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Comerciante é libertada de cativeiro em Diadema
Por Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
11/04/2006 | 09:45
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Após passar 46 horas em poder de seqüestradores, a comerciante E.A.R. 35 anos, foi libertada ao meio-dia de segunda-feira pela Polícia Civil em um cativeiro feito de tábuas de madeira a 300 metros da represa Billings, na viela Carapeba, na favela do Jardim Marajá, no bairro Eldorado, em Diadema. A vítima foi pega por quatro criminosos armados por volta das 14h de sábado em Taubaté, no Vale do Paraíba, quando voltava do um curso de computação para casa. De acordo com a família, que é proprietária de um posto de gasolina, entre outros negócios, não houve pedido de resgate.

E. foi encontrada com mãos e pés amarrados com fita adesiva e uma bola de meia presa na boca, utilizada como mordaça. Ela estava deitada em um colchão de espuma dentro do casebre, que fica escondido atrás da favela, cercado de mata. O piso do barraco, que tem 3x4 metros, é de terra batida.

A Delegacia Seccional de Diadema prendeu duas pessoas em flagrante – um adulto que teve a tatuagem da perna esquerda reconhecida pela vítima e um adolescente de 15 anos, que estava debruçado na janela do cativeiro quando a polícia chegou. O menor disse à reportagem que iria ganhar R$ 50 para passar o dia "de olho" no casebre. Ele alega, entretanto, que não sabia que o barraco abrigava uma refém. Outras sete pessoas foram detidas nos arredores do cárcere e levadas à delegacia para averiguação. A polícia afirma que vai apurar quem participou e dar continuidade às investigações.

Em depoimento à polícia, a comerciante afirmou que perguntou aos seqüestradores quanto tempo ia ficar presa. Eles disseram a ela que seria solta em 15 dias. Os criminosos também pediram à vítima o telefone do pai dela para fazer o pedido de resgate. E. disse que não foi agredida fisicamente, mas que recebeu um tratamento "mais ou menos" ruim. "À noite, eles me mandavam dormir logo", afirmou à reportagem.

A vítima foi alimentada todos os dias. Mas se negou a beber água, com medo de que os criminosos colocassem sedativos no copo. Comeu arroz, feijão e carne no primeiro dia, ainda em Taubaté. Depois, no domingo, já em Diadema, recebeu pão com mortadela e, à noite, dois pedaços de frango. Segunda-feira, duas horas antes de a polícia chegar, ela se alimentou com pão e presunto.

Um informante da polícia avisou na noite de domingo sobre a existência de um cativeiro no bairro Eldorado. Segunda-feira de manhã, uma denúncia anônima confirmou a informação. "Na madrugada de segunda-feira, dez viaturas caracterizadas, quatro frias e uma moto, cercaram a área para evitar que a vítima fosse transferida. De manhã, vasculhamos barraco por barraco", disse o delegado seccional de Diadema, Sérgio Abdalla. Ele acredita que seja de Taubaté a quadrilha que idealizou e executou o seqüestro.

O seqüestro – E. foi abordada na rua de trás de sua casa, em Taubaté, cidade localizada a 130 quilômetros da capital paulista. Ela guiava seu Corsa cinza e foi parada por um homem armado, que saiu de um carro de cor escura. Outros três criminosos armados desceram de um carro roxo e a cercaram. Ela foi colocada no segundo carro. Os seqüestradores puseram um gorro na cabeça da vítima, tampando seus olhos.

No momento em que foi levada pelos criminosos, pessoas viram a ação e foram avisar a mãe dela. "Tocaram a campainha. Abri a porta e me falaram que tinham levado a minha filha. O mais difícil de tudo foi a espera por um contato dos bandidos, por notícias dela. Fizemos até uma corrente de oração na cidade", disse a mãe.

E. ficou cerca de 30 minutos no carro roxo. O veículo parou e, então, trocaram de carro. Dessa vez, rodaram por cerca de um hora com a vítima, até que pararam em uma casa. Entraram com E. e tiraram o seu gorro. Ela viu que estava em um lugar sujo, com colchão e cadeira de praia. Os seqüestradores vestiam camisetas na cabeça como máscaras. E. comeu arroz, feijão e carne, servido em um marmitex de alumínio. Bebeu Coca-Cola.

Diadema – Quando já era noite de sábado, os criminosos puseram adesivos na boca da comerciante e amarraram os pés e as mãos dela. Ela foi colocada no meio do banco de trás de um carro, entre um homem e uma mulher. Os bancos da frente eram ocupados por outro casal. A todo momento, diziam para ela olhar apenas para o chão. E. diz que foi levada pela via Dutra, porque ela ouviu comentário dos seqüestradores sobre os pedágios. Um dos homens era chamado de Bóris, e uma das mulheres, de Milene.

Chegaram à favela no bairro Eldorado, em Diadema, na madrugada de domingo. Chovia. De manhã, a vítima ouviu barulhos de tiros, vozes de homens e mulheres, crianças brincando e uma mulher xingando um garoto.

A partir de então, até o meio-dia de segunda-feira, a vítima ficou trancada no casebre, amarrada. Uma lata de tinta foi deixada dentro do cativeiro para ser utilizada como vaso sanitário. Ela contou, no depoimento, que os criminosos falaram uma vez que o pai dela não havia mandado o dinheiro, mas que era para ela ficar tranqüila.

Investigação – O delegado seccional de Diadema, Sérgio Abdalla, afirma que vai procurar saber quem são as pessoas que freqüentaram o cativeiro no bairro Eldorado. "Vamos ver se são seqüestradores especializados ou apenas aventureiros", disse Abdalla. Ele acredita que o casebre tenha sido construído há menos de um mês, especificamente para receber a vítima. "Dá para perceber que faz pouco tempo que cortaram o barranco para fazer a casa", afirmou o delegado.




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