Turismo Titulo República Tcheca
Outono em Praga
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
27/09/2012 | 07:19
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"O outono é mais estação da alma do que da natureza", observou um dia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Talvez por isso, a capital tcheca, Praga, reserve espaço especial às artes nesta época do ano. Enquanto as folhas caem e os termômetros despencam, uma série de exposições passa a conferir outro colorido à cidade. Desta vez, não mais com as tonalidades captadas pelas retinas, e sim com as cores que só os olhos da alma podem enxergar.

Não à toa, uma das mostras mais aguardadas permite vivenciar experiências de toque, sons e aromas sob a mais completa escuridão. Na exposição Invisível, os visitantes são conduzidos por deficientes. Através de sete salas mobiliadas, eles experimentam situações como atravessar a rua ou pagar uma conta de restaurante sem contar com a visão. Algo, no mínimo, inusitado.

Saindo de lá, no entanto, deve-se abrir bem os olhos para conferir cada detalhe da exposição internacional Stuck on the City, que apresentará várias expressões de street art, em fotos e vídeos, na Galeria da Biblioteca Municipal de Praga, enquanto as ruas da cidade serão tomadas por obras, artistas e grafiteiros em ação ensinando a técnica de desenhar e colorir paredes para quem quiser.

Por fim, a Galeria da Cidade de Praga organizará exposição do surrealista tcheco Jan Švankmajer na Casa do Sino de Pedra, que fica na Praça da Cidade Velha. Obras, filmes, esboços, colagens e objetos artísticos poderão ser contemplados pelo público entre 26 de outubro e 3 de fevereiro.

Já na cidade de Brno, a segunda maior do país, o destaque da agenda cultural ficará por conta da Bienal do Design Gráfico. Além de ser a mais antiga mostra do gênero no mundo, o evento abrange várias mostras adicionais, como a Galeria Morávia de Brno, com seis exposições em três prédios diferentes, e a Work from Califórnia, que permite conferir o famoso estilo de vida californiano.

Já na exposição intitulada Duas ou Três Coisas Que Sei Sobre Provo, a reprodução do ambiente revolucionário dos anos 1960 nos Países Baixos vem à tona.

Mas os encantos da República Tcheca vão muito além de suas incursões artísticas. Seus jardins, spas, bares, esculturas, pontes e cenários - tão impecavelmente iluminados que lhe conferiram o merecido título de Paris do Leste Europeu, embora a região seja considerada Europa Central - fascinam qualquer um. Tanto que, no ano passado, 111.567 turistas da América Latina visitaram a nação. Entre estes, 44.153 eram brasileiros, o que representou incremento de 16,8%, posicionando o País como maior emissor de turistas da região, seguidos pelo México (21.963 turistas, com aumento de 27%).

E motivos para brindar a boa fase não faltam. Berço da pilsen, a mãe de todas as louras geladas, a República Tcheca tem o povo que mais consome chope no mundo - 158 litros por habitante ao ano - e possui até spa com banhos de imersão e cosméticos à base da bebida.

De quebra, os tchecos apostam na preservação de suas construções históricas e na desvalorizada moeda local, a coroa (cotada a R$ 0,10), para cativar turistas que não pensam duas vezes antes de se atirar às compras. Definitivamente, os dias de lado B do Velho Continente estão contados.

 

SERVIÇO

Exposição Invisível - Até 23 de dezembro, na Prefeitura da Cidade Nova (Rua Karlovo Namesti, Praça Carlos). Site: www.neviditelna.cz.

Stuck on the City - De 10 de outubro a 13 de janeiro na Galeria da Biblioteca Municipal de Praga e principais ruas de Praga.

Mostra Jan Švankmajer - De 26 de outubro a 3 de fevereiro, na Galeria da Cidade de Praga, que fica na Casa do Sino de Pedra (Praça da Cidade Velha).

Bienal do Design Gráfico -Até 28 de outubro, na cidade de Brno.

 

De comunismo a consumismo

Depois da amigável separação da República Tcheca com a Eslováquia, no chamado Divórcio de Veludo, que estabeleceu fronteiras entre as duas nações em 1º de janeiro de 1993, Praga ganhou ares de mulher sofisticada, orgulhosa das rugas que revelam o seu passado e cheia de planos para o futuro. Obrigada pelos comunistas a dar uma de simplória, ela agora quer mostrar que pode sim ser refinada e entregar-se a alguns luxos.

Com a adesão à União Europeia, a cidade tomou um banho de loja: ganhou hotéis suntuosos, roupas de grife e restaurantes requintados, que se encarregaram de dar um upgrade a ingredientes nacionais para criar pratos bem diferentes das duvidosas refeições de dez anos atrás, servidas por garçons que não faziam a mínima questão de serem gentis.

Resultado? Uma constelação de estrelas Michelin só ofuscada pela profusão de sabores que fazem a fama de restaurantes como o Allegro (no Hotel Four Seasons), o Zátsi, o Essensia (no Mandarim Oriental) e o maravilhoso menu desenvolvido pelo chef do Hotel Kempinski.

A paixão pelo hóquei, por sua vez, passou a disputar os holofotes com esportes mais elitizados, como o tênis de Martina Navratilova e o automobilismo de Tomas Enge. Isso sem falar no golfe. Nos últimos anos, a República Tcheca tem investido pesado na criação de novos campos, além dos 87 já existentes, o que lhe conferiu o apelido de Golf Republic.

Mas nada representa melhor a opulência dos novos tempos do que as lojas de grife. Para quem tem bala na agulha, o quarteirão judaico é um convite à luxúria. Basta uma caminhada pela Rua Parizka para sair com sacolas Hermes, Dior, Gucci, Mont Blanc, Rolex, Burberry, Prada, Cartier e Louis Vuitton. Mas atenção: nesse caso, a regra do câmbio favorável (R$ 1 compra 9,50 coroas tchecas) não fará muita diferença. Depois de um rompante consumista, dá até saudade dos tempos de comunismo.

 

 




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