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Globo exibe último episódio do ano de 'Cidade dos Homens'
Por Renata Petrocelli
Da TV Press
10/11/2003 | 18:13
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Quando surgiu, em outubro do ano passado, a microssérie Cidade dos Homens representava uma saudável inovação em termos de conteúdo e linguagem. Exibida em quatro episódios seguidos durante a Semana da Criança, trazia para a tela da Globo a infância pobre e favelada, que não costuma aparecer nos programas infantis. E também tomadas de câmara nervosas, um ritmo frenético e um estilo muito menos asséptico que o chamado padrão Globo de produção. Um ano depois, não foram só Laranjinha e Acerola, os protagonistas vividos por Darlan Cunha e Douglas Silva, que cresceram. No segundo ano de exibição, a série co-produzida pela O2 Filmes, do diretor Fernando Meirelles, prova que já consolidou um estilo e tem fôlego para novas produções. Nesta terça, às 22h35, vai ao ar o último episódio da safra 2003.

De fato, a mudança na faixa etária dos personagens é responsável pelas maiores e mais aparentes transformações. Agora adolescentes, Laranjinha e Acerola têm preocupações muito mais relacionadas a seus próprios hormônios que ao dia-a-dia da convivência na favela, como acontecia no primeiro ano da série. As histórias estão mais centradas no comportamento dos garotos que na vida do morro. E os dois atores não decepcionam. Afinados pelo trabalho com a equipe de Fernando Meirelles desde o longa-metragem Cidade de Deus, parecem cada vez mais à vontade na pele dos personagens e superaram até pequenos problemas de dicção.

Mas o estilo do trabalho também apresenta interessantes evoluções. Neste ano, Cidade dos Homens aponta visíveis traços documentais na forma de apresentação das histórias. Desde Sábado, que fazia um verdadeiro retrato de um baile funk visto pela ótica dos dois adolescentes, até Tem Que Ser Agora e Os Ordinários, nos quais o espaço da praia era mapeado de acordo com a divisão morro-asfalto, apesar das diferenças pouco aparentes. E mais claros ainda em Dois Pra Brasília, na relação da história com os depoimentos reais de parentes de presos.

O que mais chama a atenção, no entanto, é o fato de Cidade dos Homens já ter uma estética própria. Apesar de cada um imprimir sua marca pessoal, o universo do seriado não perde em personalidade se o episódio é dirigido por Fernando Meirelles, César Charlone, Regina Casé ou Kátia Lund. Os quatro já conseguiram construir uma unidade que é o principal mérito do trabalho. E Paulo Morelli, novato no seriado e responsável pelo último programa, Chapa Quente, não deve ir por um caminho diferente. Até porque acompanhou diversos dias de filmagens dos episódios anteriores e fez questão de conversar com os membros das comunidades onde a equipe trabalhou.

Sendo assim, o programa só tem a ganhar se Fernando investe no relacionamento entre os personagens da própria comunidade ou Regina prefere investigar o contato entre jovens de classes sociais diferentes – como aliás já havia feito em seu episódio do ano passado, Uólace e João Victor. Aumenta-se a gama de abordagens possíveis no interminável universo da série sem, no entanto, perder-se seu elo central, já fortemente representado pelos dois personagens.

Neste sentido, a abordagem de temas ligados ao universo da adolescência foi o maior ganho na longevidade de Cidade dos Homens. A ansiedade dos garotos pela “azaração” no baile funk ou a preocupação com a perda da virgindade – e com o que os amigos pensam que eles já fizeram ou não na cama com as garotas – são assuntos que podem evoluir. Firmar-se como um programa sobre a adolescência de uma classe social não contemplada pela novelinha Malhação – no ar há oito anos – pode ser uma boa garantia para a permanência do seriado na grade da Globo, ainda que seja só uma vez por ano. Temática não falta. E a vantagem é que cada diretor pode abordá-la a seu modo, aumentando ainda mais o interesse sobre o programa.




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