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Férias escolares inflam acidentes
Por Marco Borba
Do Diário do Grande ABC
08/01/2006 | 08:40
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Médicos e especialistas em saúde infantil alertam para o aumento nos acidentes com crianças e adolescentes nas férias escolares. Isso ocorre, avaliam, porque nos dois períodos (início e meio de ano) a garotada tem mais tempo para as brincadeiras, nem sempre supervisionadas pelos pais. Prontuários dos atendimentos apontam que os casos de luxação e fraturas lideram as ocorrências. Em Santo André, por exemplo, nos meses de janeiro, fevereiro, julho e dezembro a média de acidentes resultantes de quedas entre crianças e adolescentes (zero a 14 anos) foi de 29,25. Na comparação com os meses de março, abril, maio e junho, em pleno ano letivo, a média caiu para 14,75. Esses casos foram atendidos no PA (Pronto-Atendimento) Central.

Os relatos apontam que a criança caiu de uma mobília, escadas ou brinquedos instalados em áreas de playground. Porém, o que chama a atenção dos médicos são as quedas de laje, por causarem desde fraturas a lesões mais graves, como de coluna e cérebro.

De acordo com a pediatra e coordenadora do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de Santo André, Rosa Maria Pinto de Aguiar, parte das quedas de crianças de lajes é causada por brincadeiras com pipa. “Há ainda os casos dos adultos que usam o pavimento para fazer churrasco e estender roupa, entre outras atividades. Nas situações de queda, é preciso chamar o serviço de resgate. Uma pessoa não habilitada para prestar o socorro pode agravar possíveis lesões”, orienta.

Outro dado que chamou a atenção da médica foi o aumento dos casos de queimaduras no período de férias – oito casos em julho e nove em dezembro último, contra três e seis nos meses imediatamente anteriores (junho e novembro, respectivamente).

Segundo a pediatra, em 2002, das 4.374 mortes registradas na cidade, 18 foram de pessoas na faixa etária de zero a 14 anos, vítimas de quedas, atropelamentos ou acidentes de trânsito. O Samu realiza cerca de 3,5 mil remoções/mês.

Estudo de 2002 do Hospital Ermelino Matarazzo (zona Leste da capital) apontou que, em média, 60% dos pacientes internados na neurocirurgia eram vítimas de queda de laje (adulto e infantil). Após essa constatação, o hospital iniciou naquela região trabalho de conscientização para que as famílias instalassem, por meio de mutirões comunitários, grades de proteções nas lajes expostas. Em 2004, os bombeiros registraram no Grande ABC 841 casos de queda de laje.

Em São Caetano, dos cerca de 200 a 250 atendimentos infantis no Hospital Márcia Braido nas férias, 20% se referem a algum tipo de trauma, como luxações ou fratura de braços e pernas, também resultantes de diversos tipos de queda (bicicleta, skate e brinquedos). Nos demais meses do ano, esses acidentes ficam em torno de 10%. Outros casos, como de infecção urinária, gripe e febre são menores nas férias (39%), na comparação com a média de 69% nos demais meses.

De acordo com o coordenador de Saúde da Criança de Diadema, Ulisses Antônio Petriche, em função do calor os casos de virose também apresentam ligeiro aumento. “Não há estatística, é a impressão geral dos médicos do atendimento infantil. Os quadros mais comuns são de diarréia, causada por ingestão de alimentos já em fase de deterioração ou mal cozidos. Outro risco é o da leptospirose (causada pela urina do rato), pois as crianças gostam de brincar na água da chuva.” Os outros municípios da região não fizeram projeções.

