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'Marina Silva terá empresário de São Paulo como vice', diz Penna

Presidente nacional do PV afirma que Roberto Klabin é o preferido; tática foi adotada por Lula em 2002

Por Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
21/09/2009 | 07:00
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Após o enorme impacto causado pela filiação da senadora Marina Silva, para disputar a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva, o PV começa a discutir internamente quem poderá formar chapa com a ex-ministra do Meio Ambiente. A inevitável força eleitoral do Estado de São Paulo faz com que o partido pense com carinho na hipótese de ter um empresário paulista como vice de Marina, seguindo o modelo de Lula em 2002, quando escolheu José Alencar (PRB). Sem rodeios, o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, diz que Roberto Klabin, que também preside a Fundação SOS Mata Atlântica, é o mais cotado. Penna também não esconde a grande preocupação com a candidatura de Ciro Gomes à Presidência, que, segundo ele, prejudica o projeto Marina 2010. "Ele não saindo a presidente, nos ajuda muito, porque vão dividir os votos do Nordeste", diz.
O presidente nacional da legenda garante que Marina não irá atacar, durante a campanha, a administração petista, da qual fez parte. "Nossa questão é pós-Lula. Não queremos discutir o governo dele. Lula já foi."

DIÁRIO - É possível um partido de porte médio como o PV garantir sozinho viabilidade eleitoral para Marina Silva?
JOSÉ LUIZ PENNA - Nós não estamos trabalhando apenas uma eleição. Queremos produzir um projeto para o Brasil, que passa por eleições. Estamos chamando a inteligência brasileira para um novo cenário urgente e a Marina vem neste contexto de construção de um projeto para o País. O partido não vai fazer acordos para ganhar e fazer mais do mesmo. Mas não sairemos sozinhos. O partido vai saber fazer na hora certa suas movimentações. Temos dificuldades programáticas com várias correntes que não absorvem a ideia do desenvolvimento sustentável, mas não excederemos no pragmatismo eleitoral.

DIÁRIO - Hoje o que se desenha é o recuo da ex-senadora Heloisa Helena da candidatura à Presidência e o apoio do Psol a Marina. O sr. acredita nessa possibilidade?
PENNA - O que nos une ao Psol é a luta pela ética. Um apoio do Psol em determinado momento da caminhada não nos desonra. Já tivemos lutas ao lado da ex-senadora Heloisa Helena. É possível a aliança no primeiro turno.

DIÁRIO - O tempo de TV na propaganda eleitoral gratuita pode influenciar as alianças com legendas?
PENNA - Nós temos cerca de dois minutos e nossa meta é tentar conseguir cinco minutos de TV, que a gente considera tempo suficiente para dar o recado na campanha. Para isso, vamos esperar as adesões, principalmente após o impacto causado pela filiação da Marina.

DIÁRIO - O senador Cristovam Buarque (PDT), quando disputou a Presidência, em 2006, acabou ficando marcado como o candidato de apenas uma bandeira (Educação). Não há risco de isso ocorrer com Marina, em relação ao Meio Ambiente?
PENNA - De jeito nenhum. Só os inimigos de uma atitude política avançada separam o Meio Ambiente do social. Nossa questão é socioambiental. Naturalmente no jogo político, os conservadores tentam nos empurrar para a administração do mico-leão-dourado, mas essa não é nossa praia.

DIÁRIO - O PV pensa em uma chapa puro-sangue ou pode entregar a vice para um aliado?
PENNA - A gente não tem ideia de fazer esse tipo de aliança (entregar a vice). Nossa ideia é comprometer o empresariado e atrair um grande empresário paulista para a vaga, com a entrada no PV. Dessa forma, deve ser chapa-pura.

DIÁRIO - O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, seria opção?
PENNA - Nunca falei com ele sobre isso nem Marina e não sei se onde vêm os comentários que o colocam nesta condição. Falo sobre a possibilidade de ser um empresário paulista principalmente porque o Estado tem uma força muito grande e uma enorme densidade eleitoral. Eu sinto no empresariado de São Paulo muita vontade de acertar, de fazer produção com responsabilidade ambiental.

DIÁRIO - Tem algum nome que o sr. considera ideal?
PENNA - Roberto Klabin, por exemplo, que é um empresário e luta na questão ambiental (Klabin preside a Fundação SOS Mata Atlântica) . Esse é um grande nome, mas tem outros que deverão procurar o partido. Nós não teremos dificuldade.

DIÁRIO - De forma geral, quando se fala no empresariado, não se associa diretamente à questão ambiental. Isso não pode causar conflito?
PENNA - Conflito sempre é bom. A gente tem de travar uma luta contra o preconceito. Por exemplo, não existe coisa pior hoje para a sociedade do que político. Mas como pode existir uma sociedade sem política? Acho que a atividade política é a mais nobre porque se dedica à sociedade. Momentaneamente, estamos vivendo um momento de descrédito.

