A grande demanda coletiva deste fim de milênio, o equilíbrio entre o desenvolvimento tecnológico e a retomada dos valores humanitários, é o pano de fundo conceitual da mostra individual que a paulistana Lynn Carone inaugura em Sao Bernardo a partir da próxima quinta-feira (dia 17). Selecionada para o Programa Anual de Exposiçoes do município, Lynn apresentará um conjunto de instalaçoes e pinturas, obras compostas a partir de material orgânico, como terra, flores, sementes, folhas, sal, carvao e sumo de frutas.

Entre tantas leituras possíveis, vale ressaltar que a obra de Lynn homenageia, com sensibilidade admirável, as formas simples e poéticas da natureza. Ao mesmo tempo - e talvez exatamente por causa dessa aproximaçao com os elementos que permitem a manifestaçao da vida em nosso planeta -, os trabalhos da artista se oferecem como estímulos que se adaptam perfeitamente ao conjunto de expectativas sensoriais das mulheres.

A própria disposiçao das instalaçoes, montadas em varais, pedaços de tecido simples ou fios de nylon ou de cobre, oferece uma ambientaçao purificada, pronta para receber suas intervençoes estéticas. Sobre tecido, por exemplo, Lynn pinta formas florais com o sumo de frutas. As tonalidades obtidas, portanto, variam entre os limites dos vários tons do amarelo e do bordô. Ao mesmo tempo, essas composiçoes também sugerem formas da anatomia feminina. Mas essas manchas podem fazer o observador constatar que, seja lá como tenha sido, a vida de cada pessoa deixa marcas que sao pessoais e intransferíveis: "É como aquelas manchas de vinho tinto que ficam na toalha de linho branco ou o suco das frutas que mancham nossas roupas. Quando elas marcam, elas também rompem com alguma coisa", reflete Lynn.

De acordo com a artista, está em jogo a obtençao das verdades contidas no olhar da mulher - interno e externo: "É um jogo que revela o íntimo e o exterior, o subjetivo e o reflexivo, uma alusao ao macro que remete ao micro. No fundo, quando se propoe uma visao de mundo mais orgânica, todas as coisas e todos os fatos percebidos pelos sentidos se acham interligados".

Peles - Em outras instalaçoes, Lynn organiza uma espécie de gargantilha com pequenas flores secas penduradas em fios de nylon, tudo amparado por uma frágil barra de cobre. Sob o conjunto repousa um punhado de flores secas que parece ter sido produzido quando elas se descolaram dos fios. Lei da passagem do tempo e da gravidade. Rito de transiçao. Notáveis, também, sao as peles criadas pela artista. Aqui, a conexao entre o homem e a natureza é imediata. Espalhadas pelo espaço expositivo, as peles, com folhas incrustadas, podem ser apreciadas sob diferentes ângulos. A funçao das peles, assim como os varais e os estandartes pintados com elementos naturais, é muito mais a de abraçar o visitante do que dividir ambientes.

Formada em Educaçao Artística pela Faap (Fundaçao Armando Alvares Penteado), de Sao Paulo, Lynn também estudou pintura com Carlos Fajardo e história da arte com o crítico Rodrigo Naves. No Grande ABC, além desta mostra em Sao Bernardo, Lynn já expôs em Santo André, em 1995, na Câmara Municipal.