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Globo ressalta suas emoções em especial de aniversário
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
28/04/2005 | 12:12
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“Fábrica de sonhos” e “usina de realidade” foram as definições escolhidas pelo presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu, filho do fundador Roberto Marinho, para apresentar a festa dos 40 anos da Rede Globo de Televisão. O evento foi exibido ao vivo na noite de terça-feira. Hollywood também se alcunhou fábrica de sonhos. E como macaco vê, macaco imita, a Globo está para a indústria do entretenimento audiovisual brasileiro como Hollywood está para o cinema.

Faltava uma gala como a do Oscar para o reflexo se projetar no espelho mágico. Faltava, pois o Claro Hall no Rio viveu sua noite de Kodak Theatre na terça-feira no mais longo auto-elogio exibido ao vivo na história do Brasil, uma festa com quase três horas de duração e que liderou a audiência no horário com 34 pontos de média, segundo o Ibope.

No espírito do Oscar, teve até chão de estrelas para a chegada dos astros e convidados da noite – todos da emissora –, mestre de cerimônias chamando duplas de apresentadores que anunciavam não os premiados, mas os clipes no telão e números musicais. Faltou apenas o choro comovido dos premiados recebendo a estatueta careca – o Jornal Nacional exibiu a inauguração da estátua de Roberto Marinho segurando uma claquete diante do Projac, a materialização da fábrica de sonhos. Careca, pelo menos, era.

Uma série de mesmices manjadas e nada inovadoras foi o que se seguiu à fala do presidente da emissora. Roberto Carlos, o Rei, cantou pela enésima vez Emoções. Antes, fez um breve discurso a respeito das muitas “emoções” proporcionadas pela Globo. Manjadíssimo. A reverência da platéia, que o recebeu de pé aplaudindo como se estivesse ouvindo tudo aquilo pela primeira vez, só podia ser puro puxa-saquismo.

Mais emoções vieram depois, com Lima Duarte chamando pelo nome um por um dos artistas que ajudaram a criar o padrão Globo seguido de um clipe com cenas dos que já morreram – Oscar, de novo. Tarcísio Meira e Glória Menezes completaram 38 anos de Globo onde fizeram 55 novelas e minisséries, Fausto Silva fez 40 anos de profissão e exaltou a liderança aos domingos do seu programa. Glória Pires, que só fez televisão na Globo, desde menina, também foi muito aplaudida.

Para quem tem a defesa da cultura nacional como bandeira nos últimos anos, a emissora insistiu na sua presença internacional, no jornalismo em particular. O casal Jornal Nacional, William Bonner e Fátima Bernardes, destacou reportagens especiais produzidas pelo jornalismo – curiosamente, boa parte delas no exterior.

Na apresentação dos correspondentes estrangeiros, alguns entraram ao vivo de suas respectivas bases e ofereceram um panorama dos países onde a Globo possui escritório. Caso de Sonia Bridi dizendo “bom dia” da China, bordão que o jingle da emissora martela ao longo da programação. No final, o mestre de cerimônias Pedro Bial, que em vários momentos parecia falar para a audiência do Big Brother Brasil, foi beijado no palco pela “tiete penetra” Marinete (Cláudia Rodrigues), uma cena farsesca, combinadinha e sem graça. E encerrou com o “bom dia”.

Chamar a emissora de “olhos, ouvidos e coração dos brasileiros” foi o ápice do auto-reconhecimento. Dita por Roberto Irineu, a frase pode se tornar verdade se for repetida tantas vezes como o “bom dia”, tal qual a propaganda de Goebbels. Por enquanto, a Globo é líder e influencia comportamentos de telespectadores graças ao padrão de qualidade e ao demérito das concorrentes.



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