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Contos clássicos em antologia
Por João Marcos Coelho
Especial para o Diário
09/09/2001 | 16:40
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A indústria cultural tal como a conhecemos hoje começou a tomar forma no século XIX. E os Estados Unidos constituíram um solo privilegiado para seu florescimento. Uma das provas mais atraentes deste processo é a antologia de clássicos do conto norte-americano América (Iluminuras, 256 págs., R$ 39), que acaba de chegar às livrarias em bem-cuidada edição, com tradução, introdução e pequenas biografias de cada um dos autores selecionados por Celso Paciornik.

Perfeito tradutor literário da agitação da vida moderna, o conto assumiu uma posição central na cultura norte-americana de meados do século XIX em diante – e até hoje é uma de suas marcas mais notáveis. A ficção curta é um gênero difícil de se praticar, pois precisa agregar em poucas páginas texto ágil e envolvente, uma trama que não pode resvalar para o esquemático e a habilidade de ser agudo e cortante no tratamento do tema. O escritor argentino Jorge Luis Borges localiza no conto norte-americano – sobretudo em contos clássicos como estes de América – o caldo de cultura que ajudou a entronizar o gênero como central na ficção contemporânea.

Entre os autores, há muitos bem conhecidos do público brasileiro, como Edgar Allan Poe e seu clássico O Gato Preto (Poe, como se sabe, escreveu um artigo sobre A Teoria do Conto que norteou seu desenvolvimento posterior, e não só nos EUA); Mark Twain (A História do Gaio de Baker), o notável Henry James (A Fera na Selva), Jack London (O Pagão) e Nathanael Hawthorne (Meu Parente, o Coronel Molineux).

Mas o leitor pode deliciar-se com várias descobertas de autores pouco divulgados por aqui, como a excepcional Edith Wharton, que comparece com Febre Romana; Hamlin Garland, com A Volta do Soldado; e Stephen Crane com O Barco Aberto.

A qualidade dos textos em geral é excelente, e por isso mesmo vale a pena deixar América à mão para ler um ou outro conto aleatoriamente. Aí o que vale mesmo são as preferências pessoais. Por isso, fico com Poe, Hawthorne e, principalmente, com a prosa cortante e exata de Henry James. E se fosse preciso ficar com apenas um, seria Poe. Veja como, no trecho do conto O Gato Preto, publicado nesta página, ele consegue já no primeiro parágrafo, injetar tensão, horror lógico e estranhamento familiar em apenas 11 linhas de texto que capturam o leitor e não o deixam mais largar a leitura. Este é o triunfo de uma pequena obra-prima de alta invenção.




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