Turismo Titulo Círio de Nazaré
Caminhos de fé

Capital que já foi considerada a Paris da América se prepara
para receber turistas e devotos da maior festa católica do País

Eliane de Souza
Do Diário do Grande ABC
27/09/2012 | 07:16
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"Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Jesus nasceu". A frase é do jogador Claudomiro, do Inter de Porto Alegre, ao chegar a Belém do Pará para disputar partida contra o Paysandu pelo Brasileirão de 1972. O Cristo nasceu onde hoje é a Cisjordânia, a poucos quilômetros de Jerusalém, mas o atleta não errou totalmente ao considerar a capital paraense como local onde a fé fala mais alto. É que em outubro a cidade vira destino de católicos fervorosos que excursionam até lá para prestar homenagens a Nossa Senhora.

O Círio de Nazaré é a maior manifestação religiosa católica do Brasil. A devoção à santa foi introduzida pelos jesuítas no século 18. Um caboclo encontrou réplica da imagem de Maria em um igarapé. Levou-a para casa e a lustrou. Mas a estátua voltou misteriosamente, por diversas vezes, ao local onde foi encontrada. Entendendo que este seria um sinal divino, o caboclo construiu uma capela no local.

Hoje a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré recebe fiéis em procissão todo segundo domingo de outubro - neste ano, no dia 14.

As manifestações de devoção duram cerca de 15 dias. Na Romaria Fluvial, a imagem da santa é levada de barco pela Baía do Guajará e seguida por inúmeros outros barcos, iates e simples canoas de ribeirinhos. Por volta das 11h de sábado (13), a imagem chega ao cais de Belém, de onde segue em carro aberto escoltado por motoqueiros que buzinam incessantemente, anunciando a passagem da santa.

O povo para seus afazeres, sai de suas casas e saúda a Virgem com as mãos levantadas, como a pedir bênçãos. A romaria se estende pelas ruas da cidade até o Colégio Gentil Bittencourt, onde uma outra multidão de fiéis espera a imagem. E à noite, logo após a missa, terá início a chamada trasladação, procissão à luz de velas que simboliza a história do descobrimento da imagem e o retorno ao local de seu primeiro achado. Nesta cerimônia, somente a berlinda da imagem é utilizada no trajeto, em sentido inverso ao do Círio.

A principal manifestação acontece no dia seguinte. A procissão principal reúne cerca de 2 milhões de fiéis em cortejo que dura toda a manhã, percorrendo a distância, de cerca de cinco quilômetros, entre a Catedral Metropolitana e a Basílica de Nazaré.

O Círio é iniciado às 6h, com celebração de missa. Depois, os fiéis seguem para as ruas e se posicionam para o cortejo. Às 7h, o arcebispo conduz a imagem de Nossa Senhora até a berlinda para dar início à procissão. O trajeto até a Basílica de Nazaré é finalizado por volta do meio-dia. A imagem é retirada da berlinda para a celebração litúrgica.

Duas semanas após o Círio, é realizada a procissão de despedida conhecida como Recírio.

 

Pagadores de promessa engrossam a multidão

A procissão é seguida de perto por muitos pagadores de promessas. Eles se concentram na corda, que possui média de 400 metros de comprimento e pesa aproximadamente 700 quilos de puro sisal torcido, que requer maior sacrifício físico e emocional. Enfileirados, homens e mulheres puxam a corda e fazem a berlinda com a imagem se movimentar. São os promesseiros que dão ritmo à procissão.

As velas, ou círios, são feitas de cera, em vários formatos, retratando partes do corpo humano, ou ainda, uma vara de cera da mesma altura do pagador da promessa. As velas são símbolo da fé dos promesseiros, que através delas pagam por uma graça alcançada.

A fé também é materializada em carros de promessas ou dos milagres, que recolhem os ex-votos ilustrativos pelas graças alcançadas pelos fiéis. As crianças também seguem a procissão vestidas de anjo.

O manto é mais um dos símbolos da Festa de Nazaré. A cada procissão, há sempre um novo manto envolvendo a figura de Nossa Senhora. A indumentária tem sempre uma conotação mística, relatando partes do evangelho, e é confeccionada com material caro, pago por doações anônimas.

 

Círio movimenta economia

Mais do que uma celebração de fé, a Festa de Nazaré é usada como mola propulsora do turismo em Belém. A expectativa é de que o Círio atraia 76 mil turistas de fora do Estado a Belém neste mês, além de injetar algo em torno de R$ 60 milhões na economia paraense. Os números são fruto da pesquisa de Perfil e Demanda Turística do Círio de Nazaré, encomendada pela Secretaria de Estado de Turismo em parceria com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e Companhia Paraense de Turismo.

A movimentação na economia deverá crescer em torno de 7% em relação ao Círio de 2011. Naquele ano, os turistas deixaram na capital cerca de R$ 52 milhões. Tomando-se por base 2003, quando os visitantes deixaram no Pará quase R$ 15 milhões durante a festividade de Nossa Senhora de Nazaré, o crescimento esperado é mais que o dobro. Nos últimos dez anos, o gasto dos turistas durante o Círio cresceu 264%.

Em relação à quantidade de turistas presentes na festa, a pesquisa também revela aumento significativo. Nos últimos dez anos, o número de turistas quase duplicou, passando a 95%. Em 2003, o Círio atraiu 39 mil turistas de outros Estados. Em 2011, a quantidade levantada com a pesquisa é bem mais expressiva. Mais de 70 mil pessoas foram atraídas à capital paraense para o Círio.

O levantamento aponta que 14,39% (a maioria) são paulistas. Quanto à faixa etária, o crescimento na procura pelo Círio é maior entre os aposentados, de mais de 65 anos. Em 2011, mais de 30% dos turistas tinham entre 35 e 50 anos. O desafio da capital agora é fidelizar o turista religioso e fazer com que ele conheça também outras atrações do Estado. Atrativos são o que não falta.

 

 

 




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