No Brasil, desde 2001 a ONG (Organização Não-Governamental) Criança Segura desenvolve atividades de orientação e prevenção a acidentes com crianças e adolescentes até 14 anos. “O Código Brasileiro de Trânsito diz, por exemplo, que crianças até 10 anos têm de ser transportadas no banco de trás, mas não orienta de que forma. É aí que atuamos. Analisamos o que dizem as legislações e atuamos para que sejam melhoradas”, disse a coordenadora da entidade, Luciana O’ Reilly. O trabalho direto com a garotada se dá apenas por meio de palestras de orientação nas escolas. No ano passado, as mensagens com dicas de como evitar acidentes foram levadas a 100 mil crianças. A ONG ainda não tem atuação no Grande ABC.

Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, não é possível precisar a elevação dos casos de acidentes envolvendo crianças no período de férias, já que os atendimentos são diluídos nas diversas esferas do sistema de saúde. O Ministério da Saúde e o Corpo de Bombeiros também informaram não ter estatísticas. O mesmo ocorre nos municípios. Nenhuma cidade da região faz apontamento específico, no máximo desenvolve programas de orientação e prevenção a acidentes. É o caso de São Caetano, com o Férias Seguras, realizado nas escolas.

Proteja seus filhos

Como prevenir acidentes

- Os medicamentos devem estar sempre guardados em local longe do alcance de crianças, em prateleiras altas e armários trancados.

- Não armazenar produtos químicos (querosene, água sanitária etc) em garrafas de refrigerante ou outros potes e frascos vazios de bebidas e mantimentos, ou próximo a alimentos.

- Em caso de acidente, ligar para o serviço de resgate do Corpo de Bombeiros (telefone 193).

Como agir em caso de acidentes

- Observar o ambiente em que a vítima foi encontrada – procurar frascos, garrafas, envelopes ou cartelas de remédios, para tentar identificar o produto que causou o acidente. Lavar a pele, olhos e regiões que possam estar em contato com o produto.

- Em caso de intoxicação, levantar o maior número possível de informações, como nome do produto e finalidade do uso (normalmente são informações constantes dos rótulos).

Pipas e fios de alta-tensão

- Não deixar a criança empinar pipas perto de fios de alta-tensão. Casos fatais ocorrem quando se tenta resgatar pipas que ficam enroscadas nos fios.

Incêndios e queimaduras

- Em caso de incêndio, chamar o quanto antes o Corpo de Bombeiros e informar prontamente o local da ocorrência (rua, número, bairro e ponto de referência).

Tomadas elétricas

- Tomar cuidado, inclusive inserindo protetores – vendidos em lojas de utilidades domésticas e de departamentos – em todas as tomadas da casa. A curiosidade natural das crianças pode fazer com que coloquem os dedos ou algum objeto de metal nas tomadas e sofram perigosos choques elétrico.

Roupas de nylon

- O nylon é altamente inflamável.Tomar cuidado ao aproximar-se de fogões e churrasqueiras usando roupas feitas com esse tecido.

Sacos plásticos

- O plástico pode colar na pele. É importante lembrar-se que se a criança não conseguir se desvencilhar, pode morrer de asfixia.Portanto, tirar sacolas e sacos plásticos do alcance das crianças.

Piscinas

- Se sua casa ou prédio tem piscina, instalar grade de proteção ou convença o condomínio a instalá-la. Vários casos de afogamento de crianças ocorrem a cada ano.

Alimentos quentes

- Se a toalha de mesa tem pontas, dobrá-la. A criança pode puxá-la e derrubar o alimento quente sobre si.

Pilhas

- Se a criança engolir uma pilha cilíndrica ou do tipo botão, usada calculadoras e relógios, levá-la imediatamente ao médico. A ação digestiva fará com que os elementos químicos ocasionem problemas de esôfago, estômago e intestino.

Janelas

- Se você mora em apartamento ou sobrado, não deixar móveis onde a criança possa subir e alcançar as janelas. O ideal é também instalar grades de segurança.

Playground

- Não deixar a criança sozinha. Ela pode subir na escada do escorregador e cair, ou engatinhar por baixo da gangorra e ser atingida.

Objetos

- Manter longe do alcance das crianças objetos pontiagudos e cortantes, que poderão resultar em acidentes para elas e outras crianças.




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