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‘Pequena notável’, Rio Grande da Serra comemora 57 anos

Com um CEP e sem semáforos, cidade ainda mantém ar de interior; população espera por avanços

Por Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
03/05/2021 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Com clima de interior em meio a agitada Grande São Paulo, Rio Grande da Serra completa hoje 57 anos, tempo contabilizado desde que a caçula da região se emancipou de Ribeirão Pires. Embora tenha essa fama de cidade pequena – por causa de seus 36 quilômetros quadrados de território –, o município já conta com 50.241 mil habitantes, indústria, supermercado e até comércios modernos. No entanto, no que diz respeito aos avanços, ainda mantém suas tradições, um tanto quanto ultrapassadas.

Prova disso é número decorado por praticamente todos os moradores, 09450-000, já que até hoje Rio Grande da Serra tem somente um CEP (Código e Endereçamento Postal) em toda a cidade. Semáforo, então, é um aparato que, para a população local, até parece “coisa de cidade grande”, já que não há nenhum deste item de segurança de tráfego em toda sua extensão.

Outra coisa que até hoje não foi implementada no município é um hospital com maternidade. Com isso, poucas pessoas têm registros de nascimento na cidade e, as que são locais, vieram ao mundo em suas casas, com auxílio de parteiras – o que até hoje é comum por lá.

Quase todos seus pontos históricos estão localizados na Avenida Dom Pedro I, carinhosamente apelidada de ‘rua que vai’, e que reúne em seus 1.000 metros de extensão o Paço Municipal, a Secretaria de Educação, o Teatro Municipal Primeira Dama Zulmira Jardim Teixeira, a pista de skate Sandro Dias Mineirinho, a Paróquia São Sebastião e a estação ferroviária.

No entanto, há um lugar que foi muito importante para o desenvolvimento socioeconômico da cidade, fora do Centro, e que hoje está abandonado, que é o bairro da Pedreira, espaço que, na década de 1920, mantinha uma jazida de pedra bruta explorada pela prefeitura de São Paulo – o local está há quatro quilômetros da região central.

Valquíria de Fátima João Wanderley, 60 anos, mora na mesma casa em que nasceu, por parteira, bem do lado de onde ocorria o minério. Seu pai trabalhou no local até nove meses antes de morrer, com 69 anos e, toda sua vida, desde quando nasceu, foi construída naquele pequeno vilarejo, com pouco mais de 600 metros quadrados. “Isso aqui era muito diferente, mais animado. Em 1990, os trabalhadores passaram a usar método de exploração que fazia voar pedra nas casas, carros e escola. Pedimos para que algo fosse feito, mas extinguiram o serviço que gerava tantos empregos e valorização para a cidade”, contou, lamentando o abandono do espaço. “Acho que a Prefeitura poderia até mesmo investir em restaurar esse local e trabalhar como um ponto turístico”, idealizou Valquíria.

Sua mãe, dona Isaura João, foi a primeira e única parteira do bairro, até Valquíria nascer, a penúltima filha. A ‘mãezinha’, como dona Isaura ficou conhecida, porém, não deixou de ajudar a população e, sem fazer partos, seguiu benzendo as pessoas até o fim de sua vida, há 22 anos, quando aos 75 partiu. “Minha mãe nunca cobrou um centavo para fazer partos ou benzer. Ela fazia por puro amor”, garantiu Valquíria.

Casada com Edésio Cavalcanti Wanderley, 72, Valquíria formou sua família na casa que mantém como relíquia. Mãe de Evandro, 35, e Everton, 30, e avó da pequena Júlia, 3, ela garante que o bairro ainda é “o melhor para se viver”. “Aqui as crianças ainda brincam nas ruas de fubeca, peão, soltam pipa. É um lugar que há troca entre vizinhos e segurança. Só falta investimento do poder público”, lamenta.

Para ela, a cidade “tem tudo para crescer muito mais”. Sem nunca ter morado em outro município, ela conta que dos nove irmãos – cinco estão vivos –, somente três permaneceram em Rio Grande da Serra. “Não saio daqui por nada. Amo esse lugar. É calmo, tranquilo e bom para se viver”, garantiu, pontuando que, como presente de aniversário, gostaria que a cidade investisse na saúde.


Município é aposta de qualidade de vida a quem sai de outros Estados
A ‘pequena’ Rio Grande da Serra não é só habitada por conterrâneos, já há também aqueles que vão morar na cidade por escolha, como é o caso da mineira Maria Helena Batista Portela, 57 anos, que está há 25 no município.

