Nem Vem Que Não Tem', que traz um balanço diferente", comenta o produtor.

Os dois cantores, segundo ele, têm em comum a arte de interpretar. "Simonal tinha ligeira vantagem sobre Pery: a improvisação. Mas a briga é de cachorro grande", diz.

Além dos arranjos, que saltam rejuvenescidos na obra, Santana aponta o desejo de ler Simonal de maneira completamente diferente no disco. Por isso, explica ele, Agnaldo Timóteo surge cantando ‘Sá Marina', enquanto, por exemplo, Marina Elali solta a voz em ‘País Tropical'. Além, é claro, de levar a voz do próprio Pery para um terreno diferente do habitual.

Colecionador de histórias da vida de Simonal, Santana teve dificuldade em encontrar gravadora para a prensagem do projeto. "Algumas contestaram o trabalho por estar faltando no repertório alguns sucessos de Simonal, e pela obra conter músicas que o público não conhecia. Queria que esse projeto relatasse alegrias, dores e desabafos de Simonal nos seus devidos tempos, além de lembrar das pessoas que na hora da dor o apoiaram e lutaram com ele de alguma maneira."

Por pessoas que o apoiaram - para lembrar, Simonal passou, a partir dos anos 1970, o resto de sua vida amargando o ostracismo por ter sido acusado de ter contribuído com a ditadura militar. Nenhum documento jamais provou tal relação. Simonal viveu bastante dificuldades e teve problemas com alcoolismo após o episódio -, Santana conta de Chico Anysio, Pelé, Caetano Veloso, Fagner, Ângela Maria e outros.

"Não poderia deixar de fora músicas como ‘De Como Um Garoto Apaixonado Perdoou Por Causa de Um dos Mandamentos', de Chico Anysio e Nonato Buzar, que colocou Simonal na ‘Escolinha do Professor Raimundo' depois de 20 anos de ausência na Globo; ‘Gosto Tanto de Você', composição de Pelé, que o ajudou financeira e moralmente; ‘Aos Pés da Santa Cruz', cantada por Ângela Maria, em cuja casa ele tomava uma sopa especial e tinha as lágrimas enxugadas por ela; ou ‘Noves Fora', de Fagner, um dos poucos que teve coragem de dar uma música para Simonal cantar em um dos tempos mais difíceis."




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