"Considero as divergências que temos igual a casal que briga, no dia seguinte faz as pazes e se ama ainda mais." A frase do prefeito de Mauá, Oswaldo Dias, foi a síntese do encontro do PT encomendado para cicatrizar as feridas abertas com o que o chefe do Executivo já chamou de "tentativa de golpe" e selar a união interna para a eleição de outubro, evitando que o racha respingue na pré-candidatura ao Paço de Donisete Braga.

O ato, ontem, no Clube Independente, tentou (e, ao menos superficialmente, conseguiu) mostrar que as diversas alas da legenda estarão juntas para a eleição. A primeira indicação disso foi a reunião de todos os líderes petistas de Mauá, pré-candidatos a prefeituras do Grande ABC, deputados estaduais e federais, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e o presidente nacional da sigla, Rui Falcão. Cerca de 800 militantes acompanharam.

Todos festejaram a chapa de Donisete Braga com o ex-secretário de Obras Hélcio Silva, nome de Oswaldo contra a reeleição do vice-prefeito Paulo Eugenio Pereira Júnior, que, junto ao deputado, liderou articulação há três semanas para impedir o quarto mandato do chefe do Executivo. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, enviou videomensagem celebrando a unidade.

Mas restou dúvida sobre a consistência da unificação. Ninguém se atreveu a mencionar diretamente a manobra. Pelo contrário: todos atribuíram a efervescência interna ao julgamento do Tribunal de Justiça que no dia 21 condenou Oswaldo à inelegibilidade pelo envolvimento no caso Túnel do Tempo - o julgamento ocorreu após a articulação contra o prefeito ser deflagrada.

No primeiro encontro de ambos desde a "tentativa de golpe", Oswaldo e Paulo Eugenio foram mais do que cordiais: um exaltou o outro. Mas o vice fez questão de mostrar aos correligionários de fora de Mauá que ostenta a maioria interna, e que, ao se retirar da disputa, se tornou o principal agente de combate ao racha.

Paulo Eugenio chegou ao Independente com uma hora e 15 minutos de atraso, depois que o palanque já estava repleto de caciques. Atribuiu a demora à dificuldade em encontrar vaga para estacionar o carro. Mas o que ficou evidente foi a estratégia alcançada de concentrar os holofotes em sua chegada. Entre todos, foi o mais aplaudido.

No discurso, recado direto a Marinho e Falcão, que pediram para que ele se retirasse da disputa."No regime democrático, a maioria toma as decisões. Mas a conta aqui não é matemática, é política. E precisamos de todos para vencer a eleição. Por isso, a estadual e a nacional não mandam no PT de Mauá", disparou, ao ser retribuído por sorrisos amarelos do prefeito e do presidente nacional.

"A nacional não está aqui para mandar em ninguém. Ultimamente não mando nem na minha casa", respondeu o mandatário, colocando panos-quentes.

Em desafio a Vanessa, deputado apresenta os pais

O PT escolheu a deputada estadual Vanessa Damo (PMDB) como sua principal adversária à eleição em Mauá. E a parlamentar sequer precisou ser citada para ser atacada no encontro de ontem. Ao convidar os pais Benícia e Gildásio ao palanque, Donisete afirmou: "Meu pai nunca foi prefeito, mas tenho orgulho de apresenta-lo", em desafio à peemedebista, filha do ex-prefeito Leonel Damo.

Rui Falcão entrou na onda. "Entendi quando você (Donisete) chamou os pais, porque pode apresenta-los. Não sei se todos os adversários poderiam." Já Marinho, ao dizer que Oswaldo assumiu Prefeitura "destroçada", concluiu. "O passado que arruinou Mauá deseja voltar com cara bonitinha."

Houve também preocupação com o ego de Oswaldo, nomeado "prefeito de honra" por Falcão. "Será o protagonista da vitória", garantiu Donisete.