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Reforma da Previdência leva 12 mil operários às ruas

Sindicato dos Metalúrgicos do ABC organizou ato na Via Anchieta, que ficou congestionada; ideia é aumentar mobilizações em janeiro

Tauana Marin
Do Diário do Grande ABC
10/12/2016 | 07:18
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Marina Brandão/DAGBC


Cerca de 12 mil metalúrgicos pararam o km 18 da Via Anchieta, no sentido Litoral, ontem pela manhã, em protesto à proposta de reforma da Previdência anunciada nesta semana pelo governo de Michel Temer (PMDB). Das 9h às 10h30, aproximadamente, trabalhadores da Toyota, Arteb, ZF, Samot e Magna Cosma, Mercedes-Benz, Ford, Selco, Rassini, Volkswagen, Mahle e Scania fecharam várias alças de acesso à via, o que causou intenso congestionamento.

“A ideia é chamar a atenção de todos mesmo. E o planejamento é o de que no início do ano façamos mais mobilizações e assembleias dentro das fábricas. Não podemos ficar com os braços cruzados diante dessa maldita reforma”, afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. A entidade foi a responsável por organizar o protesto.

A ideia da reforma é fazer com que o governo federal deixe de gastar cerca de R$ 740 bilhões em dez anos, entre 2018 e 2027. Além de fixar idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres. Se aprovadas, as novas regras irão atingir trabalhadores dos setores público e privado.

“Um metalúrgico hoje com 40 anos, que contribuiu durante 20 anos, pela proposta apresentada terá de trabalhar por mais 25 anos para receber 96% do que receberia se fosse aposentado hoje, sem o fator previdenciário. Resumindo, trata-se de reforma que quer tirar recursos dos 90% mais pobres para proteger os recursos dos 10% mais ricos”, exemplificou Marques.

“Estamos dando a resposta sobre essa reforma, e a Capital tem que fazer protestos como este também, em todas as outras categorias. O Brasil precisa se contagiar com essa mobilização dos metalúrgicos do Grande ABC. Nós não podemos, de forma alguma, permitir (que isso ocorra) num grave momento da nossa história, da nossa economia, dessa crise que diminuiu empregos, que está fazendo a gente comer o pão que o diabo amassou”, reforçou o dirigente sindical.


Projeto prejudica os trabalhadores

“Esse projeto é maquiavélico, só serve para prejudicar o trabalhador”. É assim que o metalúrgico Cristiano Gomes, 39 anos, funcionário da Volkswagen, define a proposta da reforma da Previdência Social pelo governo federal. No caso dele, por exemplo, que espera ser realocado pela montadora por ter problemas na coluna e no ombro, apesar de contabilizar 23 anos e meio de contribuição (20 apenas trabalhando na montadora), com as novas regras terá que trabalhar mais 25 anos para se aposentar.

“O que os políticos não sabem é que um metalúrgico de linha de produção, assim como eu, com dez anos de carreira, dependendo do setor já está todo lesionado. E aí, como fica a situação desse trabalhador?”, questiona.

Gomes, que participou do ato ontem na Via Anchieta, acredita no poder das mobilizações. “O governo precisa entender que não pode discutir um tema desse, da reforma da Previdência, por baixo dos panos como foi feito. Na semana que levaram isso para discussão, na calada da noite, o povo brasileiro estava comovido e focado no acidente que matou os jogadores da Chapecoense (time catarinense). Isso não pode ser feito na surdina.”

De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, dificilmente as montadoras mantêm funcionários que possuem mais de 50 anos de idade. “É comum eles já forçarem os mais velhos a aderirem aos conhecidos PDVs (Programas de Demissão Voluntária), até por conta do desgaste físico que implica nossa profissão. Além da questão do salário, estamos falando da piora na qualidade de vida. Isso traz insegurança para nós, trabalhadores.”


Força Sindical propõe idade menor

A Força Sindical propôs aos trabalhadores de sua base levar ao governo federal proposta de redução da idade mínima para a aposentadoria. O presidente da entidade, Paulo Pereira da Silva, Paulinho da Força, disse que vai apresentar à Câmara dos Deputados o estabelecimento de 60 anos para os homens e 58 anos para as mulheres para pedir a aposentadoria, além de garantir transição justa para todos.

Segundo ele, os principais pontos da reforma proposta pelo governo são injustos e prejudicam os mais pobres. “Somos contra a proposta do governo e vamos insistir nas mudanças”, disse. “A Força também vai lutar por uma Previdência universal e sem privilégios.”

A central sindical decidiu ontem calendário de atos contra a proposta de reforma da Previdência de janeiro a março.

As primeiras manifestações serão organizadas pelos aposentados no dia 24 de janeiro, em vários Estados. No dia 25 de janeiro deve haver grande ato na Praça da Sé, em São Paulo, organizado pelo Sindicato Nacional dos Aposentados da Força Sindical.

Nas primeiras semanas de fevereiro estão previstas ações para alertar e esclarecer a população sobre os exageros da PEC da Previdência. Nesse período, segundo a entidade, haverá conversas com os parlamentares visando sensibilizá-los sobre a necessidade de mudanças na proposta. 




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