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Mas a festa continua
Carlos Brickmann
20/09/2020 | 07:19
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Na época em que o Macaco Tião, chimpanzé nascido e alojado no zoológico carioca, fez sucesso como candidato no Rio de Janeiro, um dos seus slogans era ótimo: “Vote no Macaco Tião. O único que já vem preso”.

Pois o Macaco Tião, 14 anos após sua morte, 32 anos após ser candidato, acaba de perder a exclusividade: Cristiane Brasil, presa preventivamente, foi aprovada como candidata do PTB à prefeitura carioca. Mesmo se acontecer uma condenação, diz o partido, ela continua candidata, já que a Lei da Ficha Limpa só a atingiria se fosse condenada em segunda instância.

Cristiane é acusada de participar do núcleo político de uma organização especializada em fraudar licitações entre 2013 e 2017. Já teve problemas anteriores, por outras acusações. Em 2018, foi escolhida ministra pelo presidente Michel Temer, que retribuía o apoio de seu pai, Roberto Jefferson, supremo cacique do PTB, mas sua posse foi vetada pela Justiça.

Cristiane Brasil pode ser eleita para a prefeitura? Não está entre as favoritas. Mas Wilson Witzel também não estava entre os favoritos e ganhou a eleição para governador. Além disso, o eleitorado do Rio tem caprichado nas eleições: dos ex-governadores do Rio, cinco foram presos (sendo que um, Sérgio Cabral, continua na cadeia), e outro, Wilson Witzel, foi afastado, com risco real de impeachment e acusações que podem levá-lo a processo penal. Cristiane Brasil pode ser eleita para a prefeitura, por que não?

Três vezes cloroquina
Está tudo documentado no processo do Tribunal de Contas da União: em dois meses, o grupo Sul Minas multiplicou quase por três o preço dos ingredientes vendidos ao Laboratório Químico do Exército para produzir cloroquina. Em março, o difosato de cloroquina custou ao Exército R$ 488 o quilo.

Em maio, o preço atingiu R$ 1.300 o quilo. Os vendedores explicam: dizem que o IPCA, fabricante do produto, elevou os preços em 300% em março e 600% em abril. Dizem também que o frete internacional subiu 300% e o real caiu 45%. Restam, claro, duas perguntas: se a compra é grande (e o presidente Bolsonaro determinou a produção de 1,75 milhão de comprimidos de 150 mg), por que comprar de importadores e não do fabricante? E para que tanta cloroquina, se o próprio presidente Bolsonaro comemorou a doação de dois milhões de comprimidos dos Estados Unidos para o Brasil?

Bolsonaro, Lula e Moro
A pesquisa de agora é do PoderData: se a eleição fosse hoje, Bolsonaro iria para o segundo turno, com previsão de alcançar 41% de votos. Dois de seus adversários possíveis empatariam com ele: Lula (também 41%) e Sergio Moro (40% a 37%, empate técnico – na última pesquisa, ambos tinham 41%). Os demais, ele venceria: Fernando Haddad, 42% a 34%; Ciro Gomes, com 15 pontos percentuais de diferença; João Doria, 13 pontos de diferença.

Validade
Só que as pesquisas valem para agora, não para daqui a dois anos. Em 1992, o senador Fernando Henrique me disse que temia não se eleger nem deputado federal nas eleições seguintes. Pensava em voltar à universidade. Dois anos depois, foi eleito presidente no primeiro turno. Marconi Perillo, o grande cacique goiano, várias vezes governador, tinha certeza de se eleger senador, ainda mais que havia duas vagas. Ficou em quarto lugar, sem cargo, e nas eleições municipais do mês que vem nem tem candidato em Goiânia. Citando Magalhães Pinto, “eleição e mineração só depois da apuração”.

Fogueira das vaidades
A política de meio ambiente de Bolsonaro, na opinião deste colunista, é uma tragédia. Pior do que ela só as declarações oficiais sobre florestas, água, índios, incêndios – que frequentemente contradizem as informações dadas por órgãos sérios e bem equipados do próprio governo. Mas, convenhamos, o incêndio no Pantanal nada tem a ver com as ações de Bolsonaro. Há fogo também na Bolívia, onde o presidente não é ele. Na repressão à derrubada ilegal da floresta, seu governo falha (e deixa à vontade ocupantes ilegais que põem fogo na mata). Quanto aos governos europeus, é mais fácil dificultar o acesso do agronegócio brasileiro a seus mercados do que buscar eficiência na produção. Não há santos nesta área. Mas que é burrice deixar autoridades oficiais falar o que falam para dar argumentos ao adversário, isso é.

Chineses fazendo casas
A construtora Brosz, de Paulínia, em São Paulo, chamou a atenção de um grupo de investidores chineses, interessado no mercado imobiliário. A Brosz trabalha com construção a seco, quase industrializada: perfis de aço, paredes externas de placas de cimento ou polietileno expandido encaixadas nos perfis, paredes internas de gesso – algo semelhante às casas norte-americanas ou canadenses, em que o aço dá a estrutura e as paredes são leves. No Brasil, utiliza-se muito o perfil metálico, mas com tijolos, o que exige mais trabalho manual e preparo local de argamassa. O custo pode cair muito, o que interessou os chineses.




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