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Eixo Tamanduatehy: quadras sem fronteiras
Por José Carlos Pegorim
Da Redaçao 
13/04/1999 | 00:24
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A proposta do arquiteto francês Christian de Portzamparc para a reurbanizaçao da regiao da avenida dos Estados é antes de tudo uma incursao sobre a qualidade de vida nos bairros que se formariam ao longo do seu trajeto. Portzamparc se preocupa com as imagens captadas pelas pessoas que passam pelas ruas ou vivem e trabalham nos prédios da área em questao: a construçao alta ou baixa, o sol que inunda uma casa entre outras, o ar fresco que circula e torna agradável o caminhar e se as ruas do bairro sao acolhedoras ou nao.  

Além de sugerir a remodelaçao propriamente dita do corredor viário, tornando-o mais próximo do modelo de boulevard urbano - e nao apenas uma via de tráfego rápido, como é hoje -, o arquiteto sugere, principalmente, uma regra de construçao para o entorno, a chamada quadra aberta (alinhamento de fachadas planas, deixando espaços livres entre as construçoes).  

O centro de sua atençao está nas relaçoes entre as construçoes e o espaço vazio, oferecendo como resultado um estudo sobre disposiçoes de prédios horizontais ao lado de contruçoes verticais, espaços entre construçoes, critérios de insolaçao e acústica.  

Enquanto os três outros projetos de reubanizaçao da avenida dos Estados se debruçam sobre as condiçoes de inserçao da regiao na metrópole, voltados mais para as ligaçoes das cidades entre si, Portzamparc fala das relaçoes que o homem individual estabelece com a arquitetura.

O projeto - O que o arquiteto francês propoe é que a regiao da avenida dos Estados seja loteada segundo regras especiais que garantiriam coerência urbanística aos novos bairros. Sao terrenos que hoje pertencem às empresas e fábricas estabelecidas no local que, em busca de lugares mais adequados às suas atividades, poderiam liberar áreas para a reurbanizaçao.  

Segundo Portzamparc, o modelo proposto alia "realismo econômico" (nao exige grandes obras de infra-estrutura) e maleabilidade imobiliária para criar novos bairros, com uma qualidade de vida que ele chama de "civismo".

Baseia-se em três pontos: na revisao das grandes linhas de circulaçao (avenidas dos Estados, Industrial e Dom Pedro II, linha do trem e a malha de rios); uma regra de construçao, o quarteirao aberto; e na incorporaçao progressiva dos terrenos, que vao sendo desocupados aos poucos pelas empresas que hoje os possuem.  

O estudo se concentrou na regiao compreendida entre o shopping ABC Plaza, numa ponta, e o complexo em construçao da UniABC (Universidade do Grande ABC). As grandes glebas ocupadas por fábricas desativadas, plantas industriais em pleno funcionamento e terrenos públicos (como a Craisa e a Garagem Municipal) seriam dividadas em nove grandes bairros de quadras menores cortadas por ruas estreitas.  

O jogo de altura entre as construçoes garante nao só a entrada da luz, mas também limita o adensamento (número de habitantes) da área, de tal forma que o volume mais alto é compensado pelo mais baixo. Por outro lado, a diversidade de altura leva à diversidade de construçoes: se um supermercado se faz com três andares, um prédio de escritórios pede 13 ou mais.

A variaçao da altura amplia as possibilidades de construçao e valoriza o terreno, explica o arquiteto francês.A avenida - A avenida dos Estados manteria a funçao de eixo de ligaçao rápida entre a capital e o Grande ABC e ganharia uma marginal para escoar o trânsito local de menor velocidade em direçao aos bairros.  

O urbanista francês nao gasta mais de um parágrafo com a sugestao de cobrir o Tamanduateí e sobre ele construir uma imensa área de lazer contínua. Mas se estende sobre a possibilidade de valorizar as margens dos córregos que cortam a regiao. Admite também que qualquer esforço seria desperdício de dinheiro se o problema da poluiçao nao for resolvido antes. Outra idéia é transformar a faixa de separaçao entre a via rápida e a local num reservatório de contençao de enchentes, que reforçaria os piscinoes em construçao no Grande ABC.  

No geral, o projeto de Portzamparc rejeita soluçoes pirotécnicas. "A intençao foi propor algo realista do ponto de vista econômico, que nao exigisse grandes investimentos, como pontes sobre a linha do trem", explica.    

É certo que entre projeto e realidade há um oceano. Para sair do papel, o projeto de Portzamparc tem de virar uma operaçao urbana - uma série de medidas de revitalizaçao que precisam de leis específicas que terao de ser propostas e votadas na Câmara.




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