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Indústria química do Grande ABC cresce e enxerga 2020 com otimismo

Na contramão do setor automotivo, ramo ganha nove empresas e cria 1.094 postos de trabalho; Rhodia Têxtil e Braskem vão investir R$ 610 milhões

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
08/12/2019 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Conhecido como o berço da indústria automotiva, o Grande ABC sofre com crise no setor, abalado principalmente pelas dificuldades na exportação de veículos para a Argentina, sua maior cliente, e pelo ritmo lento do mercado interno. Porém, nem só de montadoras vive a região, que reúne representantes de toda a cadeia da indústria química e conta com 919 empresas que empregam 34,6 mil trabalhadores – os dados, os mais recentes divulgados, são de 2018. O contingente aliás, teve acréscimo de 3,26% em relação a 2017, o que significa a criação de 1.094 vagas. O segmento também ganhou nove firmas, alta de 1%.

Os números são da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), levantados pelo Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano) a pedido do Diário

É possível notar que, apesar dos impactos da crise econômica, o número de trabalhadores do segmento no ano passado chegou ao melhor nível na região desde 2016. Números da indústria em geral, para efeito de comparação, apontam redução de 1.774 postos de trabalho no ano passado, na comparação com 2017, totalizando 180,3 mil empregos. 

Mesmo também sofrendo as consequências da crise econômica, o ramo químico conseguiu se manter sem grandes demissões e atualizando o parque fabril da região com investimentos. O segmento é essencial a demais setores da indústria, já que é a partir de materiais confeccionados nas plantas da região que se produzem embalagens, itens de plástico e borracha, produtos cosméticos e de limpeza, roupas, etc. E, no Grande ABC, 60% da arrecadação de Mauá provém do setor e, de Santo André, 30%. 

Para manter a perspectiva positiva para o próximo ano, a indústria química destaca a importância de o governo oferecer o gás natural a preços mais competitivos, já que, segundo empresários, o insumo custa até quatro vezes mais no Brasil do que nos Estados Unidos e na Europa. 

“O gás tem peso relevante na nossa matriz de custos. Então, esse trabalho do governo de não deter mais o monopólio e realmente mudar a regulamentação gera expectativa importante. No polo, a gente consome nafta (derivado de petróleo) e gás de refinaria. Então, seria muito importante a gente ter acesso à matéria-prima do pré-sal”, relatou o presidente do Cofip ABC (Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC), Luís Antônio Pazin.

O polo petroquímico atualmente mantém 2.500 empregos diretos e 7.500 indiretos, totalizando 10 mil. Pazin destacou que a retomada da competitividade é importante para criar mais oportunidades. “Quando o PIB começar a crescer, toda a economia vai girar. Nós somos indústria que tem conhecimento e tecnologia, e o que a gente precisa é de ambiente de negócios favorável. Temos perspectivas boas tanto no mercado interno quanto no externo”. afirmou Pazin. 

Entre as indústrias do setor, a Rhodia – que já fez aportes de modernização em 2017 –, que emprega 600 funcionários, vai investir R$ 10 milhões na planta andreense no próximo ano. A Braskem também realiza investimento de R$ 600 milhões até 2021.

A unidade da Rhodia Têxtil responde hoje por 33% do faturamento do grupo e o vice-presidente global de fibras e poliamida, Renato Boaventura, acredita que esse peso pode aumentar. “Os nossos fios funcionais e sustentáveis (como o amni soul cycle, que é biodegradável e reciclável e o amni dynamuic, de secagem rápida, utilizado na confecção de peças esportivas, feitos na região) representam hoje um terço das nossas vendas, e eu acredito que em até dez anos, ou até antes disso, serão 100%. Nossos produtos aqui serão 100% sustentáveis e funcionais, e o que eu vejo daqui para frente é continuar nessa trajetória”, destacou, afirmando que aposta em um consumidor cada vez mais engajado em sustentabilidade (leia mais abaixo).

Boaventura também acredita na expansão do setor na região, com potencial para superar o automotivo. “Nós já temos uma instalação química industrial na região e, com certeza, com potencial de crescimento.” 

O presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, Raimundo Suzart, também acredita na perspectiva de retomada, inclusive do emprego. “A indústria química da região tem potencial muito grande. De todos os produtos de tinta imobiliária do Brasil, quase 70% vêm do Grande ABC. Isso sem falar do polo e da indústria de plástico e cosméticos. Além disso, a base de qualquer indústria é química”, disse.

Companhias se preocupam com o meio ambiente

Apesar da fama de ‘poluente’, as empresas do setor químico têm a sustentabilidade como uma das principais preocupações. Isso acontece desde a emissão de gases no processo produtivo e até mesmo no item final.

O Polo Petroquímico, que iniciou suas atividades na década de 1970 e fica entre as cidades de Santo André e Mauá, inserido em área residencial – diferentemente de outras regiões do País – utiliza a água industrial 100% de reúso como fonte de abastecimento. “Trata-se de um projeto com apelo ambiental super importante, arrojado e pioneiro que foi desenvolvido em 2013, o Aquapolo”, afirmou o presidente do Cofip ABC, Luís Antônio Pazin, que também destacou aporte de R$ 600 milhões da Braskem, que prevê a troca de turbinas à base de vapor por motores elétricos de alto rendimento, com energia alimentada por gás residual do processo de produção petroquímica.

Centenária, a Rhodia, que tem fábrica na Avenida do Estado, também utiliza água de reúso e não despeja resíduo no Rio Tamanduateí. “Possuímos em Santo André unidade de reciclagem química de nylon. Nós entendemos que temos papel importante para reduzir o impacto ambiental e promover a circularidade na indústria têxtil”, disse o vice-presidente de fibras e poliamida, Renato Boaventura. 




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