Militantes chilenos cobram nova constituição e brasileiros lutam pela revisão na Lei da Anistia
Os militares chegaram ao poder em diversos países da América Latina entre as décadas de 1960 e 1970, mas as marcas da ditadura continuam vivas na sociedade latino-americana. As influências militares nos dias atuais unem Brasil e Chile, países do continente que sofreram as mais violentas repressões, são realidade, assim como a sede de Justiça.
O seminário internacional para discutir a ligação entre brasileiros e chilenos no período militar, organizado pelo projeto Acorda ABC, ontem, em Santo André, deixou claro que os dois povos ainda tentam superar os anos de chumbo. O Chile luta para mudar sua constituição que foi elaborada pelo general Augusto Pinochet, autor do golpe militar em 1973. O Brasil batalha para conseguir a condenação de militares e torturadores através da revisão da Lei da Anistia, aprovada em 1979.
O fim do regime chileno não colocou um ponto final na forma de oferecer serviços públicos. A educadora Camila Donato Pizarro disse que é inaceitável viver numa sociedade regida pelas leis criadas pelos militares. “Estamos falando da mesma constituição que criou a ferro e fogo a ditadura. Temos que conviver com Educação, Cultura e direitos humanos previstos daquela época.”
O dirigente da CUT no Chile Jose Figueroa ressaltou que os movimentos sociais no país continuam marginalizados porque a constituição chilena permite. Se uma pessoa quiser concorrer ao cargo eletivo, ela não pode ocupar função sindical, por exemplo. “Os direitos humanos precisam ser para todos. A soberania precisa ser preservada”, declarou. Cerca de 300 sindicalistas capturados pelo regime continuam desaparecidos.
Moises Labraña é um sindicalista que conseguiu escapar das garras da ditadura. Fundador da CUT chilena e dirigente da juventude comunista é filho de militar. Ele defendeu a luta pela independência latino-americana. “Parece contraditório dizer que minha família era de militares e eu militei contra a ditadura, mas muitos policiais foram fuzilados por não concordarem com as ordens do general (Pinochet). Precisamos deixar um legado para que nunca mais a América Latina seja dominada por um estado imperialista”, ressaltou.
O antropólogo e decano da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade do Chile, Osvaldo Torres Gutierrez, avaliou que o resgate da lembrança dos presos, exilados e torturados é capaz de apagar a marca institucionalizada dos militares na sociedade. “A memória é combativa e é ela que vai nos reconduzir a redemocratização do país”, analisou o professor.
Gutierrez destacou que a política de Pinochet teve quatro eixos: tratamento hostil aos estrangeiros, execução de pessoas ligadas aos movimentos de esquerda, repressão e tratamento arbitrário dos chilenos no exílio. “Não estamos buscando restos do passado. Somos o presente e com isso poderemos pensar no futuro”, concluiu o antropólogo.
ANISTIA
Os depoimentos dos brasileiros no seminário clamavam por justiça. O professor mauaense Olivier Negri reivindicou a revisão da Lei de Anistia, que isenta os militares de responder pelos crimes contra os direitos humanos. “Não prego espírito de revanche, mas não é justo saber onde moram os meus torturadores. Vivem numa boa, anistiados e ganhando salário do Estado. Precisa acabar com essa pouca vergonha”, esbravejou.
No Chile, 59 militares que atuaram no regime estão presos. “Estão em prisão de luxo e vivem como se fossem pessoas livres”, reclamou Camila Donato.
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