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Endereços não são o que sugerem
Por Renata Gonçalez
Do Diário do Grande ABC
28/02/2004 | 18:56
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A rápida e, na maioria das vezes, não planejada ocupação urbana do Grande ABC, principalmente a partir da segunda metade do século passado, resultou em inúmeros endereços inusitados, que sugerem algo que nem sempre corresponde à realidade. Alguns exemplos são até enigmáticos: seriam limpas as ruas do Jardim Limpão? Existiria alguma escola carnavalesca no Morro do Samba? Seria o Clube de Campo um recanto ecológico?

As três repostas são negativas, a começar pelo Clube de Campo, bairro encravado às margens da represa Billings, em Santo André. Seu nome correto é Recreio da Borda do Campo, embora quase ninguém o chame assim. Inicialmente, o bairro era centro de atividades náuticas em Santo André, mas acabou sendo ocupado desordenadamente nos anos 80.

Por conta disso, o local convive com problemas típicos de áreas sob proteção de mananciais que sofreram invasões, entre eles falta de infra-estrutura para coleta de esgoto e deslizamentos das encostas, bem como a degradação do meio ambiente.

Atendendo a uma lei municipal, em 1992, as vias do bairro foram batizadas com nomes de animais da fauna típica do Brasil, segundo a assessoria de imprensa do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André).

Entre elas estão: Onça-pintada, Lobo-guará, Cervo do Pantanal, Gavião-real, Baleia- branca, Arara-azul, Jacupemba, Corrupião, Peixe-boi, Ararajuba, Jacaretinga, Tatupeba e Mico-Leão Dourado – esta, a principal avenida do bairro.

Uma pitada de ironia está por trás da origem do Jardim Limpão, favela de São Bernardo que fica entre a Vila Ferrazópolis e o Jardim Silvina. O nome inusitado nasceu na década de 80, após a ocupação do terreno que pertencia à Prefeitura.

Morador e presidente do Conselho Comunitário do Jardim Limpão e Jardim Regina, Ronildo Elias, 48 anos, conta que, naquela época, a fama da favela era exatamente o contrário do que o nome sugeria, daí o apelido. “Isso aqui era um verdadeiro lixão antigamente”, afirmou Elias. Segundo ele, a população despejava o lixo de suas casas no centro da vila – onde hoje é a creche Manuel Torres de Oliveira –, porque a coleta não passava em todas as ruas.

“O lixeiro só chegava até a passagem Salvador (onde ficava o lixão improvisado), e só vinha de vez em quando. Então, o lixo se acumulava e o bairro começou a ser chamado de Jardim Limpão, porque nunca parava limpo”, comentou o morador.

Invasão – Quando o assunto é endereço estranho, Diadema chega a ser um prato cheio. As favelas Morro do Samba, Inverno/Verão e Buraco do Gazuza são alguns exemplos disso. Poucos moradores sabem explicar a história do nome do Morro do Samba, que fica no Jardim Ruyce, em uma área de 29 mil m², invadida em 1990. Um deles é o ajudante Celso Pereira da Silva, 26 anos, que revela uma curiosa versão. “Essa história de Morro do Samba começou logo após a invasão do terreno. Tinha tanta lama por aqui que era comum ver as pessoas sambando no barro. Aí, o nome pegou”, contou Silva.




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