DIÁRIO - Como seria um eventual governo Marina, com um Senado e Câmara Federal em total descrédito?
PENNA - Não é sempre que o Parlamento atrapalha o País. Mas é claro que é necessário haver mais compromisso. O que eu acho é que as Casas são o reflexo da sociedade.

DIÁRIO - O Senado hoje é o reflexo da sociedade?
PENNA - É sim. Ou você tem ilusões?

DIÁRIO - Voltando a Marina, o sr. acredita que ela tiraria mais votos do PT ou do PSDB?
PENNA - Nós acreditamos que vamos para o segundo turno em cima dos votos conscientes dos brasileiros. Não quero nem saber de quem tira voto. Queremos fazer 25%, ir para o segundo turno e ganhar a eleição. O que digo é que a única pessoa que impede o crescimento da Marina no Nordeste é o Ciro Gomes (PSB). Ele não saindo a presidente, nos ajuda muito, porque vão dividir os votos do Nordeste.

DIÁRIO - O fato de ela vir do PT não resultaria em migração maior dos possíveis votos a Dilma Rousseff?
PENNA - Não é a minha interpretação. Estava sendo montado um projeto para uma vitória no primeiro turno, com apenas duas candidaturas e Ciro disputando o governo de São Paulo. Seria Serra ou Dilma. Isso é muito ruim.

DIÁRIO - Logo após a filiação de Marina, várias lideranças do PT declararam que ela poderá tirar mais votos do partido.
PENNA - Isso é muito precipitado. Foi mais pelo inesperado. Ninguém sabe também qual será o desempenho do Ciro e de quem irá tirar votos.

DIÁRIO - Não há risco de a candidatura Marina resumir-se a formadores de opinião?
PENNA - Não. Ela tem uma identidade grande com a população brasileira. É negra, humilde, mulher. É muito mais povo que Dilma e Serra.

DIÁRIO - Como a Marina irá atacar, durante a campanha, um governo do qual ela fez parte por mais de cinco anos, como ministra do Meio Ambiente?
PENNA - Isso está assumido. Ela não vai criticar o governo Lula. Também acho difícil a posição do PT em relação a ela. Nossa questão é pós-Lula. Não queremos discutir o governo dele. Lula já foi.

DIÁRIO - Mas em algum momento terá de haver confronto e Marina terá de dizer que sua candidatura representa o crescimento e não a de Dilma.
PENNA - É claro que será dito. Nós convidamos a Marina ao partido por razões que não convidaríamos a Dilma. Mas o efeito já aconteceu e a Dilma teve de falar sobre desenvolvimento sustentável.

DIÁRIO - O partido irá reivindicar na Justiça o mandato da deputada estadual Vanessa Damo, que anunciou desfiliação do partido?
PENNA - De jeito nenhum. Pode ir embora com todo carinho. Em vez de enfrentar dificuldades internas, ela prefere a política tradicional. Para não ter surpresas, prefiro acreditar no fim de linha. Foi um casamento que não deu certo.

DIÁRIO - A administração do ex-prefeito de Mauá Leonel Damo, que deixou o partido antes de ser expulso, decepcionou o partido?
PENNA - Ele não tinha o direito de não se candidatar ou não indicar nome do PV na eleição do ano passado. O Leonel nunca conseguiu nos explicar. Nos chateou demais.

Dilema do partido é definir futuro pós-eleição 2010

A um ano do maior teste eleitoral da história do partido, o PV sabe que o grande desafio não é encarar a tarefa de barrar o já manjado duelo plebiscitário PT X PSDB, mas sim garantir musculatura suficiente para resistir à eleição. Marina Silva entra no partido com pompas, mas sabe que tem a árdua missão de assegurar sobrevivência do partido pós-2010. A candidatura novidade surge como uma única flecha da legenda, que, caso acerte o alvo, coloca o partido no alto clero do cenário nacional, ao lado de petistas e tucanos. Mas, em caso de disparo sem direção, poderá levar a legenda ao ostracismo e a voltar a viver de vitórias isoladas e surpreendentes.

Inevitável a comparação entre a candidatura de Marina e sua antecessora na briga pelo Planalto, a senadora Heloisa Helena que, assim como ela, deixou o PT para tentar a sorte em outra agremiação.

Em 2006, Heloisa era a novidade, mas o discurso dela, muito vezes considerado raivoso e vazio, não resistiu ao rolo compressor da candidatura à reeleição de Lula e ao entusiasmo incomum do tucano Geraldo Alckmin. A ex-senadora alagoana ficou no meio do caminho. O fato é que o PV não é o Psol e Marina não é Heloisa. Mas, sem mandato, elas se assemelham. Marina poderia fazer o mesmo que Heloisa e tentar a volta ao cenário nacional pelo seu Estado natal, o Acre. Seria uma voz importante, mas isolada pelo menos durante dois anos. Um risco calculado tanto para o partido quanto para a presidenciável.




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