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Grande ABC ainda tem desafio de alfabetizar 66 mil pessoas

Apesar de iniciativas dos governos, 2,4% da população não sabe ler nem escrever

Por Juliana Stern/Especial para o Diário
19/08/2018 | 07:32
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Denis Maciel


Apesar de cinco das sete cidades serem reconhecidas pelo MEC (Ministério da Educação) por terem alcançado baixos níveis de analfabetismo, a região ainda conta com pelo menos 66.030 pessoas sem saber ler e escrever. Embora existam iniciativas voltadas aos moradores que desejam aprender o básico, como é o caso da EJA (Educação de Jovens e Adultos), prefeituras e a rede estadual têm dificuldade em atrair e manter os alunos.

O cenário da região em relação ao tema é o mesmo de há quatro anos, quando, em 2014, cinco cidades – com exceção de Diadema e Rio Grande da Serra – foram contempladas com o Selo Município Livre do Analfabetismo pelo MEC, por apresentarem taxas menores ou iguais a 4% de pessoas com 15 anos ou mais sem saber ler e escrever.

Diadema e Rio Grande da Serra têm, respectivamente, índices 4,7% e 5,7% de analfabetos. Com isso, juntas, as duas cidades concentram pelo menos 15.656 pessoas que não conseguem ler uma placa de trânsito sequer.

Já os demais municípios conseguem superar até mesmo a meta do PNE (Plano Nacional de Educação) para 2015, que mirava taxa de 6,5% de analfabetos por cidade. Juntos, Santo André (2,88%), São Bernardo (3%), São Caetano (1,55%), Mauá (2,8%) e Ribeirão Pires (4%) têm ao menos 50.374 pessoas com 15 anos ou mais analfabetas.

Na tentativa de reduzir esses números, as administrações estadual e municipais investem na EJA, que matricula pessoas a partir dos 15 anos em aulas do Ensino Fundamental I e II (1º ao 9º ano) e, a partir dos 18, em classes de Ensino Médio.

Exemplo de quem obteve no programa oportunidade de evoluir é a diarista Valdete Batista Soares, 44 anos, que mora na Vila Palmares, em Santo André. Oriunda de Uiraúna, na Paraíba, ela aprendeu a escrever o próprio nome há apenas três anos.

A diarista se mudou para o Grande ABC há cerca de 20 anos, quando deixou a cidade de pouco mais de 15 mil habitantes, no Nordeste. Valdete conta que, antes de começar as aulas, o dia a dia em sociedade era desafiador. “Minha maior dificuldade era utilizar o ônibus público. Tentava saber qual era pelos números do coletivo, mas isso nem sempre funcionava. Tinha de perguntar”, lembra ela, cuja maior alegria, graças às aulas, foi aprender a escrever seu nome. “Fiquei muito feliz de ver meu nome escrito por mim. É uma conquista.” 

EJA perdeu 4,6% dos alunos em 3 anos

O programa EJA (Educação de Jovens e Adultos) voltado a pessoas a partir dos 15 anos que buscam recomeçar os estudos, vem perdendo alunos na região. Na comparação entre 2014 e 2017, a quantidade de matrículas na rede pública de unidades estaduais e municipais do programa observou queda de 4,66%, conforme o Censo Escolar do MEC (Ministério da Educação). Em três anos, o número de alunos no programa caiu de 27,2 mil para 25,9 mil entre as sete cidades.

As quedas mais significativas foram observadas em Santo André (23,6%) e Rio Grande da Serra (23,1%). Em contrapartida, São Bernardo e Ribeirão Pires registraram cenário inverso, com alta na quantidade de interessados na EJA no período, 5,34% e 13,44%, respectivamente.

Segundo a Secretaria de Educação de Santo André, a demanda por matrículas de EJA chegou a ser inexistente em várias regiões da cidade. Outro desafio, segundo a Pasta, é manter o aluno na escola até a conclusão dos estudos. Valdete Batista Soares, 44 anos, de Santo André, abandonou o programa por não conseguir acompanhar o conteúdo. “Matemática era muito difícil para mim. Não entendia nada e desisti.” <TL>




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