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FHC afirma que ‘governo acabou’
Por Juliana de Sordi Gattone
Do Diário do Grande ABC
24/08/2005 | 09:05
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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) demonstra estar em franca campanha eleitoral. Na terça-feira, durante entrevista ao Diário, não se conteve e sentenciou a mais alta instituição do país: "O governo acabou". A abordagem é muito diferente da utilizada na semana passada, quando falou com a reportagem. Na ocasião, com tom mais brando, atacou apenas a personalidade política Luiz Inácio Lula da Silva e o PT. Disse que Lula estava acabado e, assim como o partido, havia implodido. Mas não ousou falar do governo federal. Na terça, foi bem mais direto e incisivo no que pensa do momento político atual.

Tucanos que estavam no IFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso), na capital, e presenciaram a entrevista, estranharam a sinceridade do ex-presidente em uma questão tão delicada. "Nunca ele disse isso do governo", surpreendeu-se o vereador de São Paulo José Aníbal.

Embora FHC negue pretensões políticas de concorrer novamente à presidência, a declaração leva a crer que a campanha para 2006 está em franco andamento. Aliás, o súbito interesse pelas questões do Grande ABC é outro indicativo. Em duas semanas, dois prefeitos da região tiveram audiências com Fernando Henrique. No entanto, em oito anos à frente do país, FHC esteve apenas uma vez na região: em 14 de março de 1997, para lançar o modelo Ka, na fábrica da Ford, em São Bernardo. Pouco se comparado ao índice de 13 visitas oficiais alcançado por Lula em apenas dois anos e oito meses de governo.

"Meu interesse não é em termos de administração. Mas do ABC. Eu sempre fui muito ao ABC, até sobre São Bernardo escrevi um livrinho, lá no final dos anos 70, quando Tito Costa era prefeito. Eu tenho, como sociólogo, muito interesse em acompanhar o que aconteceu lá. Humanamente também", justificou. E completou: "Politicamente eu só estou recebendo os amigos, não tem pretensão pessoal".

Na terça-feira, FHC teve audiência com o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PTB), nos mesmos moldes do encontro tido com o chefe do Executivo de São Bernardo, William Dib (PSB), na semana passada. Conversaram sobre política, eleições e crise no governo federal.

Um dos comentários de FHC foi sobre as acusações feitas ao ministro da Economia, Antonio Palocci, pelo seu ex-assessor, Rogério Buratti. "O que eu posso comentar? Ele (Palocci) deu as explicações dele e até segunda prova acho que foi convincente." No entanto, Fernando Henrique ressaltou que não poderia atestar a ausência de problema, exceto quando a investigação terminar. "Então, eu me reservo, mas sempre torcendo para que ele (Palocci) se saia bem."

Segundo Auricchio, o ex-presidente da República deixou claro que a imagem do ministro da Economia não pode ficar arranhada para a condução da economia do país ser perfeita. "Ele teme que avance essa questão das denúncias contra o ministro", revelou o prefeito.

Vinda – O ex-presidente foi convidado por Auricchio a visitar São Caetano e ministrar uma palestra na cidade. "Fiquei muito satisfeito de receber o prefeito de São Caetano, que me convidou para ir à cidade. E eu irei", prometeu.

Desde o começo do ano, Auricchio tem se encontrado constantemente com líderes tucanos, que nunca esconderam a intenção de tê-lo nos quadros do partido. Fernando Henrique não perdeu a oportunidade e lembrou o prefeito da questão. "O convite é permanente. Mas eu não quero forçá-lo. Ele toma a decisão de acordo com as conveniências dele."

Auricchio não quis comentar o fato, mas voltou a citar a empatia muito grande que tem pelo PSDB. "Deixa pra lá essa história de convite (risos). Ele (FHC) não disse que o convite é permanente?"

A semana tucana de Auricchio prossegue nesta quarta-feira, às 15h, em visita ao prefeito de São Paulo, José Serra, na sede da administração paulistana. Para completar o roteiro da semana, só faltaria encontro com o governador Geraldo Alckmin.

Frases

"Político demora muito para acabar. Sempre tem uma sobrevida. É uma fênix, pode renascer."

Questionado se Lula, como político, havia acabado.

"Ano que vem tem eleição. Se a gente considerar que o Lula vai se candidatar, vai prometer o quê? Acabou o Lula, não só o partido implodiu, como o dinheiro vai diminuir."

Sobre a possibilidade da reeleição do atual presidente.

"Combinei com o presidente (Bill) Clinton que, se for aos EUA para a reunião da ONU, almoçaremos juntos para que ele me ajude a encontrar subsídios que reduzam o impacto das mudanças na economia do Grande ABC."

Em 20 de abril de 1998, durante encontro da Organização das Nações Unidas, no Chile, Clinton sugeriu que o ex-presidente tomasse atitudes para que a região não tivesse os mesmo problemas de Detroit.




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