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Boaro abre jogo e coração em despedida do São Bernardo

Após 6 anos, Abobrão sai de cena e fala sobre equipe profissional e relação com presidente

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
10/06/2015 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Depois de seis temporadas e quatro meses, Edson Boaro deixou o São Bernardo. Contratado em 2 de fevereiro de 2009 para coordenar as categorias de base ao lado de Juninho Fonseca, desde então viveu as mais diversas experiências pelo Tigre, chegando a treinar a equipe profissional por dois anos, com direito a um título (Copa Paulista de 2013) e a melhor colocação do clube em Paulistão (nono lugar em 2014).

No entanto, o desempenho no Estadual de 2015 foi ligeiramente desgastante ao técnico, que acabou alvo de intensas críticas da torcida – esta que a cada oportunidade martelava no fato de Abobrão ser cunhado do presidente Luiz Fernando Teixeira – e em comum acordo ele acabou deixando o comando do time. Em busca de dar sequência à carreira de treinador – a qual iniciou em 1998 –, ele acertou na última semana o desligamento do São Bernardo, mas com a satisfação de que quando alguém se referir a Edson Boaro vai lembrar de um profissional do Corinthians, da Seleção Brasileira e do Tigre.

“No São Bernardo, hoje, não teria mais espaço para colaborar. Estou bem consciente de que sigo minha vida, meu caminho e espero ter sucesso, torcendo sempre para que o São Bernardo siga como equipe de Série A-1 de Paulista. Estou feliz pela minha passagem por aqui. Muito gratificante e proveitosa, de aprendizado muito grande, bagagem boa e grandes momentos”, destacou Boaro.

Questionado sobre o mau desempenho no início do Paulistão 2015 (oito pontos em dez jogos), que acarretou em sua saída do comando da equipe, o treinador lamentou o excesso de lesões e a pré-temporada complicada no Paraguai.

“Tínhamos uma tentativa de unir três coisas: baixar custos, fazer boa pré-temporada em lugar com condição e ter o intercâmbio no Paraguai. Foi válido, mas não temos certeza se o clima influenciou nas contusões. Faria de novo? Não. Tivemos ótima pré-temporada em 2014 no CT do Oscar (Águas de Lindoia), o que resultou em grande começo de Paulista. Não perdemos período de treinamento por chuva. Já nos dez dias no Paraguai, em todos tivemos de diminuir o ritmo em treinos, tirar o pé para não ter mais contusões. Mesmo assim, tivemos problemas com o Danielzinho, o Lúcio Flávio...”, lembrou.

“Nunca vi uma equipe ter tantos problemas por contusão quanto esta. Chegamos a ter sete jogadores no departamento médico, sendo cinco fundamentais para a formação da equipe, o que resultou em grande dificuldade. Eu não estava confortável com as contusões, por não conseguir colocar a equipe que achava que deveria colocar. Começamos o campeonato improvisando depois de dois meses para trabalhar”, lamentou.

O único assunto no qual Boaro ficou mais agitado, mas não hesitou em responder, foi o fato de ser cunhado do presidente Luiz Fernando Teixeira. “Para mim foi muito tranquilo até certo ponto, porque estava fazendo meu trabalho, como sempre fiz. Mas a gente vê maldades que existem em relação a isso quando está em situação adversa. Mas não me incomoda. É uma honra muito grande ser cunhado do Luiz Fernando”, destacou. “Nunca precisei dele para sobreviver no futebol. Logicamente que agradeço a oportunidade dada, me ajudou muito, mas nada forçado. Fiquei este tempo todo não por ser cunhado, mas pelo meu trabalho, por aquilo que produzi”, disse Abobrão, que ainda emendou. “Nunca tirei proveito disso, nunca menosprezei ou conquistei algo através disso.”

Agora, livre de qualquer tipo de pressão, ele espera seguir a vida. E busca oportunidades. “Acredito que seja melhor técnico de futebol do que sou como diretor de base. É o que me sinto melhor, estou preparado, o que minha vida inteira proporcionou”, concluiu.


Ex-diretor se diz orgulhoso por base ‘limpa’ no Tigre


Em um futebol no qual as categorias de base estão um tanto quanto influenciadas por empresários e amizades, o técnico Edson Boaro admite, com orgulho: tal cenário não existe no São Bernardo. Nos mais de seis anos como diretor das divisões inferiores do Tigre, Abobrão diz que não há interferência no trabalho, ao contrário do que viu nos cinco meses que trabalhou no Corinthians, em 2007.

“Tenho muito orgulho da base do São Bernardo por ser limpa, por sempre ser tratada com clareza, sem conchavo com empresário e amizade demais com pais de atletas, o que pode influenciar na escalação. O trabalho sempre foi profissional”, disse. “Vi nos lugares por onde passei, principalmente no Corinthians, o que não se deve fazer numa categoria de base. A corrupção, os acertos, escalar ‘xis’ jogador”, comparou.

Boaro falou sobre aproveitamento dos atletas da base no time profissional. Apesar de ser a equipe da região que mais dá chances às crias, o técnico crê que pode melhorar. “É bom. Poderia ser melhor, mas não por culpa de ‘A’ ou ‘B’. Acho que é mais pelo clube necessitar montar times fortes. Então não podemos fazer como Grêmio ou Inter, que colocam em campo cinco ou seis da base. Estamos nos firmando. Em momentos de adversidade é complicado meninos sem experiência manterem o time na Série A-1.”

Tal situação é sinal dos tempos, segundo Abobrão. “Hoje, qualquer menino tem alguém tentando cuidar da vida dele, então não precisa de muito esforço para estar em algum lugar. Isso fica cômodo, o jogador não luta mais por um prato de comida como antes. Atrapalhou muito a formação e o profissionalismo”, concluiu. 




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