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Câncer de próstata causa quatro mortes por mês no Grande ABC

De janeiro a agosto, 312 pacientes precisaram ser hospitalizados na rede pública da região e 32 morreram devido à doença

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
04/11/2019 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O gerente de projetos aposentado Jorge Luiz Sevciuc Maria, 63 anos, retirou há um ano um tumor maligno da próstata. O morador de Santo André teve um avô com a doença, por isso, desde os 45 anos faz acompanhamento periódico. Apesar disso, quando descobriu o tumor, o câncer já estava avançado e tomava 80% do órgão. “Por conta da minha fisiologia, o exame de toque não detectava e demorou para o exame de sangue apresentar alguma alteração”, relembrou. A cirurgia foi realizada em hospital privado e, após 35 sessões de radioterapia, o acompanhamento agora é trimestral. “A cirurgia foi muito bem feita e hoje tenho uma qualidade de vida excelente”, elogiou.

De janeiro a agosto deste ano, 312 pacientes precisaram ser internados em hospitais públicos do Grande ABC em decorrência do câncer de próstata. Os dados são do Datasus (banco de dados do Ministério da Saúde), que também mostram que, no mesmo período, foram registrados 32 óbitos causados pela doença – quatro por mês. 

No Novembro Azul, a entidades médicas oncológicas se dedicam a combater a doença que tem como um dos principais inimigos o preconceito e a desinformação. O câncer de próstata é a segunda maior causa de morte por câncer em homens no Brasil e, de acordo com a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), a média de óbitos no País é de 42 vítimas por dia.

Patologista clínico da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Adagmar Andriolo explicou que muitos homens têm preconceito em procurar o urologista por conta do exame de toque, mas que isso tem mudado aos poucos, graças à cobrança das companheiras e ao trabalho de divulgação da mídia sobre as mobilizações contra a doença. Andriolo destacou que também é grande o temor do diagnóstico e que, por isso, muitos homens acabam não procurando o médico. “É preciso frisar que nem sempre há necessidade de cirurgia e, mesmo quando isso é feito, o paciente consegue ter uma excelente qualidade de vida após o procedimento”, pontuou.

O médico relatou que quando diagnosticado em fase inicial, as chances de cura do câncer de próstata são superiores a 90%. “Atualmente existem diferentes tipos de tratamento, muitos que dispensam a cirurgia. Consequências como impotência sexual ou incontinência urinária, que assustam os pacientes, são observados em casos raros”, garantiu.

O câncer de próstata é uma doença mais comum em homens a partir dos 50 anos. Assim como em outros tipos da doença, o fator hereditário responde por cerca de 10% dos casos, sendo a idade o principal agente de risco. O especialista ponderou que existem estudos que associam os tumores malignos da próstata com infecções do órgão, possivelmente associados a um grande número de parceiros sexuais ao longo da vida.

É também a partir dos 50 anos que os homens devem consultar o urologista, que vai fazer a investigação necessária sobre a possibilidade do paciente desenvolver a doença e, se preciso, realizar tanto o exame de toque quanto pedir exames complementares, como ultrassom de próstata e um teste chamado de PSA (dosagem de antígeno prostático específico), feito através de exame de sangue. 

O urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Alex Meller destacou que, caso haja parentes de primeiro grau que já tiveram o câncer, o acompanhamento médico deve começar aos 45 anos. O especialista apontou que dificuldade para urinar e dor na bexiga podem ser indicativos de alguma anormalidade.

Prefeituras se mobilizam para ações no Novembro Azul

Prefeituras intensificam as ações de combate ao câncer de próstata durante todo o mês de novembro. No dia 14, o auditório do CHM (Centro Hospitalar Municipal) de Santo André recebe palestra sobre a saúde do homem. Na US (Unidade de Saúde) Paraíso serão realizados grupos de atividades físicas às terças e quintas-feiras, as 7h; caminhada às segundas, as 9h; e terapia em grupo (quarta-feira). No dia 15, na US Jardim Sorocaba, será realizada ação de conscientização. 

Em São Bernardo, entre hoje e sexta-feira, das 8h às 17h, as 34 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) do município ofertarão exames preventivos para a saúde do homem, com foco nas doenças crônicas e câncer de próstata. O dia ‘D’ do Novembro Azul será realizado no sábado. Também haverá palestras educativas, orientação de saúde bucal, saúde mental, testes rápidos, entre outras atividades, de acordo com a programação de cada unidade. 

Em São Caetano, segundo a administração, as equipes de todas as unidades de saúde estão preparadas para alertar e conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.

Em Diadema, as UBSs estarão decoradas para a data e desenvolvem, ao longo de novembro, atividades específicas para o público-alvo. A Prefeitura divulgará as ações no decorrer do mês. 

Mauá promove agenda entre quinta-feira e o dia 29 de novembro em todas as UBS e nas USFs (Unidade de Saúda Família), com palestras de prevenção, exames de PSA (dosagem de antígeno prostático específico), terapia em grupo, roda de conversa e outras ações.

Durante todo o mês, a Prefeitura de Ribeirão Pires realizará atividades para chamar a atenção da população sobre a importância da realização de consultas e exames de rotina. O foco será a quebra de tabus relacionados aos exames e consultas necessários para o diagnóstico dos casos de câncer de próstata. Em todas as UBSs e USFs serão realizadas palestras e atividades de conscientização. E, em 26 de novembro, será promovido o ‘Dia Azul’, com ação de conscientização para a população. 

Rio Grande da Serra não informou as ações até o fechamento desta edição. 

Instituto dissemina informações sobre a doença

Há 11 anos, o Instituto LAL (Lado a Lado pela Vida), organização sem fins lucrativos, se dedica a divulgar informações sobre o câncer de próstata e também sobre outras neoplasias, como de pulmão e tumores femininos. Marlene Oliveira, presidente da entidade, explicou que além de falar sobre o tema e promover campanhas educativas que quebram paradigmas e preconceitos, o LAL tem atuado no que ela chama de “pressão cidadã”, para influenciar os tomadores de decisão que atuam no governo e parlamento a ouvir as demandas da sociedade civil.

O instituto não tem atuação na área médica. “Nosso trabalho é transmitir informação e atuar como parceiro da população, contribuir para dar voz ao paciente e, principalmente, empoderá-lo para que atue. A saúde é um direito de todos, mas entendemos que para ter direito também temos de cumprir nosso dever como cidadão”, explicou a presidente.

O alcance da iniciativa é medido em números. Só em 2018, as campanhas atingiram 100 milhões de pessoas em ações de rua, eventos, palestras, distribuição de material em eventos de grande audiência, como estádios, por exemplo, divulgação em emissoras de rádio e TVs do País todo e mídias sociais. Marlene reforçou que especialmente com relação ao câncer de próstata, são muitos os preconceitos. “Por isso é fundamental o diálogo aberto com o médico, para que o paciente entenda o seu caso específico. Quanto antes for o diagnóstico, melhores serão as opções de tratamento.” 




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