Política Titulo São Bernardo
Por orientação, Suzana criou brecha que favoreceu esquema na gestão Morando
Raphael Rocha
Fábio Martins
21/07/2020 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


A educadora Suzana Dechechi ficou um ano e quatro meses no governo de Orlando Morando (PSDB) na função de secretária de Educação de São Bernardo, justamente no período no qual a Operação Prato Feito aponta que foi montado esquema para desviar recursos públicos na compra de merenda escolar e alimentação na área da saúde. Seu depoimento à PF (Polícia Federal) deixou uma ponta solta de linha em novelo de corrupção que a instituição e o MPF (Ministério Público Federal) indicam existir na gestão Morando.

No indiciamento proposto pela PF, a corporação traz trechos do depoimento de Suzana acerca da denúncia. Então secretária de Educação, Suzana é acusada pelo MPF de, deliberadamente, promover prorrogação contratual com a antiga fornecedora de merenda escolar, a Convida, por prazo de três meses. Depois, por autorizar a contratação emergencial da Pró-Saúde Alimentação Saudável por seis meses. Também é alvo por prorrogar, por 12 meses, contrato já questionado pela CGU (Controladoria-Geral da União) com a Le Garçon Serviços de Buffet.

Em oitiva à PF, Suzana declarou que recebeu orientação para prorrogação por apenas três meses, mas disse que não se lembrava quem deu a ordem. Ela teria sido instada a cuidar da parte pedagógica com a chegada do adjunto Lázaro Leão, que conduziu o certame.

A Pró-Saúde e a Le Garçon são empresas, segundo o MPF, de Fábio Mathias Favaretto, genro do advogado Carlos Maciel, até maio de 2018 homem forte no governo Morando. A Convida pertence ao grupo Denadai. Na acusação do MPF, o curto prazo de prorrogação de contrato com a Convida inviabilizou a realização de licitação, forçando a contratação emergencial da Pró-Saúde. Chamou atenção de procuradores e policiais federais o fato de a Pró-Saúde ter encaminhado proposta já fora do horário estipulado – segundo os investigadores, Morando teria recebido R$ 600 mil para favorecer empresas de Favaretto; ele nega.

O contrato com a Convida terminaria em 14 de julho de 2017. A licitação para substituição da empresa estava na rua, mas o TCE (Tribunal de Contas do Estado) paralisou, no dia 20 de julho de 2017, a concorrência após representação – feita pelo mesmo advogado que suspendeu licitação também sob suspeita, a de distribuição de refeição à rede hospitalar (o contrato desse setor, feito emergencialmente, foi com a Nutrivida Alimentação e Serviços, também de Mathias Favaretto). No dia seguinte, o contrato para fornecimento de merenda escolar com a Pró-Saúde estava assinado.

Diante do cenário, o MPF decidiu denunciar Suzana – além de Morando, Maciel, Favaretto e mais nove pessoas – por peculato e fraude a licitações. “As fraudes perpetradas pela organização criminosa consistiam em criar entraves ao regular andamento das licitações em curso, a fim de que houvesse a necessidade de contratação emergencial por dispensa de licitação.”

Ao falar com o Diário, Suzana declarou que sequer conhecia que seu nome estava na lista de denunciados pelo MPF. Disse que não estava no rol de indiciados pela PF, mas desconhecia a ação movida pelo Ministério Público. “Nunca fiz nada de errado na minha vida (carreira), não cometi qualquer irregularidade. Estou tranquila quanto a isso. Vou me inteirar sobre o teor (da acusação). Minha vida é transparente.”

Suzana foi titular de Educação de São Bernardo entre 1º de janeiro de 2017 e 18 de abril de 2018. No dia 9 de maio, a PF deflagrou a Operação Prato Feito, que trouxe luz ao esquema de fraudes contratuais no governo Morando. Antes de integrar a gestão tucana, exerceu o cargo de dirigente regional de ensino da Secretaria Estadual de Educação por 13 anos consecutivos.

A relação entre Suzana e Morando, porém, nunca foi de harmonia dentro do Paço. Diversos eram os relatos de entrevero entre os dois. Discussões em reuniões de secretariado eram constantes, com Suzana dizendo que não iria cumprir determinada ordem de Morando. Não à toa, em julho de 2017, Lázaro Leão havia sido incorporado ao governo, com carta branca para conduzir processos e licitações. Leão, também denunciado pelo MPF, é acusado de liderar a contratação emergencial da Pró-Saúde, o que ele nega.

A ação corre no TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), sob cuidados do desembargador Nino Toldo. 




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