Lula antecipou, antes mesmo do encontro, que os deputados e senadores seriam informados sobre detalhes do processo de transição e das últimas conversas travadas com os partidos aliados e de oposição. A intenção de Lula foi tranqüilizar a bancada e diminuir as críticas ao governo de Fernando Henrique Cardoso — usadas como desculpas para o adiamento da votação da minirreforma tributária, na quarta-feira.

De acordo com o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, a transição de governo tem dois momentos: um técnico e um político. O técnico vai se encerrar quando os relatórios setoriais ficarem prontos e quando o ministério for anunciado. A partir daí, serão feitas as críticas políticas a FHC.

Lula também explicou para os aliados que vai continuar conversando com o PFL e o PSDB, que irão para a oposição. Ele afirmou que não quer isolar politicamente os dois partidos, como o PT foi isolado durante o governo tucano.

A insatisfação de alguns setores do PT com as atitudes da equipe de transição já estão sendo sentidas. A senadora Heloísa Helena (AL) disse, ao chegar no encontro, que esperava uma participação maior da bancada do PT e das instâncias partidárias no processo de formação do novo governo.

"Tanto a bancada quanto as instâncias partidárias devem ser ouvidas. Eu não quero ser ouvida em relação à disputa de cargos, à indicação de nomes. Eu quero ser ouvida, assim como a maioria dos militantes, em relação à concepção programática, aos projetos e definições políticas que serão implementadas pelo novo governo", explicou.

José Dirceu ironizou a fama de ‘ranzinza’ dos políticos do PT. Segundo ele, "pedir para deputado petista ficar calmo é o mesmo que pedir para jornalista não fazer entrevista".

Depois do encontro, o deputado Walter Pinheiro (BA) afirmou que agora o discurso do PT está afinado.

Ministério- Durante seu discurso aos deputados e senadores, Lula disse que não está sofrendo pressões para escolher os nomes de seu futuro ministério. Ele explicou que tem ouvido pouco os parlamentares de seu partido porque está se reunindo com setores da sociedade e da oposição para conseguir sustentação para seu governo.

Lula pediu união para os membros de seu partido. "Temos de mostrar a capacidade de cumprir a expectativa que criamos na cabeça do povo", explicou.

Posse - Os participantes do encontro se emocionaram quando o deputado Luís Eduardo Greenhalg (SP) entregou a Lula uma caneta que pertencia ao metalúrgico Santo Dias da Silva, morto em 1979 por policiais militares durante um piquete de greve em frente à fabrica Silvânia, em Santo Amaro, na zona Sul de São Paulo.

O deputado pediu que Lula assine a posse da Presidência da República com a caneta do metalúrgico. "Todos nós sonhamos com este momento, o de ver Lula subir a rampa, colocar a faixa e mudar a história deste país. Eu pedi ao Lula que, ao subir a rampa, ele pense em todas as pessoas que morreram para chegarmos até aqui. Entreguei a caneta, que ganhei da esposa de Santos Dias, e pedi que ele assine o termo da posse com ela", relatou.

Os prefeitos petistas Antônio da Costa Santos (Campinas) e Celso Daniel (Santo André), assassinados em 2001, também foram lembrados.