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Deu certo. O sonho de criar uma biblioteca para o futebol
Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
26/06/2021 | 00:01
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O nosso xará e xará do professor Alexandre Takara – ainda não se conhecem – gosta de futebol desde sempre. Mas o gosto pela pesquisa surgiu pela leitura dos jornais.

Compartilhar. Sempre
Depoimento: Ademir Takara
Gostava de guardar o caderno de esporte. Sempre relia os artigos, em especial os que contavam as velhas histórias do futebol. Nomes como Friedenreich, Leônidas da Silva, Zizinho, Garrincha e Pelé nunca foram nomes do passado, para mim sempre foram personagens do dia a dia.
Conhecer a história do futebol sempre foi mais satisfação pessoal, mas no instante em que passei a trabalhar no Museu do Futebol e no CRFB, passou a ser divertido compartilhar todas as informações guardadas e aprender coisas novas com tantas pessoas que o trabalho permitiu conhecer.

O TRICOLOR
Comecei a torcer pelo São Paulo antes mesmo de vê-lo jogar, com 5 ou 6 anos. Os italianos torciam pelo Palmeiras, os portugueses, pela Lusa, e não tinha nenhum time de japoneses. Optei pelo óbvio, o time da cidade. Sempre fui torcedor de sofá, e só depois dos 30 anos comecei a frequentar os estádios, principalmente o Pacaembu e o Morumbi.

VIAGEM NO TEMPO
Se pudesse retornar no tempo, com certeza viveria todo o período de 1894 a 1960. Acredito que o futebol desse período estava muito mais presente na vida das pessoas. Havia bem menos opções de lazer e o futebol era algo que mobilizava bairros inteiros, com milhares de pessoas cruzando a cidade para ver ou jogar. Existiam campos em todos os cantos, eu queria ver de perto todo esse movimento. 

GRANDE ABC
Quando jovem minha única referência era o EC Santo André, que fez sucesso na década de 1980, e os jogos no Estádio Bruno José Daniel, que assistia pela TV.
A obra que me fez prestar atenção no Grande ABC foi o Almanaque do Futebol Paulista (2000), do Farah Neto e Kussarev Jr., no qual, pela primeira vez, vi a riqueza da história para além de Santo André, São Bernardo e AD São Caetano, o Azulão, com Pirelli, Aclimação, Saad, Cerâmica, General Motors, Transauto, Palestra, 1º de Maio, Irmãos Romanos, Meninos, Volkswagen Clube, isso só no futebol profissional.
 
MEMOFUT
É difícil dimensionar a importância do Memofut. Até pela quantidade de pessoas que já passaram por suas reuniões, seja contando suas histórias, apresentando suas pesquisas, ou somente ouvindo o que outros tinham para contar.

Para mim o Memofut é um contraponto necessário à existência do CRFB e do Museu do Futebol. Não são concorrentes, e sim complementares, cada qual com suas prioridades.

Muitos contatos que hoje fazem parte da rede do CRFB vieram através do Memofut. Da mesma maneira que os memofuters me consultam, também consulto muito eles.
Entrei para o grupo logo depois de entrar no Museu do Futebol. Quem me introduziu foi minha amiga Karina Alves, na época colega do CRFB. As reuniões já eram no Auditório Armando Nogueira, a cada dois meses, depois passaram a ser mensais. Ironicamente, antes da pandemia, não conseguia assistir à reunião inteira, porque tinha de sair às 10h30 para abrir a biblioteca... 

IDOLOS
No futebol meu primeiro ídolo foi o Careca. Gostava tanto dele que virei torcedor do Napoli – por um tempo.
Na vida acadêmica, considero o professor Nicolau Sevcenko (1952-2014) como o exemplo de vida. Ele tinha um conhecimento enorme sobre tudo, de física a futebol, de Coca-Cola a filosofia, e estava sempre disposto a compartilhar, conversar, incentivar todo mundo, sem nenhum pingo de arrogância ou esnobismo.
No Memofut é o Sr. Domingos (Domingos Antonio D’Angelo Jr), a quem visitei numa tarde chuvosa para uma rápida conversa sobre livros de futebol que durou umas sete horas. O papo rendeu até um livro, o Bibliofut – a Literatura do Futebol Brasileiro, com mais de 4.000 títulos de livros e um histórico orientativo com as obras mais relevantes já publicadas no Brasil.

EMOÇÃO
Quando era criança, eu sempre ouvia: “O que você ganha com o futebol? Os jogadores ganham milhões e nem sabem que você existe!”.
Continuei lendo e guardando jornais. Um dia comecei a anotar os dados de todos os livros sobre futebol que encontrava em jornais, revistas, bibliotecas (poucos). Quando essa lista estava em torno de 1.500 títulos resolvi transformá-la no meu trabalho de conclusão de curso de biblioteconomia.

Em 2008 fui aprovado no concurso para bibliotecário da prefeitura de São Paulo. Pouco antes o município de São Paulo transformou algumas bibliotecas em temáticas, como a de cinema, poesia, literatura infantil, ciências etc. Logo pensei, já que eu tinha uma bibliografia de futebol, por que não criar uma biblioteca especializada em futebol?
Em 2011 o Museu do Futebol abriu uma vaga para bibliotecário. Me candidatei e na entrevista contei para a Daniela Alfonsi, na época coordenadora do futuro CRFB, que meu sonho era construir uma biblioteca sobre futebol.

Hoje posso responder com tranquilidade: o futebol me deu um sonho e eu consegui torná-lo realidade, mas o mais emocionante é que consigo compartilhar esse sonho com todo mundo.

HOJE
O atendimento aos pesquisadores continua no Museu do Futebol, mas a distância, por causa da pandemia. São demandas variadas, desde estudantes atrás de orientação bibliográfica, jornalistas atrás de fontes para matérias e pesquisadores atrás de fichas de jogos da 3ª Divisão do Campeonato Paulista.

E-mail crfb@museudofutebol.org.br.

SVP (Sala Virtual de Pesquisa), de segunda a sexta, entre 14h e 16h (agendamento somente pelo e-mail.  Acervo bibliográfico e fotográfico: banco de dados https://museudofutebol.org.br/crfb/busca/.

A biblioteca reúne mais de 4.000 títulos de livros e mais de 400 periódicos. Juntando com trabalhos acadêmicos em PDF, são mais de 15 mil itens bibliográficos.
Só em 2020, ano da pandemia, foram publicados 166 títulos de livros (físicos e digitais).

Vamos precisar de mais prateleiras logo mais. 




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