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Genoma paulista mapeia tumor
Valéria Cabrera
Da Redaçao
22/07/2000 | 00:57
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  O governador Mário Covas anunciou nesta sexta que o projeto Genoma Humano do Câncer, desenvolvido no Estado de Sao Paulo, atingiu seu objetivo inicial, que era a produçao de 500 mil seqüências de genes humanos presentes nos tumores mais comuns no Brasil. O trabalho vai ajudar cientistas a desenvolver pesquisas sobre novas formas de prever o comportamento clínico de tumores, elaborar diagnósticos e sugerir novos tratamentos para as doenças. A importância da pesquisa fez com que os parceiros do projeto instituíssem um novo objetivo: 1 milhao de seqüências até o fim deste ano.

O projeto, que teve início em março do ano passado, é financiado pela Fundaçao de Amparo à Pesquisa do Estado de Sao Paulo e pelo Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, que já destinaram mais de US$ 15 milhoes para a pesquisa.

O trabalho de identificaçao das seqüências é realizado pela rede Onsa (Organizaçao para Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos), um instituto virtual que reúne laboratórios espalhados por todo o Estado ligados à Universidade de Sao Paulo, Universidade Federal do Estado de Sao Paulo, Universidade Estadual de Campinas, Universidade Estadual de Sao Paulo, Universidade do Vale do Paraíba, Instituto Butantan e à filial de Sao Paulo do Instituto Ludwig.

Das 500 mil seqüências já descobertas, 270 mil já estao à disposiçao da comunidade científica internacional, depositadas no maior banco mundial de dados genéticos, o GenBank. Segundo o coordenador do Genoma Humano do Câncer, Andrew Simpson, o projeto tem o compromisso de disponibilizar as seqüências de forma rápida e contínua para maximizar os benefícios que elas podem trazer à humanidade.

O câncer é uma doença genética. O aparecimento e a progressao de tumores sao acompanhados por mudanças complexas na expressao do genes. Compreender essas mudanças ajudará os cientistas a entender como o câncer começa e se espalha.

De acordo com dados divulgados nesta sexta pela Fapesp e pelo Instituto Ludwig de Pesquisas contra o Câncer, o projeto Genoma Humano do Câncer multiplicou por 30 o número de seqüências expressas disponíveis de tumores de cabeça e pescoço, que passaram de 3 mil para 100 mil; e aumentou em cerca de 300% o número de seqüências disponíveis de tumores de mama.

No total, a contribuiçao brasileira constitui aproximadamente 20% de todas as seqüências expressas de genes humanos em domínio público, o que coloca o Brasil em segundo lugar em termos de produçao de seqüências. Outros países da Europa, além de Estados Unidos e Japao, também desenvolvem projetos nesta área.

"É um privilégio anunciar esse tipo de pesquisa", disse o governador Mário Covas, "pois posso dizer que o Genoma do Câncer é a conquista do prolongamento da vida humana, do fim do sofrimento das pessoas que têm a doença." O governo de Sao Paulo repassa 1% de toda receita tributária do Estado para a Fapesp, que aplica em pesquisas.

As pesquisas científicas na área de genômica no Brasil começaram, de forma sistematizada, em outubro de 1997, com a estruturaçao da rede Onsa para o início dos trabalhos de seqüenciamento da Xylella fastidiosa. A bactéria causa a praga do amarelinho, que devasta 34% dos laranjais paulistas e provoca prejuízos de R$ 180 milhoes aos produtores do Estado. O trabalho, já finalizado, foi divulgado recentemente e recebeu atençao especial de revistas científicas de todo o mundo.

No fim de 1998, o primeiro desdobramento dessas pesquisas aconteceu com o Genoma Funcional, que hoje desenvolve 21 projetos de pesquisa sobre patogenicidade da Xylella. Em março de 1999, os esforços da Rede voltaram-se para o genoma da espécie humana, com o Genoma do Câncer.

Em abril do mesmo ano começou o seqüenciamento da cana-de-açúcar. Dois meses depois, teve início o mapeamento de outra bactéria, a Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico, já em fase final.

O Onsa prepara agora novos projetos. Estao previstos os lançamentos do Genoma Clínico do Câncer, para análise dos genes associados a doença, e do Genoma Estrutural, que se dedicará ao estudo da estrutura e da funçao de proteínas expressas em células de tumores de câncer.




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