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Mutantes longe da farsa
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
29/11/2006 | 20:05
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Ainda bem que a máxima do pensador alemão Karl Marx (1818-1883) – “a história só se repete como farsa”– não precisa, necessariamente, ser aplicada ao cenário musical. O retorno ao mercado fonográfico dos Mutantes, referência no rock brasileiro desde os anos 60, é uma prova contundente disso. Quase três décadas após o encerramento de suas atividades, a banda lança o CD duplo Mutantes ao Vivo Barbican Theatre – Londres, 2006 (Sony-BMG, R$ 46 em média) e DVD (Sony-BMG R$ 50 em média), com o histórico show que marcou o reencontro dos irmãos Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, em maio último.

Ao contrário do que poderiam esperar os céticos e fãs xiitas, o concerto, que contou com a participação do cantor Devendra Banhart (em Batmacumba), não traz fórmulas envelhecidas e uma reprodução pálida do conjunto, que já prepara álbum com material inédito, com lançamento previsto para 2007. À primeira audição do disco, percebe-se que o projeto, com produção musical de Sérgio, foi orientado pela sábia decisão de selar as pazes com o passado e, ao mesmo tempo, focar o futuro.

Sempre discreta, a cantora Zélia Duncan não cai na tentação de imitar Rita Lee,a mutante original, que sequer é mencionada no documentário presente no DVD, e adiciona energia e frescor ao repertório. Radiante e rejuvenescido, Arnaldo dialoga musicalmente com o irmão, e se diverte como uma criança ao piano. Na bateria, o eficiente Dinho Leme nem parece ter ficado três décadas longe de seu instrumento.

Completam a formação do grupo os músicos Simone Soul (percussão), Henrique Peters (teclados, flauta doce e vocal). Vinícius Junqueira (baixo), Fábio Recco (backing vocal) e Esmérya Bulgari (backing vocal). Essa nova mutação da trupe estréia no Brasil em 25 de janeiro, com entrada franca, no Museu do Ipiranga, durante as comemorações do aniversário de São Paulo. O grupo também tem apresentações agendadas no Rio de Janeiro, em Brasília, Goiânia e Belo Horizonte. Em julho do próximo ano, deve retornar aos Estados Unidos.

Vitória – Com o humor e a segurança de quem sabe que venceu a aposta, Sérgio, Arnaldo, Zélia e Dinho concederam entrevista coletiva terça-feira no Hotel Pestana, em São Paulo, para divulgar o novo trabalho. Eles não esconderam o entusiasmo com a performance em Londres, marco zero desta nova fase.

“Foi um show daqueles que não dá para esquecer, quando chegou ao fim, foi que nem estilhaço de granada”, afirmou Sérgio, que ainda merece figurar em qualquer lista com os melhores guitarristas do mundo. Munido de sua lendária “guitarra de ouro” Régulus, construída pelo irmão Cláudio César, ele impressiona pelo virtuosismo em Cantor de Mambo (“homenagem” satírica ao músico Sérgio Mendes) e na música El Justiciero, dedicada ao presidente norte-americano George W. Bush e ao primeiro-ministro inglês Tony Blair.

Polêmica – Sobre a declaração de Rita Lee, que considera os revivals dos medalhões do pop como “a oportunidade para uma monte de velhinhos espertos juntarem dinheiro para pagar seus geriatras”, Sérgio preferiu contemporizar. “Conhecendo a Rita como eu conheço, digo que isso é foclore. A gente não vai dar pano para manga que não vai ser vestida. Ela foi tão generosa com a Zélia e comigo”.

A respeito de sua relação com o irmão, fez questão de ressaltar que os desentendimentos tinham sido superados. “O Arnaldo é o amor da minha vida. É o cara que eu imitava quando era criança, com quem eu vivi 13 anos antes de ser mutante. Não tem como você medir isso”, explicou Sérgio.

“Só consegui perceber que o Sérgio era maravilhoso no show em Londres”, brincou Arnaldo, com um sorriso maroto nos lábios.



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