“Nasci em Capitão Eneas, uma cidade do Interior de Minas. Vim para São Paulo aos 17 anos e, quando casei, fui para Ribeirão Pires. Quando pude comprar minha casa própria, escolhi morar em Rio Grande da Serra e sou muito feliz aqui”, garantiu Helena, como prefere ser chamada.

Para ela, que mora na Vila São João, estar perto do verde – já que o território municipal pertence à área de manancial –, o sossego e o acolhimento da população foram fatores primordiais para nunca pensar em mudar de cidade. “Além disso, o custo de vida aqui é mais baixo, o que soma com a qualidade de vida. Amo morar aqui”, disse Helena, lamentando somente a falta de transporte público mais acessível.

Além de poucos ônibus, a linha única de trem, que mantém seu estilo antiquado de porteira (modelo em que os carros esperam o trilho estar vago para atravessar), é o que une Rio Grande da Serra à Capital, que está a 55 quilômetros de distância, além dos demais municípios do Grande ABC. “Trabalho em Santo André e, para chegar lá, preciso ou pegar um ônibus até a linha do trem, ou ir andando até Ribeirão Pires. Além disso, chegamos a ficar até uma hora no ponto esperando o coletivo passar”, frisou a doméstica.

Helena acredita que o município pode ganhar melhorias e avalia que os pontos históricos deveriam ser melhor explorados. “Temos fontes de água pura, a pedreira, a linha de trem e até a igreja. São coisas que podem e devem ser vistas”, enumerou. “Rio Grande da Serra é rica, porém, ao mesmo tempo, é pobre porque sempre foi mal administrada. Meu presente neste aniversário é que a gestão do Claudinho (da Geladeira, Podemos) dê certo”, finalizou.

Como presente de aniversário para a cidade, benzedeira pede mais saúde
Entre os pedidos de presente de aniversário para Rio Grande da Serra – celebrado hoje –, estão os mais variados desejos. Mas, se tem uma área que é mais apontada, é o sistema municipal de saúde.

Benzedeira conhecida na cidade, Josefa Silva Muniz, 72 anos, disse que o município carece de saúde há muito tempo, o que a fez disseminar conhecimentos fitoterápicos ao longo de seus 48 anos na cidade. “Eu parei de benzer as crianças quando tinha 60 anos, porque fiquei doente. Mas, até hoje as pessoas me ligam pedindo receitas caseiras de benzimento e cura”, contou dona Zefa, como é carinhosamente chamada pela população.

A moradora da Vila São João passou 36 anos benzendo crianças contra quebrantes com uma Bíblia e ramos de arruda. Hoje, ensina a fazer chás e banhos que servem como remédios naturais, conforme ela explicou. “Aqui precisa também de cursos para os jovens, áreas de lazer e empregos. Mas é uma boa cidade para se morar, amo Rio Grande da Serra”, finalizou dona Zefa.

Claudinho conta com o apoio de ‘vizinhos’ para superar a crise

Por Daniel Tossato

Em seu primeiro mandato como prefeito de Rio Grande da Serra e procurando alternativas para amenizar as crises sanitária e econômica que assolam o Executivo, Claudinho da Geladeira (Podemos) defende integração entre os municípios.

“Sou o vizinho que pede açúcar e café nas cidades vizinhas. Sempre recebi ajuda dos prefeitos. Pedi ajuda ao prefeito de Santo André (Paulo Serra, PSDB) e fui atendido. Pedi ao meu vizinho de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PL) e fui atendido. Então defendo essa integração não somente na pandemia”, avaliou Claudinho.

Ainda que o Grande ABC mantenha número considerável de casos de Covid, o prefeito de Rio Grade sustenta que os infectados e internados, tanto com casos leves e graves, diminuíram na cidade. A redução seu deu, conforme Claudinho, pelo auxílio recebido de outros municípios da região. “Passamos momentos difíceis, com UPA (Unidade de Pronto Atendimento) lotada. Chegamos a ter cinco pessoas entubadas ao mesmo tempo. Mas recebemos ajuda de outros prefeitos e as coisas foram melhorando. Hoje, ainda que a doença nos traga preocupação, os números se estabilizaram”, declarou.

O prefeito diz que gostaria de realizar evento para festejar o aniversário da cidade, mas com a pandemia ele diz que não há motivos. No município, 80 pessoas já perderam a vida para a doença. “O que vamos festejar? Não há o que festejar. Aqui na cidade quase 100 pessoas já morreram. É tudo muito triste”, lamentou.




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