Setecidades Titulo Santo André
Cães comunitários correm risco de virar sem-teto
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
10/09/2012 | 07:00
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


Perninha, Menina e Alemão são da cor de caramelo. Seus olhos cansados brilham sempre que alguém se aproxima, e os rabos abanam sem parar. Eles não têm um dono único. Os três cães vivem há pelo menos cinco meses na Praça Rui Barbosa, no bairro Santa Teresinha, em Santo André. Recebem alimentação, banho e cuidados veterinários dos vizinhos, que providenciaram três casinhas de madeira para abrigá-los. No entanto, o trio está correndo o risco de virar sem-teto, já que o padre responsável pela igreja da praça quer expulsá-los dali, segundo a comunidade.

A dona de casa Lucy Léa Trindade Martins, 70 anos, é uma das cuidadoras dos simpáticos bichinhos. Ela, que tem 13 animais em casa, todos recolhidos da rua, não pode levá-los para casa, mas gasta R$ 200 com eles por mês, divididos entre ração, remédios e banhos quinzenais em pet shops da região. "Fiz a castração da Menina, além do tratamento contra sarna", diz ela, que é integrante da Uipa (União Internacional Protetora dos Animais) há 15 anos.

A vizinha Maria Aparecida Silvestrim, 59, também ajuda no tratamento de um dos cães, o Perninha, que tem epilepsia e precisa tomar medicamento para controlar as convulsões. Os comprimidos são ministrados em pedaços de salsicha, que o cãozinho devora. "Gasto R$ 20 em cada caixa do remédio, e também contribuo com ração e carinho."

A jornaleira que trabalha na banca da praça, Aline Andreza do Amaral, também gosta da companhia dos animais. "Eles protegem a gente de pessoas estranhas, mas são bastante dóceis com quem cuida deles e dá atenção. Não queremos que eles saiam daqui", garante.

Conforme a comunidade, porém, o desejo do padre Jorge Wasilewski, responsável pela paróquia Santa Teresinha, não é o mesmo. "Já mudamos as casinhas de lugar cinco vezes porque ele não quer que fique perto da igreja. Mas agora elas estão do outro lado da rua, na calçada dos fundos da escola. Temos autorização do diretor, mas o padre continua a reclamar", afirma Lucy. "A vizinhança adotou esses cães, eles se tornaram comunitários e têm direitos. Não podem ser expulsos assim."

Ela tem razão. A situação de Perninha, Menina e Alemão é reconhecida pela Lei Estadual nº 12.916. Conforme o artigo 2º, eles são cães comunitários, ou seja, estabeleceram com a comunidade em que vivem laços de dependência e de manutenção, embora não possuam responsável único e definido.

SUJEIRA - Questionado por telefone sobre a reclamação dos vizinhos, o padre afirmou que os cães entram na igreja para fazer sujeira. "O que você faria se tivesse um monte de cachorros na porta da sua casa? Não mandaria eles embora?", questionou, irritado. Em seguida, no entanto, disse que não pediu para tirar os animais de lá.

As cuidadoras garantem que mantém a higiene no entorno da praça. Enquanto a equipe do Diário esteve no local, não viu restos de comida ou fezes espalhados ao redor da igreja. "Eles não entram lá, não. E só fazem as necessidades onde tem mato, a gente procura recolher quando vê. Também evitamos dar comida, só ração para não fazer sujeira e atrair roedores", garante Lucy.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;