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Contra tudo que está aí

Sabe por que Aécio Neves não foi à manifestação de domingo, e por isso foi vaiado?

Por Do Diário do Grande ABC
15/04/2015 | 07:00
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Sabe por que Aécio Neves não foi à manifestação de domingo, e por isso foi vaiado? Porque não é bobo: sabe que, se fosse, seria vaiado ao vivo. A manifestação foi contra Dilma, contra o PT, contra a ladroeira; mas também, e especialmente, contra tudo que está aí. Isso inclui juízes e parlamentares que não perdem oportunidade de buscar mais vantagens; e inclui, com destaque, a oposição que não se opõe, e que, quando está no governo, também se lambuza nas lambanças.

E há motivos para esta aversão a tudo isso que está aí. Fala-se em cortes de investimentos, o desemprego avança, os juros explodem, mas os gastos do governo em cartões corporativos continuam crescendo – e são secretos. Sobem salários e vantagens de parlamentares e juízes. Pede-se economia de água nos Estados em que há estiagem; a Sabesp, empresa de saneamento básico do governo paulista, reclama da queda de rentabilidade que atrapalha novos investimentos, mas o bônus dos diretores foi confirmado. Uma graninha extra é sempre útil.

Resultado: pesquisa feita na manifestação pela Universidade Federal de São Paulo mostra que 76% não confiam em Aécio (22,6% confiam). Serra? Havia 75,4% contra, 23,8% a favor. Bolsonaro? Nem 20% o acham confiável. E, lembremos, não havia petistas, dilmistas ou lulistas na manifestação. Eram todos contra eles – e o resultado, para a oposição, foi ruim assim mesmo. O antipetista mais bem avaliado foi Geraldo Alckmin, com 29% (nem um terço!) Mas proporção quase igual, 28%, não confia nele. É preciso escutar direito a voz das ruas.

Contra isso – 1
No primeiro trimestre, o governo federal gastou R$ 9 milhões (em que? Segredo!) com cartões corporativos. Só a Presidência torrou R$ 2,8 milhões. E, na conta, ainda faltam parcelas: só 24 dos 39 ministérios informaram as despesas.

Contra isso – 2
Com a seca em São Paulo, o governo estadual ofereceu descontos a quem economizasse água, e a Sabesp teve de executar obras de emergência. Com isso, seus lucros caíram 53% em 2014. Sem recursos, a Sabesp reduziu investimentos em esgoto e pediu que o aumento de tarifas atingisse 13,8%. Mas os bônus são sagrados: sete diretores receberam, no total, R$ 504 mil, conforme relatório da empresa. É o prêmio pelo desempenho que tiveram no ano passado (e que levou, já em 2015, à troca de presidente, tão bons tinham sido os resultados anteriores).

Contra isso – 3
Não, não estamos falando do empréstimo de pai para filha, com linha de crédito do BNDES, a juros inferiores a 5% ao ano e com alguns anos de carência, concedido pelo Banco do Brasil a Val Marchiore, ex-participante do programa Mulheres Ricas. Falar desse empréstimo poderia parecer inveja (e seria). Falemos dos financiamentos do BNDES à Odebrecht e à Embraer, que recebem a maior parte do crédito do BNDES a negócios internacionais (81% dos US$ 12,29 bilhões emprestados entre 2009 e o primeiro trimestre de 2014). A Embraer, OK: vende aviões financiados, mas garante o pagamento ao BNDES se o comprador falhar. O próprio avião é uma garantia, já que o BNDES pode retomá-lo por falta de pagamento. Mas a exportação de serviços é diferente: se o comprador final não pagar, o rombo fica com o banco. O Tesouro é bonzinho, paga.

Contra o financiador
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, deve depor hoje na Comissão de Infraestrutura do Senado. Se até lá o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, continuar chateado com o governo, Coutinho terá de enfrentar dia difícil. Vão perguntar-lhe até como os gastos do BNDES passaram de R$ 47,1 bilhões em 2005 para R$ 190,4 bilhões em 2013. E há números em abundância, apurados pelo jornalista Eduardo Militão, da excelente publicação Congresso em Foco, para embasar o interrogatório. As coisas só ficarão mais tranquilas para o presidente do BNDES se o presidente do Senado tiver recuperado o bom humor. 




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