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Novela é negócio de alto risco
Por André Bernardo
Da Tv Press
07/04/2005 | 12:10
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Até hoje, ainda não inventaram um produto que fidelize mais o telespectador que novela. Não por acaso, as principais emissoras do país estão empenhadas em montar novos núcleos de teledramaturgia ou em dar continuidade aos já existentes. Mas fazer novelas não é tarefa das mais simples. Tanto que as emissoras sem muita tradição no gênero não têm outra alternativa senão recrutar profissionais da Globo.

O mais recente exemplo de profissional que se aventurou fora da Globo – e se deu bem – é Herval Rossano. Depois da malograda Metamorphoses, parceria da Record com a independente Casablanca, pouca gente acreditava que uma nova versão de A Escrava Isaura faria sucesso. Mas fez. E, por diversas vezes, esteve a apenas cinco pontos de Começar de Novo, da Globo. Para Herval, a maior dificuldade foi escalar o elenco. “No começo, houve relutância por parte de alguns. Muitos ficaram na dúvida porque faltava à emissora tradição em novela. Mesmo assim, depositaram confiança em mim e acreditaram no projeto”, avalia.

Um dos que depositou confiança em Herval foi Tiago Santiago. Depois de 13 anos como colaborador na Globo, ele finalmente estreou como autor na Record. A poucas semanas do final de A Escrava Isaura, Tiago garante que a maior diferença que sentiu entre uma emissora e outra foi a falta de uma cidade cenográfica na Record. “Cidades cenográficas dão agilidade às gravações, mas, por outro lado, as locações têm visual esplêndido. Na Globo, me sentia prata da casa. Na Record, eu me sinto ouro”, diz.

Mas não são todos que têm a mesma sorte de Herval e Tiago. Doc Comparato é um deles. Ano passado, foi contratado para ser consultor de teledramaturgia do SBT. A parceria firmada entre ele e Silvio Santos, porém, terminou há algumas semanas, com uma demissão por justa causa sob alegação de descumprimento de contrato. “Acho isso uma injustiça. Eles não têm causa justa nenhuma para me mandar embora”, protesta o autor, que disse ter entregue ao SBT o primeiro capítulo de Os Ricos Também Choram.

Mas Doc não foi o primeiro a se decepcionar com o SBT. Nos anos 1990, Roberto Talma produziu e dirigiu para a emissora Colégio Brasil e Dona Anja. Mas logo bateu de frente com o dono do Baú. Um dos motivos mais freqüentes de discussão, lembra ele, eram as constantes mudanças no horário das novelas. Na época de Colégio Brasil, por exemplo, Silvio Santos mudou o horário da novela diversas vezes sem o conhecimento do diretor. “O SBT tem as melhores instalações que conheço. Mas aquela emissora não vai para a frente por causa do Silvio”, dispara Talma, hoje à frente de A Lua Me Disse, próxima novela das sete da Globo.

Mas nenhum outro peregrinou tanto quanto Nilton Travesso. Depois de dirigir novelas na Globo, como Sinhá Moça e Direito de Amar, inaugurou núcleos de teledramaturgia na Manchete, SBT e Band. Nesta última, Serras Azuis, de 1998, quebrou um jejum de 17 anos sem novelas. “Naquela época, a Band ainda era o ‘canal do esporte’. Ou seja, as mulheres sequer sintonizavam a emissora. A gente tenta abrir mercados, mas ninguém conquista público do dia para a noite”, pondera Travesso, hoje diretor do Charme, apresentado por Adriane Galisteu no SBT.

Reforço – No processo de implantação de um núcleo de teledramaturgia, outra figura de extrema importância é a do autor. Tanto que a Record tratou logo de contratar três deles, Lauro César Muniz, Marcílio Moraes e Bosco Brasil, todos egressos da Globo. Já Flávio Colatrello, diretor-geral da nova Essas Mulheres, tem passagens pela também global Malhação. Responsável por sucessos como O Casarão e O Salvador da Pátria, Lauro chega à Record depois de 33 anos de Globo. Na nova emissora, está encarregado de escrever a novela que vai inaugurar o horário das 21h. “Fiquei atraído pela idéia de ajudar a abrir um novo mercado. Estávamos muito sufocados nas mãos de uma só emissora. Daqui a três ou quatro anos, vamos brigar de igual para igual com a Globo”, afirma.

Sem condições de contratar um autor de renome nacional, como Lauro César Muniz ou Benedito Ruy Barbosa, a Band optou por uma saída menos onerosa. Recrutou Patrícia Moretzsohn, filha de Ana Maria Moretzsohn, para escrever Floribella, a versão brasileira da argentina Floricienta. Até então, a experiência da moça limitava-se a umas poucas colaborações em tramas da mãe, como Esplendor e Estrela-Guia. “Se entendemos que o folhetim faz parte de nosso dia-a-dia, entendemos também que ele pode e deve ser reeditado sempre. O que precisamos é buscar maneiras cada vez mais interessantes para contar histórias eternas”, diz.



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