Economia Titulo Impacto
Indústria perde 20% da receita com feriado

Na região, Ciesps lamentam que não participaram de decisão e setor pode perder clientes

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
26/03/2021 | 00:06
Compartilhar notícia
DGABC


Com o estabelecimento do superferiado que começa amanhã no Grande ABC, as indústrias podem ver encolher entre 17% e 20% seu faturamento mensal. Entra nessa conta a produção reduzida a até um terço de sua capacidade, com a permissão de trabalho de turno de oito horas, até as 17h. O pagamento de 100% de horas extras, ou seja, do dia de trabalho dobrado, pelo fato de ser feriado, ainda não foi considerado, pois as empresas estão negociando compensação com os respectivos sindicatos a fim de não pressionar mais os custos.

A estimativa foi feita por Norberto Perrela, diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Santo André, que inclui Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra e proprietário da metalúrgica Ferkoda, de Mauá. Foi considerada a perda da receita por uma semana, com oito horas de trabalho, já que algumas empresas operam ininterruptamente, em três turnos.

“Não somos contra o superferiado nem contra as medidas mais restritivas para evitar o aumento da contaminação pela Covid, mas sofremos com a falta de diálogo”, diz Perrela. “Deveríamos ter tido a oportunidade de explicar aos prefeitos e ao Consórcio (Intermunicipal do Grande ABC), que deveria agir como catalisador, como funciona a indústria. Trata-se de um setor que trabalha com planejamento e que já comprou insumos para produzir em abril, aliás, mês que costuma ser muito forte para o segmento. Trabalhamos com contrato e estamos sujeitos a multas. Mas soubemos do feriado de uma hora para outra e não conseguimos nos fazer ouvir.”

Segundo Perrela, existe o risco de se perder clientes, uma vez que alguns ramos estão aquecidos e demandam peças e componentes e, em outras regiões do Estado, fora da Capital e do Grande ABC, não existe essa restrição. “É muito difícil conquistar um cliente, mas é mais difícil mantê-lo. E não vivemos estado de calamidade pública em que todas as empresas param ou estão sob as mesmas regras. A restrição maior está aqui. Se ele encontrar alguém que atenda sua demanda em tempo menor do que os das empresas da região, ele compra de outro.”

O diretor do Ciesp de Diadema, Anuar Dequech Júnior, diz que o fato de cada uma das sete cidades ter um decreto confunde muito quem produz insumo e quem fabrica o produto final. Em Diadema, ele conta que a Prefeitura atendeu à demanda para liberar o funcionamento normal das indústrias – assim como em Mauá. Em Santo André, São Bernardo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, por sua vez, a operação deve ser encerrada às 17h. Em São Caetano, o decreto é esperado para hoje. “Além do problema de fornecimento da cadeia, temos aumento de custo porque, diante da indisponibilidade de transporte público, a empresa tem de arcar com ônibus fretado ou dar outra opção para que o trabalhador vá à empresa”, aponta. “E mesmo com a liberação para que a indústria trabalhe durante o superferiado, haverá aumento de custos. Pois temos de pagar 100% de horas extras. Há a possibilidade de se fazer trocas para outros períodos, além de negociar com sindicatos, mas em alguns casos não terá o que fazer”, lamenta.

Ele cita também que, embora as montadoras estejam fechadas no período, muitos fornecedores têm de entregar material no prazo combinado. “Vivemos um período de retomada dos pedidos, após amargar tantos meses de queda. Não podemos deixar de atender.”

Segundo Dequech Júnior, o setor está preocupado com o cenário de agravamento da pandemia, com ocupação de mais de 90% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da região, mas que “o trabalhador está mais seguro na fábrica do que na rua”.

“Seguimos rígidas medidas de segurança. As empresas têm ampliado os turnos para reduzir a aglomeração, é obrigatório o uso de máscaras e álcool gel, as regras mudaram nos refeitórios”, cita Perrela.

Procurado, o Consórcio diz que a antecipação de feriados municipais foi decidida pelos sete prefeitos do Grande ABC, por unanimidade, em assembleia extraordinária, com o objetivo de reduzir a circulação das pessoas e conter a aceleração da pandemia do novo coronavírus na região. “Em um momento em que a ocupação dos leitos de UTI no Grande ABC está próxima do limite, devido à forte alta no número de pessoas infectadas pelo vírus, é imprescindível aumentar o isolamento social para frear o crescimento de novos casos e evitar colapso no sistema de saúde das sete cidades. A ação emergencial visa à preservação de vidas e minimização de danos.”
 

Toyota e Dura Automotive vão paralisar linha de produção

A Toyota, de São Bernardo, e a Dura Automotive, de Rio Grande da Serra, confirmaram a paralisação das linhas de produção na semana que vem por conta do agravamento da pandemia de Covid-19 e atendendo aos decretos municipais que anteciparam os feriados e dispensaram os seus funcionários.

“A medida tem como objetivo contribuir com a redução de circulação de pessoas no momento mais crítico da pandemia no País, além de atender à antecipação de feriados por parte de autoridades em algumas dessas regiões”, assinalou a Toyota, em nota.

A Volks paralisou a produção na quarta. A Mercedes e a Scania iniciam hoje o período de suspensão. O retorno será no dia 5 de abril. A partir de então, a Mercedes informou que haverá férias coletivas para o chão de fábrica, em grupos de 1.200 trabalhadores afastados por 12 dias. O revezamento poderá se estender até o fim de maio, ou terminar antes, dependendo da evolução da pandemia.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano aguarda posicionamento da General Motors.

Conforme o Diário mostrou em reportagem no dia 21, até 19% do quadro de funcionários das fabricantes já foi contaminado por Covid. Dos cerca 30,5 mil trabalhadores das cinco montadoras da região, 4.405 se afastaram desde o início da pandemia, há um ano. Desses, dez vieram a óbito.

 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;